Um balanço da feira Intersolar South America 2023

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Mesmo em um ano no qual o mercado de geração solar fotovoltaica não deve ver um crescimento expressivo, a principal feira do setor continuou crescendo. A décima edição da Intersolar South America foi a maior já realizada, com 530 expositores e 50 mil visitantes nos três dias de evento (em 2022, foram 400 expositores e 44 mil visitantes). Nos corredores e estandes da feira, realizada na última semana, uma certa cautela, nova para um setor que vinha de crescimentos exponenciais ano a ano, se misturou à efervescência comum a esses eventos. 

Por um lado, o mercado não deve crescer expressivamente em 2023. Por outro lado, repetir o feito realizado no ano passado de adicionar 11 GW ainda seria suficiente para posicionar o país novamente entre os principais mercados fotovoltaicos no mundo neste ano.  

Em todo 2022, foram adicionados 8,2 GW de geração distribuída e 2,5 GW de geração centralizada. Em 2023, até agosto, já foram instalados mais 8 GW da fonte solar – sendo 5,2 GW de GD e 2,8 GW de GC. 

Fontes ouvidas pela pv magazine durante o evento veem que 2024 também deve repetir esse patamar de novas instalações e uma recuperação do crescimento deve vir a partir de 2025.

De fato, no longo prazo, ainda há muito espaço para a expansão da fonte, que atualmente corresponde a 15% da matriz elétrica nacional, com mais de 33 GW acumulados, sendo 23,2 GW na geração distribuída e 10,4 GW na geração compartilhada.  

“São 91 milhões de unidades consumidoras e apenas 3 milhões de unidades beneficiadas com GD”, destacou o presidente do Conselho da Absolar, Ronaldo Koloszuk, na abertura do Congresso. 

Modelo por assinatura e usinas de maior porte 

Enquanto as vendas de sistemas de pequeno porte em telhados caíram no primeiro semestre, há um aquecimento no mercado de projetos de geração distribuída de maior porte. Ainda podem ser conectadas, até o início de 2024, usinas com mais de 75 kW, com outorgas enquadradas na regulação anterior à lei 14.300, que é mais vantajosa para a modalidade de geração compartilhada.  

Os projetos por assinatura, que têm se popularizado, geralmente se enquadram nessa modalidade que, apesar de representar apenas 2,67% da capacidade instalada de GD (622 MW de 23,2 GW), já corresponde a 9,88% das unidades consumidoras que recebem os créditos (300 mil de 3 milhões).

Só em 2023, 88 mil novas unidades consumidoras passaram a receber créditos de geração compartilhada, de 2 mil sistemas, com uma média de 44 consumidores e 60 kW por usina, de acordo com os dados da Aneel. A Greener calcula que a modalidade tem potencial de atrair R$ 40 bilhões até o final de 2024. 

Projetos de autoprodução ou que atendam os novos consumidores que poderão migrar para o mercado livre a partir do próximo ano também devem ganhar tração.

Consolidação e profissionalização do mercado

Já o mercado geração solar distribuída de menor porte, que historicamente lidera o mercado brasileiro – são 18 GW de geração distribuída em sistemas com menos de 75 kW (até 74,99 kW), sofre especialmente com a falta de financiamento competitivo.

Esse mercado tem uma forte pressão por preço, o que gera um impasse diante da recente queda do custo dos módulos, de um lado, e os estoques das distribuidoras de equipamentos – as fontes ouvidas pela pv magazine falam de algo entre 2 GW e 4 GW.

O country manager da JA Solar, Fernando Castro, diz que, como o preço dos módulos caiu de aproximadamente US$ 0,25/Wp há um ano, para US$ 0,16/Wp atualmente, as distribuidoras de equipamentos que compraram quando os preços ainda estavam mais altos, estão sendo pressionadas a igualar a queda de custos, sendo levadas a fechar vendas até mesmo com margens negativas.

Esse cenário pode levar a uma consolidação e enxugar o número de empresas distribuidoras e integradoras do setor. A avaliação é a de que para atravessar esse momento, as empresas precisarão se profissionalizar, seja utilizando mais ferramentas digitais e especializadas, seja se reinventando para fornecer novas soluções para o consumidor de energia, nos diversos modelos de geração distribuída e centralizada.

Diversificação de negócios

Neste sentido, fabricantes, distribuidoras e empresas do setor apresentaram na Intersolar produtos e serviços que diversificam sua atuação e ecoam conceitos como o ecossistema e solução integrada de energia. Ou seja, além da geração fotovoltaica, oferecem baterias, carregadores de veículos elétricos e serviços de gestão, monitoramento e otimização. 

O Brasil ainda não tem um caso de negócios especialmente competitivo para baterias, mas isso deve mudar em cerca de dois anos, avaliam empresas ouvidas pela pv magazine. Fabricantes de módulos como a JA Solar e a Canadian Solar levaram seus sistemas de armazenamento. A Jinko Solar já forneceu sistemas de baterias para três projetos de pequeno porte no país. O segmento de consumidores rurais pode ser um dos primeiros a absorver essa nova tecnologia, por ter disponibilidade de crédito incentivado e necessidade de melhorar a qualidade de fornecimento da energia.

A carga tributária das baterias está acima de 80%, o que inviabiliza o mercado, destacou na abertura do Congresso o CEO da Absolar, Rodrigo Sauaia. O reconhecimento e a remuneração dos serviços ancilares, via regulação, o que poderia gerar uma remuneração extra e viabilizar a adoção mais massiva das baterias, que poderão prestar serviço da gestão da rede de distribuição, por exemplo.  

A própria Intersolar South America vai se basear nessas novas tecnologias para continuar crescendo, tendo anunciado para a edição de 2024 um novo pavilhão e um pilar dedicado à mobilidade elétrica. “Teremos em 2024 no The smarter E South America quatro pilares: geração solar, baterias e sistemas de armazenamento, gestão de energia e mobilidade elétrica. Vamos lançar a Power2Drive, que terá a feira, conferências e workshops técnicos”, antecipou o diretor-geral da Solar Promotion International, Florian Wessendorf.

Seguindo a tendência de diversificação, uma das maiores distribuidoras de equipamentos do Brasil, a Aldo apresentou em seu estande outras unidades de negócios do mesmo grupo, organizadas sob a marca Descarbonize, incluindo a Sol Agora, de financiamento, e braços de assistência técnica e de monitoramento.

Similarmente, o grupo Bono, apresentou o ecossistema formado por cinco marcas nas áreas de engenharia e projetos (Böno Energia), marketplace de serviços (Sunhub), distribuição de equipamentos (WHS), estruturação de ativos (Greenfield) e logística internacional (Prime Company). Outro exemplo é o grupo Tangipar, que concentra a distribuidora de equipamentos Solar Livre, a comercializadora Lótus Energia, a integradora Ilumisol e a fabricante de módulos fotovoltaicos Sengi.

Fabricação local

Estrutura de montagem da Fortlev, em polietileno.

Distribuidoras estão fazendo a própria estrutura de montagem e trackers, com a vantagem de ofertar ao mercado o kit solar financiável pelo Finame do BNDES, com módulos importados.

A Fortlev, por exemplo, sediada no Espírito Santo, apresentou sua nova estrutura de montagem Lastro Solar, em polietileno, que promete redução de 50% no tempo na construção de usinas em solo ou laje. Já a Sou Energy, sediada no Ceará, apresentou suas estruturas de fixação em poliéster reforçado com fibra de vidro. A MTR, distribuidora voltada para sistemas entre 1 MW e 5 MW, apresentou as estruturas fixas, skids e trackers de fabricação própria, localizada em Juiz de Fora, Minas Gerais. 

Em um momento no qual o desenvolvimento da indústria local volta à pauta, com o surgimento de uma discussão sobre quais elos da cadeia devem ser desenvolvidos primeiro ou terão mais competitividades, duas novas fábricas foram anunciadas na feira: a Trina Tracker está montando em Salvador (BA) uma fábrica de seguidores fotovoltaicos, para ampliar a oferta de fornecimento com os módulos importados. 

Já a também chinesa Livoltek, está instalando em Manaus (AM), uma nova fábrica de inversores.

Sobre a cadeia produtiva, Sauaia disse na abertura do Congresso que o país tem o potencial de ser um dos pólos de fabricação da cadeia produtiva, “sem criar barreiras artificiais e sem derrubar a redução do imposto de importação”.  

Fachada fábrica de seguidores da Trina Tracker na Bahia.

Imagem: Trina

Geração centralizada

Para a geração centralizada, além de garantir o acesso a linhas de transmissão, financiamento e licenciamento, um dos principais desafios será criar nova demanda, avaliou Sauaia. A participação da solar nos leilões de reserva de potência e o fornecimento para a produção de hidrogênio verde, que atende setores intrinsecamente difíceis de descarbonizar, podem ser novos vetores de crescimento para o segmento, além da abertura do mercado livre a partir de 2024.

 

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