Especial Armazenamento: Sungrow avalia leilão de baterias como divisor de águas para o mercado no Brasil

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Regulação, incentivos e modelos de negócio prontos para escalar: essa é a combinação que, segundo a Sungrow, pode fazer o Brasil destravar de vez o mercado de armazenamento de energia. Com previsão de realização em 2025, o primeiro leilão de reserva de capacidade com participação de baterias tem potencial para acelerar investimentos e colocar o país em um novo patamar no uso de soluções de armazenamento. Para a empresa, trata-se de um marco inédito com impacto direto sobre a atratividade e viabilidade econômica dos projetos.

Rafael Ribeiro, diretor da Sungrow Brasil.

Imagem: Marketing Sungrow

Presente no Brasil há mais de oito anos e com ambição de ampliar sua atuação local, a Sungrow enxerga o país como estratégico em sua expansão global. Em entrevista para a pv magazine Brasil para o especial de armazenamento, o diretor da Sungrow Brasil, Rafael Ribeiro, detalhou os planos da companhia, destacou os fatores que têm impulsionado a demanda por baterias e defendeu com firmeza a adoção de políticas públicas, incentivos e marcos regulatórios que reconheçam o papel do armazenamento na transição energética.

Empresa amplia atuação no Brasil e mira liderança no setor

Embora ainda não tenha uma fábrica de baterias em território nacional, a Sungrow opera com uma estrutura robusta no Brasil, que inclui suporte técnico completo, engenharia, comissionamento e centros de distribuição que garantem agilidade e atendimento em todo o país. Toda a produção de sistemas de armazenamento da companhia está concentrada em sua planta de Hefei, na China, uma das maiores do mundo, com capacidade atual de 75 GWh por ano, em expansão para 110 GWh.

Ribeiro afirma que a adoção de sistemas de armazenamento no Brasil vem crescendo de forma consistente, impulsionada por fatores como a busca por segurança energética, os limites da infraestrutura de distribuição e a maior inserção de fontes renováveis intermitentes. Segundo ele, esse movimento cria uma nova demanda por flexibilidade e confiabilidade na operação do sistema elétrico, lacunas que as baterias podem preencher com eficiência.

Demanda crescente e leilões abrem novas frentes

Para o executivo, o leilão de reserva de capacidade anunciado para 2025 pode ser um “divisor de águas” na história do armazenamento de energia no Brasil. Ele explica que, além de sinalizar uma mudança na forma como o setor elétrico brasileiro trata a tecnologia, o leilão pode viabilizar a inserção em escala das baterias na matriz. “Esse leilão representa uma ferramenta indispensável para destravar investimentos. Ele será essencial para reconhecer o valor dos serviços que as baterias oferecem ao sistema elétrico”, afirma.

A Sungrow também acompanha de perto os leilões voltados aos sistemas isolados, nos quais as baterias já se apresentam como alternativa mais econômica e eficiente em relação ao uso de diesel, especialmente em áreas de difícil acesso logístico. “Estamos preparados para apoiar esse desenvolvimento com soluções robustas, seguras e totalmente alinhadas com as necessidades do mercado brasileiro”, acrescenta.

Tecnologia própria e soluções integradas

A empresa trabalha exclusivamente com baterias de íon-lítio do tipo LFP (fosfato de ferro-lítio), tecnologia reconhecida por sua segurança, durabilidade e eficiência. As células são fornecidas por parceiros selecionados e submetidas a testes rigorosos. A partir daí, as demais etapas são feitas internamente: montagem de módulos e racks, desenvolvimento do sistema de gerenciamento de baterias (BMS), fabricação de gabinetes, integração com o sistema de conversão de potência (PCS) e montagem de estações de média tensão com transformadores e Ring Main Units (RMUs ou Unidade Principal em Anel).

“Somos uma das poucas empresas do setor que entregam uma solução completa e integrada, do PCS à bateria, com todos os componentes fabricados pela mesma empresa”, destaca Ribeiro. Para ele, essa verticalização oferece ganhos de compatibilidade, performance e confiabilidade, o que é especialmente importante em projetos de grande escala.

Portfólio no Brasil atende de C&I a utility-scale

No Brasil, o portfólio da Sungrow contempla soluções para diferentes portes e aplicações. Para o segmento comercial e industrial (C&I), a empresa oferece o PowerStack, um sistema plug-and-play, compacto, modular e de fácil instalação. Já para grandes usinas conectadas à rede, o PowerTitan 2.0 entrega alta densidade energética, refrigeração líquida e inteligência embarcada, com soluções padrão de 5,015 MWh e tempos de armazenamento ajustáveis entre duas e quatro horas.

A empresa também está desenvolvendo parcerias no país para operar com o modelo BESS as a Service, permitindo que clientes utilizem o sistema de armazenamento como serviço, tendência que reduz a necessidade de investimento inicial e facilita a adoção em novos mercados.

O que impulsiona o armazenamento de energia no Brasil

Além dos leilões e da regulação, o avanço da tecnologia e da economia de escala têm sido decisivos. “A queda dos preços das baterias de íon-lítio nos últimos anos mudou o jogo. Hoje, projetos de armazenamento são mais acessíveis e financeiramente viáveis em diversas aplicações”, diz Ribeiro.

Ele também cita o aumento da penetração de fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica, que torna necessário adotar sistemas que consigam armazenar excedentes e oferecer controle sobre o despacho de energia. Em paralelo, cresce a demanda por segurança energética em setores como saúde, data centers, agronegócio e indústria, que não podem depender de um fornecimento instável. “Em regiões onde a rede é frágil ou sobrecarregada, as baterias são a melhor resposta”, reforça.

Outro fator determinante é o aumento do custo do diesel, que compromete a competitividade dos geradores a combustão. Para sistemas isolados, o armazenamento já se apresenta como alternativa limpa, econômica e eficiente.

Participação ativa na regulamentação e três prioridades para o setor

Desde setembro de 2023, a Sungrow integra a Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (ABSAE) e tem participado das principais discussões regulatórias do setor. A empresa esteve presente nas consultas públicas que antecederam o leilão de 2025 e na primeira edição do Global Energy Storage Summit Brasil, evento que reuniu reguladores, representantes do governo e empresas para debater o futuro da tecnologia no país.

Ribeiro afirma que a empresa defende três pilares fundamentais para destravar o setor: a criação de políticas públicas que reconheçam o armazenamento como infraestrutura estratégica; a realização urgente do leilão de reserva de capacidade, com critérios técnicos adequados; e a definição de uma estrutura tarifária que remunere corretamente os serviços prestados pelas baterias, como controle de frequência, redução de picos e adiamento de reforços na rede.

“A ausência de uma estrutura de remuneração específica ainda é uma das maiores barreiras à viabilidade econômica de muitos projetos”, afirma. Para ele, o Brasil pode se tornar referência internacional em armazenamento de energia, desde que avance com celeridade na regulamentação. “Nosso compromisso é contribuir para a construção desse ambiente, trazendo tecnologia, experiência e soluções que acelerem a transição energética de forma segura, eficiente e escalável”, conclui.

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