As vantagens e desvantagens do Brasil na corrida pelos data centers

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Os debates sobre o crescimento dos data centers, especialmente diante da corrida pelo desenvolvimento da Inteligência Artificial, foram aquecidos nesta semana com o anúncio de um plano bilionário de investimentos dos EUA para o setor, com destaque para a energia solar como fonte de abastecimento de energia, e o anúncio dos resultados obtidos por uma IA chinesa.

Essa disputa tecnológica representa uma grande oportunidade para a geração renovável, porque a demanda por eletricidade desses empreendimentos é massiva. . Em 2024, por exemplo, a Microsoft assinou um dos maiores contratos corporativos de compra de energia (PPA) de todos os tempos para energia renovável, para mais de 10,5 GW de capacidade nos Estados Unidos e na Europa, que demandarão mais de US$ 11,5 bilhões para serem construídos.

Com sobra de energia renovável, o Brasil também vem se preparando para atrair esse segmento.

No país, a procura dos investidores potenciais é por locais próximos de onde há excedente de geração, por um lado, e também próximos da carga, com um sinal locacional interessante para a tarifa de rede, comenta a sócia da TSE Consulting, Ana Carolina Rennó Guimarães, que vem assessorando interessados em trazer data centers para o Brasil. De acordo com a consultora, os potenciais investidores buscam tanto a proximidade com a carga de energia, nos grandes centros de consumo, quanto escalabilidade futura, o que representa vantagens e desvantagens para diferentes regiões do país.

Carolina Rennó, sócia da TSE Consulting.

Disponibilidade de conexão e escalabilidade dos projetos

As duas principais preocupações em relação à integração de grandes data centers na rede elétrica brasileira são a conexão às redes de distribuição e transmissão e o longo processo de acesso à rede. 

Rennó observa que os EUA já estão enfrentando problemas com a estabilidade da rede devido à adoção em larga escala de data centers, e que o Brasil precisa abordar essa questão proativamente antes que se torne um grande problema.

 “A infraestrutura de rede é um problema no Brasil e no resto do mundo. A nossa dificuldade é o tamanho do Brasil que, em comparação com os outros países, gera a necessidade de um planejamento da infraestrutura mais organizado. São grandes linhas e grandes blocos de energia. Essas cargas normalmente tendem a entrar ou pedir acesso na região Sudeste/Sul que já são regiões carregadas do ponto de vista de carga e onde a gerir essa infraestrutura é mais complexo”, comenta a consultora. Ela diz que essas regiões atraem também pela densidade populacional e oferta de mão de obra dedicada e especialista, além de dispor de capacidade de produção. Entretanto, têm uma disponibilidade menor de terrenos, o que pode prejudicar a escalabilidade futura dos projetos.

Além disso, Rennó destaca o longo processo atual para obtenção de licenças e aprovações, o que pode dificultar o rápido crescimento da indústria no país.  O que a gente nota hoje é que existe um descompasso entre a necessidade cronológica desse tipo de carga, que é exponencial, e a capacidade normal do sistema de gerar a infraestrutura necessária. É desafiador para a EPE, para o Ministério de Minas e Energia, a Aneel e para o ONS também enxergarem esse contexto novo de uma demanda exponencial e conseguir atender com qualidade.” 

Grande potencial renovável e um setor organizado

Apesar do desafio de planejar a conexão dessas grandes cargas, o Brasil tem várias vantagens para atrair investimentos em data centers. A sócia da TSE Consulting menciona as regras claras para o setor de energia; o grande potencial de energia renovável do país, que oferece energia competitiva para os projetos e adequação a metas ESG; e a capacidade do país para acomodar investimentos em data centers de grande escala. 

“É mais fácil aprovar investimentos nos locais onde você tem melhores infraestruturas para fornecer esses insumos para o data centers. Esses grandes blocos de consumo poderiam estar em regiões mais próximos da geração, como o Nordeste, inclusive”, menciona Rennó.

Ela diz que é possível que em uma segunda onda de investimentos de data center no país a região Nordeste seja mais buscada por concentrar a oferta de abastecimento de energia renovável e ter mais disponibilidade de terras.

“Hoje a gente olha para os data centers, mas a gente ainda não está pensando no volume de processamento de dados que a IA vai trazer. Quando a IA de fato estiver dentro dos data centers, esse crescimento de carga vai ser absurdo. E aí eu acho que entra numa segunda onda de colocação desses data centers próximos de regiões onde você tem mais geração”. 

Pontos-chave para a integração de grandes data centers à rede elétrica brasileira 

  • Planejamento para crescimento exponencial: os data centers têm uma taxa de crescimento rápida, dificultando o planejamento da infraestrutura necessária.
  • Garantia de comprometimento: é difícil garantir que as empresas que solicitam conexões realmente sigam com seus projetos, levando ao desperdício de investimento em infraestrutura.
  • Gerenciamento de flutuações de carga: os data centers têm uma demanda de energia alta e frequentemente imprevisível, o que pode causar instabilidade na rede.
  • Garantia da estabilidade da rede: a desconexão repentina de um grande data center pode impactar significativamente a estabilidade da rede, potencialmente levando a apagões.
  • Equilíbrio do desenvolvimento regional: embora a região Sudeste seja atualmente o foco principal para o desenvolvimento de data centers, a região Nordeste oferece potencial para escalabilidade e custos mais baixos, mas requer consideração cuidadosa de seus desafios únicos. 

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