O Brasil já tem pelo menos 12 GW de demanda de capacidade de conexão à rede por parte de data centers. Só o Ministério de Minas e Energia mapeou 9 GW de pedidos de conexão à rede básica de transmissão. Além disso, as distribuidoras de energia também podem receber pedidos em suas áreas de concessão para conexão de projetos à rede de distribuição em locais de fronteira com a rede básica.
Os pedidos de conexão de data centers à rede de distribuição da CPFL já chegam a mais de 3,5 GW, segundo o CEO da CPFL Energia, Gustavo Estrella. Em webinar realizado pela Empresa de Pesquisa Energética sobre o tema, o executivo disse que, até agosto, entre as áreas da CPFL Paulista e Piratininga, havia quase 2 GW de pedidos.
“Praticamente dobrou desde agosto, o que mostra a pujança e a velocidade dessa indústria. Então temos o desafio de entender o que fazer, do lado do setor energético para atender essa indústria”, disse Estrella. Ele observa entretanto que o procedimento padrão para a análise do pedido é mais demorado do que a necessidade apresentada pelos clientes. “Para esses 3,5 GW, internalizamos a informação, vemos os sites que o cliente está pedindo a conexão, fazemos o estudo caso a caso. Esse processo é descasado com a necessidade da indústria temos uma janela aberta para atração que não vai ficar aberta para sempre.”
Para o CEO da CPFL Energia, caso o Brasil decida que quer se tornar um hub de processamento de dados e atrair essa indústria, é necessário criar um tratamento especial ou diferenciado para o acesso dos projetos à rede de transmissão e de distribuição.
“Se a gente fizer o investimento de transmissão e distribuição necessário para disponibilizar 2 GW de capacidade adicional, no pior cenário, em que nenhuma empresa aparece para de fato conectar os data centers, o impacto na tarifa seria de 0,1%”, comenta. “Nosso risco é relativamente baixo do ponto de vista do impacto tarifário e muito pequeno também do ponto de vista de ninguém tomar a capacidade caso ela esteja disponível.”
As distribuidoras atualmente são levadas pela regulação a não sobrecontratar o sistema de transmissão. “Quando vem um pedido aqui, eu tenho receio da minha sobre contratação de Must, quando eu tenho uma frustração de 100 MW em uma região x da minha área de concessão, vai estourar o meu MUST, não tem jeito. Então eu sou muito conservador. Isso significa demora no processo, o que não é compatível com a expectativa de atrair essa indústria”.
Além disso, destaca o executivo, esses projetos representam a criação de uma nova demanda por energia renovável. “[Atender uma deamanda de processamento de dados para exportação] nada mais é do que exportação de energia. Hoje temos 20% de sobreoferta, é nossa chance de ter um crescimento de consumo exportando energia limpa. É isso que essa indústria demanda, os clientes deles demandam energia limpa Google, Microsoft, Amazon, quando me pedem energia pedem energia limpa ou com I-REC, ou comprovadamente energia renovável.”
Política Nacional para atração de data centers
Representantes ministeriais apontaram a necessidade da criação de uma política nacional para a atração de data centers que enderece não apenas esses gargalos energéticos como também tributários e que olhe para o desenvolvimento de uma cadeia de produtos e serviços local, com redução de importação.
O assessor especial do Ministério da Fazenda, Igor Marchesini, citou que atualmente, 60% da necessidade de processamento de dados do Brasil é atendida por serviços de fora.
Para ele, uma política nacional bem sucedida levará o Brasil a se tornar não apenas uma referência de data center sustentável, sem consumo de água, com consumo de energia 100% renovável, eficiência energética, sem ruído, com impacto social comprovado, mas também dará ao ecossistema digital nacional uma vantagem competitiva, “porque tem que ser mais barato rodar e treinar um modelo de IA no Brasil do que fora, é nesse sentido que estamos tentando desenhar a política”.
Já a coordenadora geral de IA e tecnologias emergentes do Ministério de Desenvolvimento Industrial e Comércio, Alause Pires, disse que a pasta está olhando para o desenvolvimento de toda a cadeia, a jusante, com os equipamentos de TI, e a montante, incluindo os serviços de nuvem.
“Temos visto um esgotamento da capacidade de atendimento dos principais hubs mundiais de data centers. A gente tem observado, em alguns estados nos EUA, uma espera de até oito anos para a instalação desses data centers. E ao mesmo tempo há um aumento da demanda de serviços de inteligência artificial”, observa Pires. Ela pondera que o cenário joga uma pressão sobre a indústria de data centers em relação ao seu consumo de água e energia e que o uso desses recursos nacionais deve ser acompanhado por contrapartidas. “O Brasil tem sim energia limpa e recursos para atender essa indústria, mas vamos trazer a qualquer custo? Um dos pilares da nossa proposta é o adensamento dessa cadeia produtiva e a redução da dependência de importações. Temos pensado no MDIC um selo data center Brasil, para pensar a eficiência energética dos equipamentos, uso eficiente de recursos hídricos, redução de ruídos.
Os incentivos ao menor consumo de água e o adensamento da cadeia local de fornecedores são alguns critérios que poderão ser considerados pelo BNDES para conceder financiamento aos projetos de data centers interessados em se instalar no Brasil. A chefe do Departamento de Produtos e Desenvolvimento de Cadeias Produtivas do BNDES, Natasha Gallota, observou que a maioria desses projetos é acompanhada de projetos de geração renovável, que já têm condições e linhas de financiamento específicas do banco.
O presidente da Associação Brasileira de Data Centers, Renan Lima Alves, reforçou o curto espaço de tempo para implementação dessas políticas. “A oportunidade que hoje a gente vê é de curto prazo. As localizações dos data centers de treinamento estão sendo escolhidas agora. Se a gente não conseguir capturar essa oportunidade em dois, três anos, esses data centers serão realocados na Colômbia, Índia, Austrália. O Brasil tem realmente uma série de atributos que são únicos nesse momento, para atrair uma indústria com valor agregado e renda per capita muito grandes. Mas se não tivermos uma política de estado, vamos perder para outros países”, disse. “A transmissão que requer um leilão não vai resolver o nosso problema de dois, três anos”, alertou.
A EPE disponibilizou em seu site o Portal de Coleta de Dados de Data Centers para subsidiar as decisões e políticas do governo para incentivar essa indústria, especialmente do ponto de vista de planejamento da oferta de conexão.
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