Geração local e integração de novas tecnologias devem estar no foco das empresas para 2025

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As empresas que atuam no setor de energia fotovoltaica precisam se adaptar ao novo patamar de preços do setor, com os módulos sendo negociados abaixo dos US$ 0,09/Wp no mercado chinêssem incluir custos logísticos e fiscais. As recentes quedas nos preços dos módulos fotovoltaicos tornam, por outro lado, os investimentos em novos sistemas mais atrativos e destravam aplicações que antes não eram competitivas.

Considerando o cenário em que é preciso vender mais para ter o mesmo faturamento com solar, as empresas precisam considerar novas aplicações e novas tecnologias no seu planejamento, disse o presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, em entrevista à pv magazine durante a Intersolar 2024. O foco das empresas, avalia, deve se voltar para o consumo local e redução de injeção de energia na rede, tanto devido ao início da cobrança do uso da rede quanto pelas alegações de inversão de fluxo de potência por parte das concessionárias de distribuição.

O armazenamento, que deve ter um papel importante para esse tipo de configuração de sistemas, deve ter uma primeira regulamentação publicada pela Aneel até o final de 2024, destaca Sauaia.

O Brasil deve adicionar em 2024 aproximadamente o mesmo patamar de capacidade solar que adicionou em 2022 e 2023, de 10 GW a 12 GW. Na sua visão, é possível que ocorram novos crescimentos exponenciais no volume anual de capacidade adicionada?

É importante a gente entender que a manutenção do volume de projetos a serem instalados é positiva, porque está num patamar bastante elevado. Esse ano o setor inclusive surpreendeu. A nossa projeção inicial era de que o mercado seria, em 2024, menor que em 2023. E não é isso que a gente está vendo até o momento. Por outro lado, como os preços dos equipamentos caíram muito, a movimentação financeira do setor para ter aquele mesmo volume de negócios precisaria continuar crescendo. Então o que a gente vai ver efetivamente é que as margens foram apertadas, empresas tiveram faturamentos menores mesmo vendendo a mesma quantidade de projetos, de sistemas, de equipamentos e isso afeta o planejamento delas.

Então, eu diria que esse é um ano de muita reflexão e que as empresas planejem um 2025 levando em consideração essas mudanças nos seus modelos de negócio, mas também se preparando para incorporar novas tecnologias que podem gerar novas receitas que não estavam presentes no passado. Isso também significa abarcar novos segmentos de mercado que antes não eram considerados como prioritários porque o preço da tecnologia ainda estava mais elevado e a sua aplicação junto a esse segmentos não eram tão recorrentes.

Quais seriam essas aplicações?

Uma tendência clara que a gente vê são sistemas fotovoltaicos que gerem mais energia para consumo local e reduzam a injeção de energia na rede. Isso porque, por um lado, nós temos a continuidade daquele pagamento gradual da tarifa de uso do sistema de distribuição como decorrência da lei 14.300 de 2022, então minimizar essa injeção na rede ajuda a proteger o valor da energia gerada pelo sistema fotovoltaico. Por outro lado, nós temos ainda os desafios com inversão de fluxo de potência com a injeção dessa energia na rede. Então a geração local, especialmente naquele perfil de consumidores com consumo diurno maior, e o foco em modelos de negócio para buscar esses consumidores podem ser uma estratégia interessante.

E a combinação de tecnologias de sistemas híbridos por exemplo nos inversores para poder abrir espaço para o armazenamento de energia elétrica. O próprio armazenamento de energia elétrica vem como estratégia de diversificação.

E muitas empresas solares agora olham para os carregadores elétricos. O Brasil, apesar de devagar, tem avançado na adoção de veículos elétricos e híbridos e isso abre um espaço também para esses carregadores e para a tecnologias de gestão de demanda, que ajudam a definir quando esse carro vai ser carregado, por exemplo no horário em que a energia tem um preço mais atrativo. É interessante para aqueles consumidores que estão na média, na alta tensão e tenham um preço horo-sazonal.

Na sua visão, qual será o papel da energia solar na expansão do setor elétrico nos próximos anos?

O mundo passa por um processo de transição energética que tende a se acelerar ao longo dos próximos anos. Infelizmente, os impactos das mudanças climáticas estão sendo cada vez mais sentidos. Para o Brasil, no entanto, isso representa também uma grande oportunidade e para energia solar fotovoltaica, mais ainda. Porque a nossa tecnologia é uma fonte competitiva, e uma fonte que pode ser aplicada em qualquer região do país, de Norte a Sul. Nesse sentido, as tendências que a gente vê para os próximos anos são uma aceleração do uso da energia solar fotovoltaica nas aplicações já tradicionais, uma vez que o preço da tecnologia continua a cair e o preço da energia elétrica, não para de subir acima da inflação. Então os sistemas que no passado tinham um payback de seis anos ou mais, hoje têm um payback de cinco anos ou menos e a atratividade da tecnologia só aumenta.

Ao mesmo tempo, a gente vê novas tendências e novos modelos de negócio, o mercado abraçando mais a geração compartilhada, aplicando a energia solar fotovoltaica junto a segmentos que ainda não faziam uso dessa tecnologia. E também iniciativas do próprio governo federal que ajudam a levar essa tecnologia para uma população que normalmente teria muita dificuldade de acessá-la, como as famílias mais vulneráveis dos programas habitacionais do governo. A inclusão da energia solar no programa Minha Casa, Minha Vida é uma vitória importante que a Absolar trouxe para o setor ao longo de vários anos de caminhada e deve gerar uma oportunidade de mercado de meio milhão de novos sistemas até 2026.

Além disso, a gente vê o armazenamento de energia elétrica, como uma forte  tendência e nós teremos até o final desse ano, conforme anunciado aqui neste evento, pelo diretor da Aneel, Ricardo Tili, a efetivação da primeira regulamentação de armazenamento de energia elétrica, resultado da fase 1 da consulta pública 39. E ele prometeu que com isso nós teremos de fato uma estabilidade, uma clareza para o mercado acelerar. Isso é fundamental, porque a gente vê que existe um grande interesse dos consumidores, dos investidores, dos financiadores, mas eles precisam dessa clareza para poder fazer investimento nessa frente com segurança jurídica e regulatória.

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