Uma avaliação do potencial de sistemas agrovoltaicos no Brasil

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Um grupo de pesquisadores brasileiros publicou um artigo na revista Applied Energy com uma avaliação do estado da arte da tecnologia agrivoltaica em todo o mundo e uma visão geral específica do Brasil.Embora os sistemas agrivoltaicos (AVS) tenham ganhado força globalmente, o país ainda está nos estágios iniciais de implementação, com apenas alguns projetos-piloto até o momento.

Mas os pesquisadores avaliam que as regulamentações existentes sobre geração distribuída e as oportunidades de financiamento oferecem potencial para a adoção de mais sistemas agrovoltaicos no Brasil, especialmente para os pequenos agricultores. Além disso, a adaptabilidade dos AVS pode gerar benefícios técnicos e sociais nas diversas regiões agrícolas brasileiras.

O AVS pode ser categorizado em duas configurações principais: sistemas elevados com produção agrícola abaixo do arranjo fotovoltaico e sistemas fotovoltaicos verticais no solo com culturas cultivadas entre fileiras de módulos fotovoltaicos. Portanto, as aplicações podem incluir produção agrícola e alimentar, produção pecuária, fornecimento de serviços ecossistêmicos e estufas solares.

“Entre as diversas aplicações, as configurações técnicas do AVS também variam, e seus benefícios podem variar desde o fornecimento de sombreamento, proteção contra geada, granizo ou calor extremo até a redução das taxas de evaporação. Essa ampla gama de configurações de AV pode ser um aspecto positivo da tecnologia para o Brasil, considerando a vasta diversidade de escalas de estabelecimentos agrícolas e características climáticas”, dizem os autores da pesquisa.

Além da versatilidade, os benefícios incluem a redução dos requisitos de irrigação e da erosão, a proteção contra geadas e granizo, o reforço da proteção das plantas e o aumento da eficiência da geração de energia, facilitando um melhor arrefecimento dos módulos fotovoltaicos e/ou aumentando a eficiência dos módulos bifaciais.

“Só agora o Brasil está despertando para o potencial do agriPV, especialmente para o pequeno produtor agrícola, onde a solar fotovoltaica pode agregar renda às famílias rurais que muitas vezes lutam para sobreviver apenas com suas atividades agrícolas e estão expostas a questões ambientais como secas, tempestades de granizo e inundações”, diz um dos autores da pesquisa, Ricardo Rüther, à pv magazine.

No entanto, na avaliação dos pesquisadores, será crucial enfrentar desafios como a adaptação da tecnologia às práticas e condições agrícolas locais, a falta de regulamentos ou diretrizes específicos sobre sistemas agrivoltaicos e a falta de profissionais especializados.

Com base em experiências internacionais, o Brasil pode aproveitar o AVS para promover o acesso à energia limpa e capacitar as comunidades rurais, unindo o seu potencial agrícola e energético às necessidades sociais críticas.

Rüther observa que o Ministério do Desenvolvimento Agrícola e Agricultura Familiar está preparando um programa para criar acesso ao financiamento de pequenas usinas fotovoltaicas para os pequenos produtores agrícolas.

O artigo “An evaluation of the potential of agrivoltaic systems in Brazil“, publicado na Applied Energy, inclui a localização e a descrição técnica detalhada de cinco projetos agrovoltaicos no Brasil, juntamente com informações sobre sua capacidade instalada, produção de energia, características agrícolas e informações disponíveis sobre os resultados.

Origem do conceito

A tecnologia agrivoltaica foi mencionada academicamente pela primeira vez em 1981 pelo professor Adolf Goetzberger e seu colega Armin Zastrow em uma publicação na revista Solar Energy. O artigo intitulado “On the coexistence of solar energy conversion and plant cultivation” serviu como passo inicial para a criação do conceito de sistemas agrivoltaicos. No entanto, este conceito permaneceu largamente esquecido durante muitos anos até que o primeiro sistema foi criado em 2004, construído no Japão por Akira Nagashima, que se referiu ao modelo como “compartilhamento solar”.

“Tive a oportunidade de fazer pós-doutorado no Fraunhofer ISE com Adolf Goetzberger e Armin Zastrow, que criaram o conceito de agriPV, numa época em que a tecnologia fotovoltaica ainda era muito cara.
Com o declínio dos custos da energia fotovoltaica, estou feliz por ver que isso está começando a acontecer em muitos lugares”, comenta o professor Rüther.

Impactos sociais

O Brasil enfrenta desafios tanto de insegurança alimentar como de pobreza energética, afetando particularmente as suas populações rurais e marginalizadas, apesar de ser uma potência agrícola global. Em números, 11% dos domicílios brasileiros, aproximadamente 8 milhões de unidades consumidoras, ainda vivem em condições de pobreza energética, e nas áreas rurais esse número chega a 16%. E mais de 60 milhões de brasileiros enfrentaram algum nível de insegurança alimentar em 2022, com os níveis mais graves afetando a população nas regiões Norte e Nordeste e áreas rurais

Ao mesmo tempo, o Brasil possui recursos excepcionais de radiação solar e a tecnologia solar fotovoltaica tem crescido rapidamente no país. A tecnologia agrivoltaica pode representar uma aplicação fotovoltaica promissora para um uso mais eficiente do solo, combinando a geração de energia com atividades agrícolas e criando oportunidades de geração de renda.

Solar no Agronegócio

A agrivoltaica é uma das diversas aplicações fotovoltaica no agronegócio. E os produtores rurais, que têm acesso a linhas de financiamento incentivado, terão um incentivo a mais para investir em geração própria de energia, com o fim de descontos tarifários a partir de 2024.

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