2023 é um ano de adaptação para o mercado da geração distribuída. No início do ano, a opinião comum era que essa adaptação seria ditada pela entrada em vigor do novo marco regulatória da lei 14.300. Hoje, o entendimento sobre o impacto da lei nas instalações e vendas, tal como a influência do cenário macroeconômico nas mesmas, amadurou e as opiniões evoluíram.
Entre janeiro e abril de 2023, a geração distribuída solar acrescentou 2,8 GW de potência. Em igual período de 2022, foram 2,1 GW. Já em 2021, as micro e miniusinas acrescentaram 1,2 GW. Ou seja, entre 2023 e 2022, houve um crescimento de 31% na capacidade adicionada de GD, menor que o observado entre 2021 e 2022, de 75%.
No webinar da pv magazine Brasil, “Geração distribuída em ano de adaptação”, contamos com Bárbara Rubim, vice-presidente de geração distribuída da Absolar, Camila Nascimento, diretora da WIN Solar, Fernando Castro, country manager no Brasil da JA Solar e Carolina Reis, diretora do Meu Financiamento Solar, para discutir o atual panorama do mercado de GD no Brasil.
“Se a gente olha só para o cenário de 2023, a gente pode perder de vista tudo o que se espera da energia solar”, disse Rubim. “E ao perder isso de vista, a gente pode ter um sentimento que a solar já atingiu o pico do que ela tinha para atingir no país, ou que agora a gente não tem crescimento mais expressivo pela frente. Mas isso não é verdade. A gente passou por um cenário no primeiro semestre de 2023 que foi realmente bastante desafiador, mas a gente espera uma retomada agora no segundo semestre, e a GD crescendo em 2023 com números bastantes expressivos”. Esse crescimento, acrescentou, é puxado principalmente pelo setor residencial. “A GD bateu outro recorde em maio, conectando 1 GW em 15 dias”, destacou.
A opinião dos palestrantes sobre o impacto da lei 14.300 foi unânime: a medida tornou o cenário mais complexo, tanto para o consumidor como para o integrador, mas não afetou significantemente o caso de negócio da GD.
“Muitas vezes quando a gente fala de remunerar riscos de distribuição, isso gera no consumidor um sentimento muito negativo”, disse Rubim. “Muito desse sentimento negativo se dá de um medo que se incutiu no mercado com a vinda dessa cobrança do pagamento da rede com a lei 14.300. Mas quando a gente olha proporcionalmente para a tarifa toda, esse pagamento acontece tão faseado e de maneira tão escalada ao longo dos anos, que a gente vai ver que o impacto que ele tem do ponto de vista de rentabilidade, de payback, é muito pequeno”.
Análise da Bright Strategies mostrou que o retorno para um projeto de autoconsumo de 5 kW, com simultaneidade de 50% no regime de GD I com a CPFL Paulista é de 3,5 anos. No regime de GD II, seria de 3,66 anos, um aumento de apenas dois a três meses no tempo de retorno.
Não obstante, o mercado de GD retraiu nos primeiros meses do ano. Por quê? “Reduziu-se o apetite de compra por parte do consumidor”, disse Camilaa Nascimento, da Win Solar. “O Brasil hoje está com alto endividamento, não só por isso, mas também fatores políticos, que contribuíram para que o próprio consumidor se retraísse. No entanto, o consumo que parou não foi da energia solar em particular, foi no Brasil como um todo. O mercado brasileiro desacelerou. Não tem a ver com a lei, e muito menos, na minha visão, com taxas de juro – a taxa Selic está alta, mas praticamente no mesmo nível desde agosto do ano passado”, acrescentou.
De acordo com Nascimento, o mercado vai recuperar devido a um capex de módulos fotovoltaicos mais baixo, que vai obrigar as distribuidoras a também baixar os preços e escoar o elevado número de estoque. “O capex está bastante reduzido, em mais de 20% em relação ao ano passado, então o payback reduziu em vários casos. O integrador precisa simular de novo, voltar para o cliente e mostrar que o momento para investir é agora”.
Fernando Castro da JA Solar explicou que um excesso de oferta de polissilício está levando a uma quebra brusca dos preços desse insumo, que se reflete, embora menos expressivamente, num preço de módulos mais baixo. “Há 6 meses, o preço estava a US$ 0,23/W FOB, hoje a gente já fala de US$ 0,20, e vai cair mais para US$ 0,19 ou US$ 0,18 até ao fim do ano, o que vai ajudar a viabilizar muitos projetos”, disse.
Na primeira metade do ano, as vendas para o segmento de rooftop caíram cerca de 60% em comparação com o ano passado, de acordo com estimativas de mercado mencionadas por Castro. “O maior problema eu acho que é a dificuldade do acesso ao crédito, não tanto a mudança da lei, porque o impacto foi muito pequeno. A dificuldade de acesso ao crédito não é exclusiva do segmento fotovoltaico, também afeta por exemplo o segmento automotivo e outros”.
Castro expressou confiança que o mercado de GD vai alavancar, talvez já no fim deste ano. “A tendencia é vender mais. Como a Camila disse, as distribuidoras estão acertando o preço do estoque para o nível atual, diminuindo margens de venda, o que vai forçar uma maturidade do mercado”.
Um cenário macroeconômico desafiador e a recessão do acesso ao crédito foram identificadas como os verdadeiros responsáveis pela retração do mercado de GD em 2023.
“A gente está experenciando uma situação macroeconômica bem complexa”, disse Carolina Reis, do Meu Financiamento Solar. “A gente teve uma queda brusca da concessão de financiamento aqui na empresa, não está permitindo o [banco] BVA aprovar um crédito para os clientes. Por outro lado, eu vejo que o interesse nas simulações que os clientes fazem na plataforma, para ver quanto custaria, só teve queda de 5%”, apontou.
“Isso é um lado que eu considero otimista. Quando a gente tiver possibilidade de abrir um maior acesso ao crédito, o setor retoma. Isso é um soluço no mercado, as empresas têm que se virar, têm que viabilizar a venda, diminuir valor financiado para que o cliente seja mais facilmente aprovado”.
Enquanto fica difícil fazer previsões concretas, Reis tem esperança que o cenário macroeconômico melhore nos próximos três meses, com economistas prevendo que a Selic baixe em setembro ou outubro. Entretanto, Reis deixa dicas para os integradores procurando otimizar propostas de financiamento.
“Quando você preencher um formulário, que já venha com os dados completos e corretos do seu cliente, com um endereço de telefone correto, para evitar fazer edições em propostas já aprovadas, porque qualquer edição está sensível hoje em dia. O cliente pode estar agora com um histórico pior e aí a análise de crédito roda outra vez e pode perder o crédito. Se der para diminuir um pouco o valor, negociar uma entrada com o seu cliente, já ajuda também. O open finance agrega bastante também, porque os bancos conseguem ver como está a saúde financeira do cliente, o que aumenta a chance de aprovação. A partir de agora, o integrador vai precisar de zelar muito pela carteira dele, entender que tipo de consumidor está trazendo para o banco”, concluiu.
Veja a gravação completa do webinar aqui.
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