Casa dos Ventos prepara projetos solares que somam 300 MW para hibridizar eólicas na Bahia

Fontes eólica e solar foram responsáveis pelo recorde de 27% da eletricidade na União Europeia em 2023

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A Casa dos Ventos pretende iniciar no final do ano a construção de dois projetos solares que somam 300 MW associados a dois complexos eólicos na Bahia, o Babilônia Sul, de 360 MW, já em operação, e o Babilônia Centro, de 553 MW, em construção. Solar Babilônia Centro terá 200 MW e Solar Babilônia Sul terá 100 MW. As usinas solares irão compartilhar o contrato de uso do sistema de transmissão e obtiveram o parecer de acesso recentemente, disse o gerente de Engenharia de Desenvolvimento Solar da companhia, Guilherme Castro, à pv magazine Brasil

Dificilmente um projeto solar vai olhar para o vento desde o início, normalmente os ativos solares mais competitivos não vão estar nas melhores regiões para ventos. Por outro lado, se você tem um parque eólico com uma área com características favoráveis para solar, pode ser interessante. É contra intuitivo na lógica do desenvolvimento começar pelo solar. Faz mais sentido ter um eólico competitivo e otimizar o uso da conexão com solar”, comentou Castro, em participação no Greener Summit 2024, realizado nos dias 07 e 08 de maio em São Paulo. 

A energia das usinas deve ser destinada para a autoprodução, modelo que tem viabilizado novos projetos em um cenário de baixos preços de energia praticados no curto prazo no mercado livre.

Dimensionamento adequado para usinas híbridas

Apesar da vantagem de compartilhar o contrato de transmissão, o risco de curtailment das usinas deve ser bem ponderado, avalia Castro, já que nesse modelo a geração das fontes fica limitada ao montante de uso do sistema de transmissão (MUST) contratado. “Naturalmente se há um limite, pode acontecer [o corte de geração], então o dimensionamento de solar é um ponto sensível”, disse o executivo. “Mas para quem tem um ativo eólico, solar pode ser uma boa oportunidade para por exemplo melhorar a performance do seu ativo e também para desenvolvedores solares que buscam parceiros que não querem necessariamente entrar no solar”, complementa.

A Casa dos Ventos instalou a primeira torre de medição solarimétrica em 2015, já vislumbrando a possibilidade hibridização com seus ativos eólicos. “Temos hoje a medição em praticamente todos os nossos parques eólicos”, comentou Castro. “Uma das principais dores é o dimensionamento da solar, para utilizar bem o Must. Não é uma tarefa fácil. Então o valor da sua medição é muito alto, é um dos pontos centrais porque soma a capacidade de geração e ela fica restrita àquele limite [do Must]. O eólico tem uma variação interanual muito forte. A solução é medir por muito tempo ou ter um histórico de operação longo, isso é um ativo muito valoroso para o dimensionamento de um híbrido”, complementa. 

Outro ponto de atenção é o cálculo do impacto do sombreamento de aerogeradores, que pode ser contornado com o distanciamento das usinas solares, já que no Brasil há uma disponibilidade maior de terrenos. Um desafio ainda não completamente resolvido, entretanto, é o dimensionamento do sombreamento intermitente das pás do aerogerador, que estão sempre em movimento. Algumas empresas têm considerado em seus estudos figuras de torres com um globo ou um disco, ele adiciona. 

Apesar do risco de curtailment que deve ser bem dimensionado, a solar contribui positivamente para a operação da eólica, com os inversores que controlam a energia reativa, por exemplo. “Em caso de usinas associadas, se o ONS mandar restringir, é mais fácil restringir a solar e manter a eólica por que os aerogeradores têm uma inércia mecânica”, comentou.

Essa contribuição para a operação eólica pode ser uma oportunidade para os integradores de solar. “Uma das principais dores do setor é a dificuldade de acesso ao grid. Para as empresas de solar que não têm expertise eólica, buscar um parceiro eólico que ainda não esteja olhando para isso pode ser uma oportunidade”, sugere. 

Castro comentou ainda que a Casa dos Ventos chegou a um overload ratio consideravelmente menor do que as usinas solares típicas. “Entre 1,1 e 1,15, a depender do valor do dólar e do painel. Já vimos de 20%, ou 1,2, nos casos de um curtailment que saia mais barato”. 

A alternativa de mitigar o curtailment com o uso de baterias ainda não se paga, mas está mais próxima disso, avalia Castro. “Usinas híbridas tem o tradeoff que é o curtailment, mas se você fez um bom projeto de engenharia e dimensionou bem, esses eventos de curtailment tendem a ser menos frequente e muito sazonais. A bateria poderia ajudar a entregar a energia flat, mas na nossa análise pelo preço hoje da bateria ainda não vale para otimizar. Mas existe uma aceleração da queda de custos [que pode viabilizar a alternativa]” disse o gerente da Casa dos Ventos no evento realizado pela Greener.

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