Retrospectiva 2025: BESS “as a service” avança no país a espera do LRCAP em 2026

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Enquanto o setor elétrico brasileiro ainda aguarda o Leilão de Reserva de Capacidade dedicado a sistemas de armazenamento em baterias — previsto para abril de 2026 e ainda cercado de incertezas regulatórias que podem comprometer a demanda — o mercado de Battery Energy Storage Systems (BESS) vem avançando de forma independente em aplicações comerciais e industriais (C&I) e “atrás do medidor”.

A abertura da consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em novembro para regulamentar o LRCAP de 2026 reforça que o leilão deve, enfim, viabilizar a contratação de sistemas de pelo menos 30 MW capazes de operar quatro horas por dia e contratos de 10 anos, com cerca de 18 GW de projetos prontos para cadastro — mas só começando a suprir a demanda a partir de 2028.

No entanto, especialistas alertam que barreiras como a forma de cobrança pelo uso da rede e a estabilidade jurídica continuam pendentes, o que pode limitar o potencial do leilão e, em parte, desviar investimentos para a demanda já observada no mercado comercial e industrial.

Demanda reprimida e perspectivas de mercado

Isso porque estudos já apontam forte interesse pelo armazenamento “atrás do medidor”. Um levantamento da Greener indica que sistemas de armazenamento junto ao consumidor devem atrair mais de R$ 22,5 bilhões em investimentos até 2030, impulsionados pelo crescimento da demanda por confiabilidade e maior segurança no fornecimento de energia.

No Brasil, essa movimentação se traduz em projetos que adotam o modelo as a Service, no qual o cliente paga pelo serviço de armazenamento sem imobilizar capital no ativo. A Brasol, por exemplo, anunciou que planeja investir R$ 150 milhões em soluções BESS as a Service para consumidores comerciais e industriais em 2025, assumindo o investimento inicial e riscos do projeto em nome do cliente.

Esse formato visa suprir a “demanda reprimida”, segundo Diogo Zaverucha, diretor da unidade de negócios de armazenamento da Brasol, transformando o Capex tradicional em Opex e oferecendo descontos na tarifa de energia ao cliente.

Casos e modelos no segmento C&I

Outras empresas também apostam no modelo serviço para ampliar a adoção do BESS no mercado brasileiro. A ION Energia afirma ter contratos em fase avançada de implantação, com projetos que variam de R$ 3 milhões a R$ 15 milhões, em setores como agronegócio, mineração e transporte urbano elétrico. A empresa trabalha com financiamento que elimina o custo inicial para o cliente e mantém a operação, monitoramento e manutenção dos sistemas.

Segundo o CEO Paulo Baraldi, “o armazenamento vai ocupar o lugar que o gerador a diesel ocupou por décadas”, destacando a redução de custos operacionais e a confiabilidade dos sistemas como diferenciais para o mercado.

Desafios de implementação e capacitação técnica

Especialistas ouvidos pela pv magazine Brasil enfatizam que a implementação de BESS para C&I exige uma abordagem consultiva e maior capacitação técnica, incluindo compreensão das necessidades do cliente, qualidade de energia, comportamento de carga e infraestrutura do local de instalação.

O CEO da Greener, Marcio Takata, observou que 2026 deve ser um “ponto de virada” para os negócios no segmento, impulsionado por fatores que tornam a adoção do armazenamento estratégico para a matriz elétrica nacional.

A venda de BESS, descrevem participantes, não é apenas tecnicamente complexa, mas envolve identificar problemas reais do cliente e combinar benefícios como time-shift (mudança de carga), peak shaving e melhoria da qualidade energética — o que reforça a utilidade do modelo de serviço para reduzir riscos financeiros do usuário final.

Caminho regulatório e expectativas

Embora o leilão com contratação de capacidade ainda esteja em gestação e sob influência de decisões regulatórias críticas, o dinamismo observado no mercado privado mostra que há espaço significativo para soluções de armazenamento crescerem independentemente do LRCAP.

A expectativa de consolidação do armazenamento na matriz energética — com projeções robustas de investimentos e adoção em diferentes segmentos — sinaliza que o Brasil caminha para um ambiente em que o BESS poderá ser peça-chave não apenas para flexibilizar o sistema elétrico, mas também para ajudar consumidores industriais e comerciais a reduzir custos e melhorar a resiliência diante de desafios operacionais.

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