Brasil precisa de infraestrutura de energia mais resiliente às mudanças climáticas, aponta EY

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As redes de distribuição de energia elétrica, uma infraestrutura crucial para a sociedade, têm sido muito afetadas pelos eventos climáticos extremos, cujos danos causados nos cabos de energia, geradores e transformadores resultam na queda do fornecimento de eletricidade.

Os dias de tempestade, com o registro de chuvas que ultrapassam 50 milímetros, aumentaram bastante na região metropolitana de São Paulo. Até a década de 1950, de acordo com estudo do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), quase não houve registro dessas chuvas, mas nos últimos anos, essa realidade mudou, com a precipitação atingindo 80 milímetros ou, em alguns casos, passando dos 100 milímetros em temporais que podem durar horas.

A projeção para os próximos anos não é animadora, segundo estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que projeta, para o período entre 2025 e 2034, aumento de 20% a 30% na ocorrência de tempestades severas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

“Essa é uma realidade que precisa ser considerada por todas as partes relacionadas com a atividade de distribuição de energia elétrica, sobretudo os reguladores desse serviço público e as empresas concessionárias que operam as redes. O uso de tecnologia, por meio da automação da rede elétrica, é a solução adotada por países como Japão, o que tem permitido evitar o desligamento da energia e recompor rapidamente o fornecimento em caso de necessidade”, afirma o sócio de Governo & Infraestrutura da EY-Parthenon, Alexandre Vidal.

Enquanto os japoneses ficam em média somente cinco minutos por ano sem energia, os brasileiros enfrentam 11 horas de interrupção da eletricidade. “Esse dado demonstra que há muito espaço para tornar nossa rede elétrica mais resiliente aos efeitos das mudanças climáticas. Temos observado em vários países uma adaptação da regulamentação do setor no sentido de incentivar as concessionárias do serviço de distribuição de energia a fazer os investimentos para aumentar a resiliência das redes”, completa o executivo.

Além disso, como forma de contribuir para o funcionamento eficaz da rede elétrica, o país incentivou a adoção pelos consumidores dos medidores inteligentes de energia, cita Vidal, com 30 milhões desses aparelhos instalados possibilitando ao consumidor mensurar em tempo real o uso do sistema de energia elétrica. “O propósito disso é incentivá-lo a consumir mais nas horas de energia sobrando no sistema, e não nos momentos de pico, recebendo incentivo de preço nesses horários de menor utilização. Esse movimento foi fundamental para viabilizar no Japão a abertura do mercado livre de energia para todos os consumidores, mesmo os residenciais, movimento que se inicia também no Brasil.”

A exigência de Planos de Resiliência que passam pela análise e aprovação prévia do regulador, além de outros mecanismos de regulação baseada em performance, tem garantido que os consumidores de energia elétrica de países como Japão, EUA e Itália possam usufruir de uma infraestrutura mais resiliente.

Ainda segundo Vidal, o Brasil, na COP30, poderá mostrar ao mundo seu exemplo de sucesso na geração de energia a partir de fontes renováveis, mas terá muito a aprender em como melhorar os esforços de adaptação climática na rede elétrica. Os dados mais recentes do Balanço Energético Nacional (BEN) indicam que a participação das fontes renováveis é de 88,2% na geração de energia elétrica, o que coloca o Brasil em posição de destaque com uma porcentagem muito superior à média global e à média dos países que fazem parte da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Ainda segundo esse documento, publicado pelo Ministério de Minas e Energia e pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), as fontes eólica e solar detêm 23,7% de participação na geração total de eletricidade do país – quase um quarto de toda a energia gerada pelo Brasil. Essa eletricidade limpa reflete em outros índices de sustentabilidade, como o da emissão de dióxido de carbono por habitante. Em 2024, o brasileiro emitiu em média duas toneladas de dióxido de carbono equivalente – apenas 15% do total emitido por cada americano.

Sustentabilidade no fornecimento para grandes consumidores

Ainda no contexto da COP 30, o Brasil deve assegurar que o aumento esperado da demanda por energia na produção de hidrogênio verde, em grandes data centers e na eletrificação setores como o transporte seja atendido por fontes renováveis. “Não adianta eletrificar os veículos utilizando os combustíveis fósseis como matriz energética. É até uma contradição, já que o veículo elétrico substitui justamente o motor a combustão. O crescimento na produção de veículos elétricos no Brasil tem sido consistente. Em 2020, eram dois mil por ano, passando a 210 mil no ano passado – crescimento superior a cem vezes nesse período. Raciocínio semelhante se aplica à inteligência artificial, que precisa de enorme processamento de dados para funcionar, exigindo o investimento em data centers sustentáveis. A IA, que veio para elevar a produtividade das empresas, pode inclusive ser aplicada para trazer soluções sustentáveis para o setor de energia.”

Vidal cita a criação do Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center, também conhecido como Redata, que tem como objetivo impulsionar o investimento em data centers, ampliando a capacidade do país de armazenagem, processamento e gestão de dados. Para ter acesso ao Redata, é obrigatório que os projetos cumpram exigências de sustentabilidade, como energia renovável ou limpa e eficiência hídrica.

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