O final do mês junho e alguns períodos de julho podem apresentar condições menos favoráveis para a geração de energia solar em relação ao ano passado, especialmente no Centro-Oeste, Sudeste e interior do Nordeste. Os principais fatores que explicam essa alteração é o deslocamento de sistemas transientes pelo Centro-Sul (como frentes frias, por exemplo) e a formação de uma corrente de jato em altitude atuando mais ao norte do que o habitual, resultando em possibilidade de aumento da nebulosidade no Sudeste e Centro-Oeste, o que afeta diretamente a geração solar. Em contrapartida, em agosto e setembro a chance de redução da nebulosidade é menor, o que leva a uma maior incidência de radiação solar, favorecendo a captação fotovoltaica.
Por outro lado, as queimadas são ponto de atenção e incerteza e podem trazer mudanças. A elevação das concentrações de partículas em suspensão na atmosfera tende a reduzir a eficiência dos sistemas fotovoltaicos, impactando a performance da geração em boa parte do país, principalmente a partir de agosto, quando historicamente a incidência de focos de calor se intensifica no Centro-Oeste e interior do Nordeste.
O Brasil tem 56 GW de potência instalada de energia solar. No Hemisfério Sul, o inverno, principalmente entre junho e julho, é naturalmente uma estação menos favorável à geração solar, devido à inclinação do eixo de rotação da Terra e à maior distância do hemisfério em relação ao sol durante a estação, resultando em menor incidência de radiação solar e um menor número de horas com irradiância direta. O mês de agosto, por sua vez, marca uma transição, e boa parte do Centro-Norte do país já começa a experimentar um aumento da irradiação solar.
No interior da Bahia, por exemplo, o acumulado diário de irradiância global horizontal normalmente fica em torno de 4,5 kWh/m² em junho, bem abaixo dos valores próximos ou acima de 6 kWh/m² observados entre outubro e março. A tendência é que quanto maior a latitude, maior seja essa variação sazonal. No interior de SP, o acumulado diário de irradiância global horizontal em junho para algumas cidades não chega a 4 kWh/m², enquanto pode chegar a quase 6,5 kWh/m² em dezembro. No oeste gaúcho, esses valores médios variam de 2,5 kWh/m² em junho a 7 kWh/m² em dezembro e janeiro.
Entretanto, há outros fatores meteorológicos que trabalham a favor da geração solar no inverno, sendo o principal a pouca disponibilidade de umidade e, consequentemente, a baixa frequência de formação de nebulosidade e de chuvas, que são os principais fatores limitantes para a geração durante o período chuvoso. Com isso, também diminui a chance de danos às placas solares por eventos de tempo severo como granizo e microexplosões, que podem ocasionar rajadas de vento acima dos 100 km/h. A exceção para este padrão é o Sul do país, principalmente RS e SC, onde as chuvas e os períodos com céu nublado são mais bem distribuídos ao longo do ano.
Outro ponto positivo é que, principalmente no Centro-Sul do país, as temperaturas predominantemente mais baixas durante o inverno tendem a prejudicar menos a eficiência de conversão de irradiância solar em geração. A presença de, por exemplo, um sistema de alta pressão pós-frontal, que carrega uma massa de ar frio e seco, pode ser uma excelente situação para a geração solar.
Esse comportamento atmosférico é particularmente relevante em um momento de baixa hidrologia nas bacias do Sudeste do país e com o inverno historicamente seco no Brasil. Os períodos em que a geração solar diminui em junho e julho podem pressionar o uso de outras fontes de geração para atendimento da demanda, especialmente nos horários de ponta vespertina. No mercado livre de energia, esse cenário exige atenção redobrada à precificação de curto prazo e aos riscos operacionais para os portfólios expostos.
Por outro lado, o retorno de condições mais favoráveis a partir de agosto tende a reequilibrar parte desse déficit, com um volume maior de geração solar no Centro-Norte, o que pode aliviar a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) e favorecer preços mais estáveis no mercado de energia.
A geração solar no inverno brasileiro continua sendo estratégica, mesmo com os desafios climáticos típicos da estação. Para 2025, o setor deve ficar atento às mudanças atmosféricas e ao impacto das queimadas. Ainda assim, com monitoramento adequado e uso de tecnologias eficientes, é possível manter bons níveis de geração e garantir o aproveitamento energético ao longo do trimestre mais frio do ano.
Por Paulo Lombardi, meteorologista da Tempo OK
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