O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) disse que emitiu nesta semana pareceres de acesso favoráveis para a implantação de dois projetos de datacenter na região Nordeste do país. Os dois empreendimentos ficam no estado do Ceará.
As duas aprovações são referentes a projetos que serão instalados no Complexo do Pecém. O primeiro deles é um datacenter com conexão prevista em janeiro de 2027, na Subestação Pecém II 230 kV.
A Casa dos Ventos foi uma das empresas que obteve o parecer favorável para o acesso de 300 MW para a primeira fase do seu projeto data center. Também foi aprovada a habilitação nas Normas Brasileiras de Serviços (NBSs) pelo Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A classificação é essencial para regulamentar e caracterizar legalmente a prestação de serviços de armazenagem, processamento e tráfego de dados com fins exclusivamente de exportação.
Os investimentos na primeira fase devem ultrapassar R$ 50 bilhões com efeitos multiplicadores em setores como energia, tecnologia, conectividade e qualificação profissional.
A empresa estima a geração de mais de 20 mil empregos diretos e indiretos, além da criação de um novo polo de infraestrutura digital, que pode proporcionar desenvolvimento para economia do país e da região Nordeste, especialmente do estado do Ceará.
O data center adotará sistemas de refrigeração em ciclo fechado, reduzindo a utilização hídrica em comparação a tecnologias tradicionais. Caucaia, no Ceará, possui aproximadamente 160 mil residências. O uso de água da primeira fase do projeto equivale a aproximadamente 0,045% da demanda residencial total da cidade. Esse percentual é possível porque o ciclo fechado garante um consumo de água de 30m3 por dia, volume equivalente à demanda média de 72 residências do município.
“Vale destacar que estamos vivendo uma nova era com o advento da Inteligência Artificial IA, cujo potencial já é transformador e essencial em praticamente todos os setores da sociedade e da economia. O aumento da demanda pela inteligência artificial requer energia e água em qualquer lugar do mundo, e o Brasil está muito bem posicionado. A escolha pelo sistema fechado é estratégica e reforça o compromisso do projeto com a preservação dos recursos naturais, principalmente do uso da águaˮ, explica Lucas Araripe, Diretor-executivo da Casa dos Ventos.
A energia será fornecida por novos parques eólicos e solares a serem instalados no Nordeste e dedicados exclusivamente para alimentar essa atividade, sem influenciar na oferta atual do país. Com a utilização de fontes renováveis, a emissão de carbono é significativamente menor que a média global. Além disso, o consumo e a geração dessa energia estão localizados na mesma região, isso reduz os impactos de cortes de geração.
O empreendimento mais que dobrará a capacidade instalada de data centers no país, posicionando o Brasil como um player relevante no cenário internacional em um momento de crescente demanda por processamento de dados. O projeto apresenta viabilidade para execução em curto prazo, com estrutura e planejamento definidos para iniciar a construção no segundo semestre de 2025, e operação prevista para o segundo semestre de 2027.
“O Brasil tem os atributos certos para liderar esse novo mercado: matriz energética renovável, conectividade robusta, estabilidade elétrica e capital humano qualificado. Essa é uma oportunidade concreta para exportar serviços de alto valor agregado e acelerar a transição energéticaˮ, destaca Lucas Araripe.
A escolha do Ceará não é por acaso. O Estado tem se preparado estrategicamente nos últimos anos e reúne condições únicas para receber investimentos dessa magnitude: a presença da Zona de Processamento de Exportação (ZPE Ceará); proximidade das estações de cabos submarinos em Fortaleza, que conectam o Brasil aos principais hubs globais; a robusta conexão com o Sistema Interligado Nacional (SIN) e a oferta de energia renovável disponível no Nordeste.
O segundo projeto, com conexão na futura SE Pecém III 500 kV, foi aprovado com condicionantes, ou seja, sua efetiva conexão depende da implantação de um conjunto de obras de transmissão, dentre elas algumas indicadas na 4ª Emissão do Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE), publicada em fevereiro de 2025, e que trazem maior segurança e ganhos sistêmicos para a região.
Estes serão os dois primeiros datacenters conectados à Rede Básica do Nordeste e representam uma carga significativa para o sistema elétrico da região. Há uma expectativa de crescimento desse setor nos próximos anos, impulsionada pela demanda crescente por serviços de tecnologia, bem como por necessidades de armazenamento e processamento de dados.
“O ONS vem buscando formas seguras para atender os pedidos de acesso de grandes consumidores de energia. O crescimento do setor de datacenters é importante para a economia do Brasil, em particular do Nordeste, pela expectativa de trazer muitos investimentos. Temos o compromisso de apoiar esse processo, respeitando os procedimentos e a confiabilidade do SIN”, afirma o diretor-geral do ONS, Marcio Rea.
Demanda de 13,8 GW de data centers
A demanda já percebida atualmente no país é refletida nos pedidos que o Ministério de Minas e Energia vem recebendo para a conexão de novas cargas de data centers. Somente de pedidos de acesso, já são 13,8 GW de capacidade até 2037. Segundo Diretor do Departamento de Planejamento e Outorgas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Interligações Internacionais do Ministério de Minas e Energia (MME), Guilherme Zanneti, a maior parte dos projetos ainda tem pouca maturidade e nem toda essa carga pode se realizar. Ele participou de debate no Senado sobre regulamentação de data centers para Inteligência Artificial, que pode incluir critérios de eficiência energética e sustentabilidade para a operação desses projetos.
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