Após anos de expansão acelerada, a indústria solar enfrenta agora uma combinação de desafios: excesso de capacidade produtiva, margens apertadas e mudanças nas políticas de importação em mercados estratégicos. Para o Brasil, que ainda depende majoritariamente de módulos importados, esse novo cenário acende um sinal de alerta.
Apesar desse ambiente desafiador, empresas com escala global e estrutura verticalizada têm conseguido manter sua competitividade. É o caso da Trina Solar. Com presença consolidada no Brasil e em toda a América Latina, a companhia se destaca não apenas pelo volume de fornecimento, mas também por sua atuação em diferentes frentes do setor, da geração distribuída à geração centralizada, passando por rastreadores (trackers) e, mais recentemente, soluções de armazenamento de energia.

Em entrevista para a pv magazine, parte do especial sobre módulos fotovoltaicos, o vice-presidente da Trina na América Latina, Álvaro García-Maltrás, comentou sobre o novo cenário global, os resultados recentes no Brasil e as apostas tecnológicas que devem guiar os próximos anos. Entre os destaques estão o fortalecimento da cadeia de suprimento, a liderança em tecnologias como TOPCon e a crescente atuação no segmento de baterias, que ele define como “estratégico para a transição energética e a sustentabilidade do setor”.
Pressão global não afeta operação brasileira
Embora o mercado fotovoltaico esteja passando por um momento de ajustes, após um período de superoferta que levou à redução na capacidade de produção de diversos fabricantes, a Trina Solar garante que segue operando com estabilidade. “O recente aumento do consumo interno na China está gerando uma nova dinâmica. Para fabricantes de menor escala, isso pode representar uma pressão adicional. Já para empresas como a Trina Solar, que possui uma das maiores cadeias de suprimento do mundo, a capacidade de continuar atendendo tanto o mercado global quanto o brasileiro permanece intacta”, afirma García-Maltrás.
Essa capacidade de fornecimento inclui também soluções em trackers com conteúdo local e habilitação para o Financiamento de Máquinas e Equipamentos (FINAME), uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa conta com uma fábrica no Brasil que, em breve, terá capacidade anual de 3 GW, um diferencial importante em um mercado cada vez mais exigente em termos de competitividade e financiamento.
Participação de mercado e desempenho em GD
Em 2023, a Trina se destacou como a terceira maior fornecedora de trackers no Brasil, segundo ranking da consultoria Greener, e conquistou em 2024 o primeiro lugar como marca mais lembrada (Top of Mind) do setor. No mercado de trackers, a TrinaTracker comercializou 663 MW para geração distribuída, de um total de 5,63 GW vendidos no país.
Considerando apenas a GD em 2024, a empresa registrou um crescimento de 347 MW e figura em segundo lugar no ranking anual. “Esse resultado reflete a confiança do mercado na qualidade dos nossos produtos, na nossa presença local e no compromisso contínuo da Trina Solar com o desenvolvimento do setor fotovoltaico no Brasil”, destaca o executivo.
Perspectiva de preços: leve alta
Embora não divulgue preços específicos por razões estratégicas, a empresa indica que os valores dos módulos fotovoltaicos vêm apresentando uma leve alta desde o início do ano. A tendência, segundo García-Maltrás, é de que esse movimento continue. “Por meses, os fabricantes enfrentaram desafios financeiros devido aos preços muito baixos. Agora, o setor caminha para uma estabilização com valores ligeiramente acima dos custos de produção, algo necessário para manter a sustentabilidade de toda a cadeia”.
Ele reforça, no entanto, que as oscilações de preço dependem de fatores externos como custo logístico, disponibilidade de matérias-primas e estratégias comerciais globais, por isso, previsões públicas são evitadas.
Tecnologia: domínio da TOPCon
A expectativa da Trina Solar é que a tecnologia TOPCon mantenha uma participação superior a 50% globalmente por pelo menos quatro anos, conforme dados da CPIA (China Photovoltaic Industry Association) e do ITRPV (International Technology Roadmap for Photovoltaics). “Existem outras tecnologias em desenvolvimento no mercado, mas ainda não possuem um histórico de implementação global significativo como o que a TOPCon já consolidou”, ressalta o vice-presidente.
Ele afirma que a Trina seguirá investindo em inovação e pesquisa para se manter na vanguarda tecnológica, acompanhando de perto tendências como HJT e Back Contact, ainda que essas tecnologias estejam em estágios menos maduros no mercado internacional.
Armazenamento é prioridade estratégica
Um dos pontos altos da entrevista foi o destaque dado ao segmento de armazenamento de energia, que a Trina trata como prioridade estratégica. Atuando na área desde 2015, a empresa lançou a Trina Storage, com foco em soluções BESS (Battery Energy Storage Systems) projetadas exclusivamente para o setor de energia. Diferente de integradores que usam células genéricas, a Trina Solar fabrica verticalmente todo o sistema, garantindo maior controle e desempenho.
“A Trina Solar já conta com uma unidade de negócios de armazenamento completamente desenvolvida, com uma equipe técnica especializada baseada no Chile, de onde atendemos projetos em toda a América Latina. Reconhecemos que o Brasil representa um dos maiores potenciais de crescimento nesse segmento, e por isso já estamos investindo ativamente na formação do nosso time local”, conta García-Maltrás.
Segundo ele, fomentar o armazenamento no Brasil é fundamental para garantir maior flexibilidade e estabilidade à matriz energética nacional, especialmente à medida que fontes intermitentes ganham peso na geração elétrica.
Críticas à política de importação
Sobre a atual política de importação de módulos solares, a empresa é categórica: ela não está ajudando a fomentar o setor. “A Trina Solar acredita que a atual política de impostos de importação não traz benefícios reais ao país. Pelo contrário, encarece as instalações solares, impacta diretamente o consumidor final, reduz a competitividade do setor e limita o volume de novos negócios”, diz o executivo.
Ele também critica o uso limitado dos ex-tarifários, que hoje beneficiam apenas poucos players, nenhum deles de origem brasileira. Segundo García-Maltrás, há um consenso crescente de que esse modelo não é sustentável nem justo, principalmente em um momento de desaceleração dos projetos de geração centralizada (utility).
Apesar do ritmo mais lento no segmento utility, impactado pelos impostos e por preços baixos de energia no mercado, a Trina segue otimista quanto à sua posição no Brasil. A empresa já está envolvida em novas oportunidades e prevê manter sua posição entre os três maiores fornecedores no país.
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