Sunfarming desenvolve 4 GW de potencial agrivoltaico em quatro estados do país

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A Sunfarming, empresa sediada em Berlim e especializada em sistemas agrovoltaicos – que unem a geração solar ao cultivo agrícola -, está desenvolvendo no Brasil quatro clusters de pequenos projetos que podem chegar a 4 GW de capacidade instalada, sob o modelo de geração distribuída com compensação de créditos de energia.

Os projetos estão localizados no Ceará, nos municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante (1 GW); no Rio de Janiero, em Campos dos Goytacases (1 GW), onde a Sunfarming já tem parceria com uma grande empresa de energia; no Rio Grande do Sul, em Vale Verde (1 GW); e em Belterra, no Pará (1 GW).

O CEO da Sunfarming no Brasil, o professor Decio Cezar da Silva, destaca o projeto em Belterra, onde mais de 120 famílias agricultoras da cidade poderão se beneficiar com a geração solar. A Sunfarming tem a parceria da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Belterra (Amabela), formada por mulheres agricultoras, que assumiram a chefia de mais de 60 famílias.

Silva diz que o projeto deve atender diferentes perfis de agricultores, inclusive produtores de soja, “que polui, que pode não ser a melhor prática. A gente precisa mostrar outro caminho. Ele tem que entender que está fazendo algo mau. Eles questionam: ‘muito lindo seu trabalho, mas como ganha dinheiro?’. E é possível. Imagina colocar o pasto na sombra, a terra vai ser melhorada, ganha energia e ganha com seu gado. Importante dizer que não incentivamos avicultura ou pecuária de corte. Mas sim pecuária leitera e produção de ovos orgânicos e mel”, comenta.   

Para desenvolver os 1.000 MW planejados para o Pará, seriam necessários mais de mil hectares e Belterra seria o ponto de partida, com cerca de 30 MW. Na cidade, as propriedades precisam ter 80% reserva ecológica, por se tratar de região de proteção amazônica.

O sistema desenvolvido pela Sunfarming consiste em módulos de 1 MW, ocupando 1,2 a 1,5 hectares. As fileiras de módulos não ficam encostadas uma na outra. O diferencial dos projetos é o estudo científico para o aproveitamento ideal da luz tanto para produção de energia solar quanto para o aproveitamento para produção de alimento. Além disso, diz Silva, a pareceria com produtores locais é essencial. 

“Tem um conhecimento muito grande das pessoas locais, dos próprios indígenas. Combinamos os vários tipos de conhecimento para gerar um sistema melhor. É um ambiente muito complexo na região. Conhecimento quilombola, caiçara, indígena, agricultor de grande porte, agricultor pequeno. Nossa busca é tentar encontrar uma solução agradável. Muitos agricultores invadiram terras do governo e desmataram. E agora queremos recuperar com um reflorestamento tropical. É um reflorestamento complexo. Se deixar o solo por si só, ele se regenera mas com uma vegetação muito frágil. Precisamos melhorar a qualidade biológica dessa vegetação, com mudas com o horto florestal de Belterra, espécies que ao mesmo tempo sejam comerciais e sirvam para recuperar solo. Para isso temos que estar em parceria com agricultores, roceiros, para trabalhar a reestruturação do solo. O agricultor não tem essa visão, quer plantar soja. Isso cria problemas também, resistência. Mas não queremos brigar com eles, queremos mostrar como fazer. O poder público não dá alternativas para criar valor com a floresta em pé”, comenta Silva.

Nesse momento, a Sunfarming concluiu as licenças ambientais e está na fase de seleção de parceiros locais. A ideia é treinar empresas locais e transmitir o conhecimento técnico da empresa.

O projeto conta com parcerias da escola técnica federal do Pará, Embrapa Amazônia Oriental, Emater, Universidade Federal do Pará e do Sistema S. Essa fase também envolve o contato com as instituições que possam financiar os projetos, como bancos e empresas, embora a Sunfarming também planeje empregar recursos próprios, que vêm de projetos já concluídos e que já geram receitas. 

Entre as culturas estudadas para cultivo na região, estão tomate, pepino, feijão, arroz. “Mas estamos entrando também nas culturas amazônicas, como o cacau anão. Também estudamos o bambu, com corte de 3,5 metros e a cana-de-açúcar”, diz Silva.

Uma solução para a desertificação do solo

Uma das vantagens dos sistemas agrivoltaicos, destaca Silva, é diminuir a temperatura embaixo dos painéis. Nas instalações comuns de solo, é comum a formação de um bolsão de ar quente, que aumenta o risco de desertificação do solo, especialmente em usinas de geração centralizada, segundo o CEO da Sunfarming.

“O aumento de temperatura cria um microclima insuportável, é tão quente que não cresce nada. Imagina 1 GW, instalado em mil hectares. Nós somos contra esse sistema. Se usar o sistema Sunfarming, há um uso mais racional do solo, integrado ao ambiente. Não é uma visão de compensação, de destruir aqui, mas compensar lá. Estamos deixando um legado de solução”, comenta Silva.

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