Mudanças nas temperaturas dos oceanos devem favorecer a geração solar durante o verão

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O verão de 2025/2026 deverá ser favorável à geração de energia solar em grande parte do Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, com destaque para a Bahia e o norte de Minas Gerais. A expectativa é de uma maior frequência de dias ensolarados, mesmo com o período coincidindo com o pico climatológico das chuvas no país. Por outro lado, as altas temperaturas podem reduzir a eficiência dos painéis solares e contribuir para a formação de tempestades mais intensas no fim da tarde e início da noite.

Esse cenário está associado às mudanças esperadas na temperatura dos oceanos Pacífico e Índico ao longo do primeiro trimestre de 2026. O aquecimento gradual dessas áreas alterará o padrão de ventos em altitude, deslocando sistemas fundamentais, como a Alta da Bolívia (AB) e os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), para posições a oeste e sudoeste de suas médias climatológicas.

Além disso, o Atlântico Tropical Norte deverá permanecer mais aquecido que o Atlântico Tropical Sul, limitando o transporte de umidade para o Centro-Norte do Brasil. Esse padrão pode manter a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) posicionada mais ao norte do que o habitual para a época do ano, reduzindo a formação de nebulosidade e a ocorrência de chuvas mais frequentes nessas áreas.

Neste contexto, a dinâmica atmosférica e a menor disponibilidade de umidade favorecem um cenário de chuvas irregulares e heterogêneas em grande parte das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Essa condição resultará em uma maior frequência de dias ensolarados e, consequentemente, em anomalias positivas de irradiância solar, principalmente em áreas como a Bahia e norte de Minas Gerais, por exemplo.

No fim do verão, no mês de março, a circulação de ventos em altitude próximo à costa leste brasileira indicará um padrão de alta pressão anômala. Essa configuração dificultará a organização de frentes frias e canais de umidade, reforçando o quadro favorável para a geração solar.

A principal exceção ocorre em Mato Grosso, onde a migração das instabilidades e possível aproximação da ZCIT poderá condicionar anomalias negativas de irradiância no mês de março. Situação semelhante é esperada no extremo norte do país, compreendendo áreas do Pará, Amapá e norte do Maranhão, por exemplo, em que a atuação mais frequente da ZCIT e a influência da borda dos VCANs tendem a manter nebulosidade persistente ao longo do verão.

Para a região Sul e sul do Mato Grosso do Sul, o início da estação aponta para chuvas acima da média e anomalias de irradiância negativas, refletindo o deslocamento de transientes e uma dinâmica atmosférica mais ao sul. Em fevereiro, o deslocamento preferencial desses sistemas ficará voltado mais para a faixa costeira do Sul e Sudeste e, com isso, a nebulosidade pode persistir em pontos do centro-leste do Paraná e sul de São Paulo.

Por outro lado, o interior da Região Sul, do estado de São Paulo e do Mato Grosso do Sul deverá apresentar irradiância mais próxima da média climatológica. Já em março, a atuação da alta pressão anômala tende a favorecer novamente a irradiância no Centro-Sul do Brasil, na medida em que tende a confinar os transientes na altura do Paraguai, Argentina e Uruguai.

Os padrões atmosféricos projetados sinalizam para uma condição de temperaturas acima da média em grande parte do país. Apesar de a chance de extremos de calor tão persistentes como no início de 2025 ser baixa, espera-se que o verão ainda seja mais quente que o normal de forma geral, com picos de calor frequentes e possivelmente duradouros, especialmente nas áreas onde se esperam as anomalias mais positivas de irradiância.

Este pode ser um contraponto para o cenário favorável de irradiância solar, tendo em vista que a eficiência de conversão do recurso em energia produzível pode ser afetada pelas altas temperaturas. Além disso, num contexto em que a dinâmica atmosférica desfavorece chuva generalizada e organizada e as temperaturas sobem mais, aumenta a probabilidade de ocorrência de tempestades localizadas, especialmente em fins de tarde e início de noite.

Com isso, mesmo que as chuvas sejam irregulares e não interfiram muito na disponibilidade de irradiância, elas tenderão a ser muito fortes nos pontos em que ocorrerem, podendo vir acompanhadas de raios, vento forte (rajadas acima até de 80 km/h) e granizo, em função da maior disponibilidade de energia para o desenvolvimento vertical de nuvens convectivas.

Apesar dos cenários mais prováveis, as previsões sazonais para o início de 2026 apresentam um grau de incerteza acima do habitual. A ausência de um padrão de larga escala definido, como El Niño ou La Niña, para modular a circulação atmosférica e o aquecimento simultâneo de grande parte dos oceanos do planeta, indicam que a previsão de chuva, temperatura, vento e irradiância solar, ainda podem apresentar mudanças ao longo da estação, sendo necessário um monitoramento constante.

Por: Paulo Lombardi e Márcio Bueno, meteorologistas da Tempo OK

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