Descarbonização na Amazônia prepara Aggreko para competir no leilão de armazenamento

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A Aggreko está hibridizando seus ativos em 25 das 26 localidades que opera nos sistemas isolados da região Norte, com a previsão de instalar mais 109 MWp de solar e 119 MWh de baterias junto aos geradores a diesel atualmente em operação. Os projetos estão divididos em cinco lotes, selecionados em uma chamada pública pelo Comitê Gestor do Programa de Redução Estrutural de Custos de Geração de Energia na Amazônia Legal (CGPAL).

Os ganhos ambientais esperados com a hibridização incluem a redução de cerca de 37 milhões de litros de diesel por ano e evitar a emissão de mais de 100 mil toneladas de CO₂ anualmente.

O líder de Desenvolvimento de Negócios Complexos e Projetos Híbridos da Aggreko, Cristiano Saito destaca que o projeto instalado em Caiambé serviu como validação da robustez da solução proposta e foi essencial para permitir um avanço seguro para a escala atual, sendo a primeira das 25 localidades que a companhia está hibridizando. A única exceção entre as localidades atendidas pela empresa é Limoeiro, que integrou o leilão do SISOL de 2025, com o projeto de hibridização sendo arrematado por outra empresa, com previsão de operação em 2027.

Após o anúncio oficial dos vencedores da chamada do CGPAL, três frentes passaram a avançar simultaneamente: engenharia, regularização fundiária e aquisição de equipamentos. A Axia é responsável por transformar o projeto básico em executivo e validar as soluções técnicas da Aggreko. Paralelamente, equipes atuam na definição e compra dos terrenos, em um processo complexo devido às características fundiárias da Amazônia. Segundo Saito, o aprendizado de Caiambé foi crucial para direcionar a busca por áreas antropizadas e bem conectadas às usinas existentes, reduzindo impactos ambientais e riscos de acesso.

A busca por fornecedores

A seleção de fornecedores de baterias e módulos fotovoltaicos é crucial para garantir a operação eficiente das localidades. Embora os contratos ainda não tenham sido assinados, a empresa realizou uma chamada ampla ao mercado para apresentar seus requisitos, que são particularmente rigorosos no caso das baterias.

As necessidades dos sistemas isolados são muito específicas, explica Saito, exigindo equipamentos com características específicas de ciclagem, capacidade de grid forming e compatibilidade com geradores térmicos.

“As soluções precisam ser menores, de 200–400 kWh até 2 MWh, para atender localidades específicas. Esses equipamentos precisam operar em microrredes, paralelar mais de uma unidade e cumprir requisitos de grid forming. Muitos produtos [do tamanho buscado pela empresa] vêm do mercado C&I, como backup para shoppings, mas precisam ser customizados para atender uma microrrede de sistemas isolados. É uma combinação de modularidade com exigências de utility scale”, diz Saito. 

Além disso, a logística na Amazônia impõe limitações severas ao tamanho dos equipamentos, inviabilizando sistemas de grande volume, comuns no mercado internacional. O transporte, condicionado às janelas hidrológicas e ao acesso fluvial, influencia diretamente as escolhas técnicas. Muitos dos produtos que atendem essas necessidades de tamanho vêm do mercado C&I e precisam ser customizados para operação em sistemas isolados, combinando modularidade com confiabilidade de utility scale.

Os prazos de implantação variam conforme o lote. São dois anos para a conclusão dos lotes 1, 2 e 3 e três anos para os lotes 4 e 5. Enquanto os lotes 1, 2 e 4 são de maior porte, atendendo respectivamente as localidades Tefé, Benjamin Constant e Tabatinga, os lotes 3 e 5 envolvem mais usinas de menor porte.

Operação centralizada em Manaus e equipes locais

As usinas serão operadas pelo centro de operação remota da Aggreko, em Manaus, que utiliza canais dedicados de internet e agora deve centralizar também as operações da América Latina. Com a introdução dos sistemas de armazenamento, o centro passa a monitorar com mais precisão o comportamento da geração e da carga, incorporando ferramentas de inteligência artificial para otimização contínua. Há ainda benefícios perceptíveis para as comunidades, como a redução de ruído, já que os geradores a diesel serão acionados com menor frequência.

Do ponto de vista social, a Aggreko mantém equipes locais em todas as usinas e ampliará a capacitação técnica das comunidades, considerando o aumento da complexidade operacional. Em alguns casos, trabalhadores formados em localidades isoladas foram promovidos para atuar no centro de operação em Manaus e até em projetos internacionais, criando um ciclo de mobilidade ascendente. Os projetos também contarão com monitoramento estruturado de emissões e impactos socioambientais, além de diálogo contínuo com lideranças locais no processo de aquisição de terras.

Expectativa para o leilão de reserva de capacidade: 2 GW de demanda

O avanço dos sistemas isolados tem relação direta com a preparação da Aggreko para o leilão de reserva de capacidade de baterias, previsto para abril de 2026.

O líder de Desenvolvimento de Negócios Complexos e Projetos Híbridos da Aggreko, Cristiano Saito.

Imagem: Aggreko

“O volume de BESS contratado no CGPAL, de 119 MWh, não é muita coisa, mas no contexto brasileiro é importante. E no contexto de sistemas isolados da rede, posiciona o Brasil como uma referência mundial em operação de BESS em microrredes e aumentou o interesse dos fabricantes no país, o que permitiu conversas mais aprofundadas sobre soluções técnicas”, disse Saito à pv magazine Brasil. A empresa monitora com atenção a minuta da portaria do leilão e avalia participar, usando a rede de fornecedores e o conhecimento adquirido nos projetos amazônicos para montar uma estratégia sólida.

Saito comenta também o sinal locacional previsto no leilão, que pode melhorar a competitividade em até 10% na oferta, influenciando a definição das localidades em que a empresa pode disputar.

O líder da Aggreko insiste que o volume precisa ser robusto para dar um sinal claro ao setor. Ele cita 2 GW de potência com quatro horas de duração — cerca de 8 GWh — como demanda mínima necessária, alinhada às declarações do ministro. Qualquer volume abaixo disso, segundo ele, seria frustrante, sobretudo porque o Brasil ainda enfrenta gargalos significativos de transmissão.

Uma preocupação central é a determinação recente da Lei 15.269 de que o encargo da energia de reserva para baterias seja pago apenas pelos geradores. Para Saito, esse desenho ameaça a licitação: “Se o pagamento ficar restrito aos geradores, isso pode ter um impacto significativo no volume a ser contratado e esse é um leilão que precisamos de demanda.”

A Aggreko vê a hibridização dos sistemas isolados e o leilão de armazenamento como sinais de um ponto de virada no setor elétrico brasileiro. Com a implantação dos cinco lotes, os ganhos ambientais, sociais e logísticos devem ser expressivos, enquanto a maturidade técnica adquirida pode fortalecer a participação da companhia no mercado nacional de BESS.

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