A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) realizou o evento “Hidrogênio Verde & Armazenamento”, reunindo especialistas, autoridades e empresas para discutir soluções energéticas diante da transição global em curso. Entre os destaques esteve a participação de Rodrigo Santana, diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios e cofundador da Atlas Agro, que apresentou o projeto da companhia para descarbonizar a indústria de fertilizantes no Brasil com hidrogênio verde.
Hoje, o país é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, mas depende de importações para atender quase 95% da demanda por fertilizantes nitrogenados, insumo essencial para manter a alta produtividade no campo. Ao mesmo tempo, a produção convencional desses fertilizantes responde por cerca de 1 bilhão de toneladas de CO₂ por ano no mundo, o equivalente a toda a aviação global. É nesse contexto que a Atlas Agro pretende investir R$ 6 bilhões em Uberaba (MG) para erguer uma planta de grande porte, baseada em hidrogênio verde, capaz de reduzir em até 99% as emissões do processo produtivo.
O papel dos fertilizantes e o peso das emissões
Santana destaca a relevância histórica dos fertilizantes nitrogenados para a segurança alimentar mundial. “Sem eles, a produção de alimentos seria suficiente apenas para metade da população global”, diz, lembrando que o avanço dessa tecnologia foi responsável por salvar mais de 1 bilhão de vidas no século passado.
O desafio, porém, está no impacto ambiental. A indústria de fertilizantes responde por quase 1 bilhão de toneladas de CO₂ por ano, equivalente a todas as emissões da aviação global e 40% acima do transporte marítimo. “Enquanto esses setores já avançam em soluções de descarbonização, pouco se fala sobre fertilizantes”, pontua o executivo.
Atualmente, a rota produtiva predominante utiliza hidrogênio cinza, derivado de gás natural ou carvão, liberando carbono no processo. O hidrogênio azul, com captura parcial de carbono, é uma alternativa, mas ainda gera emissões.
A proposta da Atlas Agro é substituir essa rota fóssil por hidrogênio verde, obtido por eletrólise da água (H₂O) com energia de fontes solar, eólica e hidrelétrica em parceria com a Casa dos Ventos. Esse insumo, combinado ao nitrogênio do ar (que compõe 78% da atmosfera), permite a produção de amônia (NH₃) e, a partir dela, fertilizantes nitrogenados com redução de até 99% nas emissões de CO₂.
“O Brasil, como celeiro do mundo, depende fortemente de fertilizantes. Mas 95% dos nitrogenados consumidos aqui são importados. Essa dependência nos deixa vulneráveis a crises internacionais, como pandemia, guerra na Ucrânia e, mais recentemente, o conflito Irã-Israel”, lembra Santana. O Irã sozinho responde por 18% das importações brasileiras.
Para reduzir essa vulnerabilidade, a Atlas Agro está estruturando dois grandes projetos: um no noroeste dos Estados Unidos e outro em Uberaba (MG). Este último receberá R$ 6 bilhões em investimentos e terá capacidade anual superior a 500 mil toneladas de fertilizantes nitrogenados.
A planta deve evitar a emissão de 1,1 milhão de toneladas de CO₂ por ano. Durante a construção, serão criados mais de 2.000 empregos, e, na operação, cerca de 500 postos diretos e indiretos. O empreendimento demandará 300 MW médios de energia e produzirá 42 mil toneladas anuais de hidrogênio verde, que resultarão em 225 mil toneladas de amônia e, por fim, fertilizantes como o nitrato de amônio.
Avanços do projeto e parcerias estratégicas
O projeto já avançou em etapas essenciais, como a outorga de uso da água, autorização inicial do Ministério de Minas e Energia para conexão à rede elétrica e a conclusão da fase de pré-engenharia.
Para garantir fornecimento limpo e estável, a Atlas Agro firmou parceria com a Casa dos Ventos, que proverá energia renovável de fontes solar, eólica e hidrelétrica. O financiamento conta com a Macquarie Asset Management, fundo global de infraestrutura com foco em transição energética, e contratos de “off-take” já asseguram a demanda pelos fertilizantes que serão produzidos.
O projeto de Uberaba foi selecionado pelo Transition Accelerator, iniciativa global da ONU criada na COP28 para acelerar políticas e investimentos em transição energética. Também integra a Plataforma Brasil Investimento (PIB), do governo federal, e foi incluído entre os cinco hubs de hidrogênio apoiados pelo MME, em parceria com o Reino Unido e o Climate Investment Fund, que pode liberar até US$ 250 milhões para iniciativas de baixo carbono.
No Brasil, o projeto está na carteira do Comitê Nacional de Fertilizantes (CONFERTE) presidido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, cuja meta é reduzir em 50% a dependência de fertilizantes importados até 2050. A Atlas Agro é o único projeto da carteira baseado integralmente em energia renovável.
Segundo Santana, a expectativa é iniciar a operação comercial entre 2029 e 2030. “O mercado de hidrogênio verde ainda precisa de maturação regulatória, técnica e financeira, mas já está se tornando realidade. Nosso objetivo é reduzir incertezas para investidores e contribuir para a segurança alimentar e a descarbonização da agricultura no Brasil”, conclui o executivo.
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