O Ministério de Minas e Energia (MME) abriu consulta pública para discutir diretrizes da implantação de medidores inteligentes no Brasil. O objetivo é promover a modernização gradual do setor elétrico, reduzir perdas e custos operacionais, ampliar a qualidade do serviço, além de dar mais autonomia ao consumidor sobre o uso da energia.
Também chamados smart meters, esses dispositivos permitem o registro detalhado e remoto do consumo de energia, estabelecendo comunicação bidirecional entre unidades consumidoras e distribuidoras. Entre os recursos estão a telemetria, o corte e religamento remoto, a detecção de fraudes e falhas, o monitoramento da qualidade da energia e a integração com plataformas digitais para acompanhamento pelo consumidor.
Na prática, eles oferecem uma medição mais precisa, facilitam a gestão da rede e ampliam a transparência na cobrança. O avanço dessa solução no Brasil já é visível: concessionárias vêm implementando programas de larga escala e fabricantes ampliam sua produção local.
Entre os principais pontos em consulta estão a implantação no prazo de 12 meses de medidores inteligentes adicionais em 4% das unidades consumidoras das áreas de concessão de distribuição, a definição das funcionalidades mínimas dos medidores inteligentes, a possibilidade de utilização dos recursos do Programa de Eficiência Energética (PEE) e diretrizes para a Análise de Custo-Benefício (ACB) da implantação de medidores inteligentes no médio e longo prazo.
Esse percentual mínimo de 4% corresponderia a aproximadamente 3,6 milhões de novos medidores inteligentes implantados em todo o país. Em algumas áreas de concessão, esse percentual já foi superado, como na Enel SP, onde 12% das unidades consumidoras contavam com medidores inteligentes (1,2 milhão) até 2024, e na Copel, onde 33% das unidades contam com os dispositivos.
A visão das distribuidoras
Cemig (MG) – A companhia já substituiu mais de 2 milhões de medidores desde 2021, em 774 municípios mineiros, e projeta trocar mais de 400 mil equipamentos apenas em 2025, com investimento de R$ 70 milhões. Os aparelhos retirados têm, em média, mais de 13 anos de uso e dão lugar a modelos mais modernos e confiáveis.
Desde setembro de 2023, a Cemig vem instalando medidores inteligentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, projeto que deve ser expandido para outras regiões. Esses dispositivos enviam dados diretamente à distribuidora, permitindo identificar faltas de energia e falhas no sistema de forma mais ágil. Futuramente, os clientes poderão acessar relatórios detalhados de consumo em canais digitais como o aplicativo Cemig Atende.
“A modernização traz mais confiabilidade à medição, facilita o acompanhamento do consumo e reforça o uso de fontes renováveis. Além de eficiência operacional, é um passo importante para a transparência no relacionamento com o cliente”, destacou a empresa.
Copel (PR) – A distribuidora conduz o programa Rede Elétrica Inteligente, que prevê a instalação de 2 milhões de medidores até o fim de 2025, cobrindo 155 municípios e representando mais de um terço das unidades consumidoras do Paraná. Até agora, 1,7 milhão de equipamentos das fabricantes chinesas Nansen e Eletra Energy (Grupo Hexing) já foram instalados
Os novos medidores registram o consumo a cada 15 minutos e enviam automaticamente as informações para a Copel, dispensando a leitura manual. Isso permite monitorar e corrigir rapidamente falhas como oscilações e interrupções, reduzindo riscos para os consumidores. O projeto também inclui integração com fatura digital e aplicativos móveis, que ajudam o cliente a acompanhar e gerenciar seu consumo diário.
Segundo a empresa, o programa contribui para a sustentabilidade ao reduzir deslocamentos de veículos e o uso de papel. Além disso, combate fraudes e apoia o desenvolvimento de cidades inteligentes no estado.
CPFL Energia (SP) – O grupo prevê substituir 1,6 milhão de medidores convencionais até 2029, em cidades atendidas pelas distribuidoras CPFL Paulista, Piratininga e Santa Cruz. O investimento total é de R$ 1,2 bilhão, sendo R$ 800 milhões via BNDES Mais Inovação, com a meta de beneficiar cerca de 400 mil consumidores a cada 12 meses.
As primeiras cidades atendidas serão Ourinhos, Jacarezinho e Ribeirão Claro, além de Jaguariúna, onde a CPFL realizou projeto-piloto entre 2018 e 2019, testando tecnologias que agora serão aplicadas em larga escala.
“As redes inteligentes são uma das maiores evoluções tecnológicas do setor de distribuição. A troca de medidores é a base dessa transformação, que coloca o cliente no centro e oferece eficiência, acompanhamento detalhado do consumo e uma nova experiência para o consumidor”, afirmou Gustavo Estrella, presidente da CPFL Energia.
A visão dos fabricantes
Eletra Energy – Com fábrica em Fortaleza, a empresa do grupo Hexing avalia a consulta pública do MME como um passo oportuno para alinhar regulamentação, necessidades tecnológicas e realidade regional do Brasil.
Segundo o diretor comercial Ronaldo Lucas, os medidores da Eletra se destacam por robustez, segurança cibernética, interoperabilidade com diferentes protocolos de comunicação e software avançado de apoio à gestão das distribuidoras. Ele reforça que a adoção massiva de smart meters traz benefícios em múltiplos níveis:
- Consumidores: mais transparência, monitoramento quase em tempo real, menor risco de surpresas na conta e incentivo à eficiência energética.
- Distribuidoras: redução de custos com leitura manual, detecção de fraudes, corte e religamento remoto e melhor planejamento de rede.
- Setor elétrico: menor perda técnica, maior confiabilidade, apoio à integração de renováveis e avanço para um modelo de redes inteligentes.
“O Brasil já conta com mais de 4 milhões de medidores inteligentes instalados, e a substituição de cerca de 40 milhões de unidades tradicionais deve ocorrer nos próximos anos. Para a Eletra, esses equipamentos são condição fundamental para que o setor elétrico brasileiro avance rumo à modernização, sustentabilidade e competitividade global”, afirmou.
Nansen – Com 95 anos de atuação no Brasil e fábrica em Manaus, além de nova planta em construção em Betim (MG), a empresa detém 43,2% dos 9,57 milhões de medidores atualmente em implantação, o que corresponde a 10% das unidades consumidoras do país.
O CMO da companhia, Ciro Lima, avalia que a consulta pública do MME traz mais transparência e segurança regulatória, além de previsibilidade para investimentos. Entre os diferenciais da Nansen estão a alta precisão na medição, foco em cibersegurança, integração com diferentes protocolos e suporte técnico local.
“Mais do que fornecer tecnologia, participamos ativamente da transformação que conecta inovação, eficiência e sustentabilidade para milhões de brasileiros. Temos orgulho de impulsionar essa mudança”, destacou.
A empresa vê tendência de aceleração no ritmo de adoção com as novas diretrizes do MME e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Convergência de interesses
Embora com perspectivas diferentes, distribuidoras e fabricantes concordam em um ponto central: os medidores inteligentes são estratégicos para o futuro do setor elétrico brasileiro.
Eles representam não apenas um salto de digitalização e eficiência, mas também fortalecem a integração de fontes renováveis, reduzem perdas e empoderam o consumidor com mais informação e controle sobre seu consumo.
A consulta pública do MME, nesse cenário, pode ser o divisor de águas para que o país avance rumo a um modelo de rede mais inteligente, sustentável e conectado às necessidades do século 21.
Este conteúdo é protegido por direitos autorais e não pode ser reutilizado. Se você deseja cooperar conosco e gostaria de reutilizar parte de nosso conteúdo, por favor entre em contato com: editors@pv-magazine.com.
Ao enviar este formulário, você concorda com a pv magazine usar seus dados para o propósito de publicar seu comentário.
Seus dados pessoais serão apenas exibidos ou transmitidos para terceiros com o propósito de filtrar spam, ou se for necessário para manutenção técnica do website. Qualquer outra transferência a terceiros não acontecerá, a menos que seja justificado com base em regulamentações aplicáveis de proteção de dados ou se a pv magazine for legalmente obrigada a fazê-lo.
Você pode revogar esse consentimento a qualquer momento com efeito para o futuro, em cujo caso seus dados serão apagados imediatamente. Ainda, seus dados podem ser apagados se a pv magazine processou seu pedido ou se o propósito de guardar seus dados for cumprido.
Mais informações em privacidade de dados podem ser encontradas em nossa Política de Proteção de Dados.