O mercado de energia solar brasileiro, embora mantenha protagonismo no cenário internacional, sendo o sexto maior em capacidade acumulada e o quarto maior em novas conexões em 2024, começa a dar sinais de arrefecimento, resultado tanto de uma desaceleração nos projetos de grande porte, quanto de entraves na conexão de geração distribuída. O setor busca agora viabilizar o crescimento de nova demanda e infraestrutura de transmissão para absorver a oferta de novas usinas, além da criação do mercado de armazenamento.
O Brasil deve encerrar 2025 com 67,1 GW de capacidade solar acumulada, um crescimento de 13,2 GW em relação aos 53,9 GW acumulados até o final de 2024. A projeção, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica foi apresentada durante a abertura do congresso do evento The Smarter E, que combina as feiras Intersolar, EES, Power2Drive e Eletrotec EMPower.
Ao todo, a geração solar distribuída acumularia 45,278 GW até o final do ano, enquanto a centralizada somaria 21,880 GW.
A expectativa da Absolar representa um crescimento de mercado menor que o realizado em 2024, quando o setor adicionou 15,7 GW de nova capacidade. Enquanto a geração distribuída deve acrescentar 8,5 GW em 2025, contra 10 GW instalados em 2024, a geração centralizada deve conectar 4,6 GW, frente os 5,7 GW no ano passado.
Posição de liderança
“O Brasil é um dos maiores mercados globais para energia solar, temos players de diversos países interessados, da Índia, Turquia, e claro, China”, disse o presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, durante a abertura do evento. Ele alertou, entretanto, sobre o a necessidade de o país estabelecer políticas para manter esse protagonismo.
“Este ano é especial com a COP 30 realizada em Belém (PA) e a previsão de que os países atualizam as suas metas de redução de emissões. Nesse contexto, o Brasil não tem metas definidas para a transição energética. Hoje o Brasil diz de ‘boca cheia’ que somos líderes em renováveis, mas, se não fizermos nada, vamos ser ultrapassados por outras nações, que já estabeleceram metas para ser 100% renováveis”.
Cenário de ameaças e alteração de regras
O presidente da Absolar destacou que está em curso uma série de ações para acabar com subsídios e descontos para a fonte solar, enquanto combustíveis fósseis continuam tendo descontos. Ele mencionou estudo do Inesc (2023) que identificou que os combustíveis fósseis recebem 4,5 vezes mais benefícios governamentais do que as renováveis, entre reduções, isenções e programas.
“Enquanto novas outorgas de energia renovável já não contam com descontos de TUSD e TUST, outras fontes fósseis seguem recebendo apoio. Já temos pavimentado o caminho de redução de incentivos que outras fontes não têm”, destacou Sauaia.
Além disso, tramitam no Congresso as Medidas Provisórias 1.300, 1.304 e 1.307, consideradas estratégicas, que podem levar tanto à avanços quanto a retrocessos no setor:
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A MP 1.300 trata da abertura do mercado livre e mudanças tarifárias, mas que também estabelece mudanças em descontos tarifários para usinas centralizadas já em operação;
- A MP 1.304, que altera dispositivos relacionados à Conta de Desenvolvimento Energético, levando agentes que recebem recursos da conta como incentivos a pagar por eles;
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A MP 1.307 estabelece que indústrias em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) devem ser abastecidas unicamente por fontes renováveis devem ser abastecidas unicamente por fontes renováveis, mas já enfrenta pressões para incluir nucleares e termelétricas.
Embora apresentem pontos de atenção, essas MPs também podem ser uma oportunidade para avançar em pautas caras ao setor, como a regulamentação do armazenamento no país, sugere Sauaia.
Cortes de geração
Os cortes de geração são talvez o maior desafio já enfrentado pelo setor de renováveis no Brasil, acrescentou Sauaia. Em 2025 já se estima que 15% a 20% da geração solar e eólica seja cortada. Apenas 5% desses cortes são ressarcidos, deixando um passivo financeiro para os empreendedores, que acumulam prejuízos e colocam novos investimentos em espera. Só para geradores solares, o prejuízo chega a R$ 1,7 bilhão.
Armazenamento de energia
Nesse cenário, o armazenamento em baterias desponta como solução estratégica. A avaliação é que a inserção dessa tecnologia no Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) deve ocorrer não por subsídios, mas com base em seus méritos técnicos: flexibilidade, modularidade e serviços ancilares.
Estudos da ABSAE em parceria com a Aurora mostram que baterias já são competitivas na prestação de serviços como reserva de capacidade. Aplicações comerciais chegam a apresentar payback em apenas cinco anos.
Atualmente, há cerca de 800 MWh em baterias instaladas no Brasil, metade em sistemas de eletrificação rural. As perspectivas incluem crescimento tanto em sistemas off-grid quanto em projetos conectados, com serviços para o setor elétrico e junto a consumidores residenciais e comerciais.
A ABSAE defende a contratação de pelo menos 2 GWh em baterias em leilões futuros. A ausência de sinal regulatório claro, porém, impede maior avanço. “Não temos ainda um direcionamento para o gerador investir em armazenamento”, avaliou Markus Vlasits, presidente da associação.
O debate regulatório envolve temas como empilhamento de receitas, classificação de quem presta serviços como consumidor e riscos de dupla cobrança na TUST. A expectativa é que o marco regulatório dê segurança para o primeiro leilão de armazenamento.
No contexto da Amazônia, o uso de solar com baterias é visto como essencial para reduzir emissões dos sistemas isolados e garantir inclusão social em localidades remotas.
Mobilidade elétrica e infraestrutura
A transição energética não se limita à geração. A mobilidade elétrica foi destacada como eixo estratégico, indo além dos veículos: trata-se de infraestrutura elétrica, qualidade das instalações e conexão.
“Instalações elétricas eficientes são fundamentais para aproveitar cada watt gerado”, defendeu João Gilberto Cunha (Eletrotec Mpower). A ideia é que a transição energética depende de redes bem preparadas e inteligentes.
Ronaldo Koloszuk (Absolar) ressaltou que, apesar de um ano difícil para o setor solar, com prejuízos de US$ 5 bilhões somando eólica e solar, os temas de maior angústia já estão sendo endereçados, e no médio e longo prazo o setor contará com a contribuição de baterias e da eletromobilidade.
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