Especial Armazenamento: Dyness defende regulamentação ampla para baterias

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O mercado de armazenamento de energia no Brasil vive uma nova fase de amadurecimento. Após anos à sombra da geração solar fotovoltaica, o setor ganha protagonismo em meio à crescente instabilidade na rede elétrica, aumento de custos com interrupções de fornecimento e o avanço de regulamentações específicas. Na vanguarda desse movimento, a Dyness, fabricante global de soluções de baterias de lítio, aposta em um ciclo de crescimento exponencial até 2030, com o Brasil entre seus principais focos de atuação.

Em entrevista à pv magazine para o especial de armazenamento, o country manager da Dyness no país, Carlos Trotta, traça um panorama da empresa, detalha o portfólio de produtos e defende mudanças estruturais na regulação para que o país avance rumo a um modelo mais moderno, resiliente e sustentável de geração e distribuição elétrica.

O country manager da Dyness, Carlos Trotta.

Imagem: Dyness

Capacidade global, foco local

A Dyness tem uma capacidade global de produção de 3 GW, concentrada em sua fábrica localizada na província de Jiangsu, na China. A operação cobre mais de 100 países e conta com filiais em 13 deles. No Brasil, a empresa atua desde 2019 com soluções voltadas tanto para o mercado residencial quanto para os segmentos comercial e industrial.

Powerbox G2: solução para residências com maior demanda ou pequenos negócios, com proteção IP65 para uso externo.

Imagem: Dyness

A linha de baterias da Dyness cobre desde modelos de baixa tensão até versões de alta tensão, garantindo compatibilidade com a maioria dos inversores disponíveis no mercado brasileiro. O portfólio inclui:

  • DL5.0C (5,12 kWh): bateria para uso residencial em ambientes internos.
  • Powerbox G2 (10,24 kWh): solução para residências com maior demanda ou pequenos negócios, com proteção IP65 para uso externo.
  • Ultracube (2,4 a 4,8 kWh): sistema portátil all-in-one com bateria e inversor integrados, ideal para cargas prioritárias e de fácil locomoção.
  • Soluções C&I (80 a 200 kWh): voltadas para aplicações de maior escala, importadas sob demanda para projetos comerciais e industriais.

Todos os modelos contam com sistema de monitoramento remoto via Wi-Fi e são distribuídos no Brasil e em outros países da América Latina.

2024: o ano semente do armazenamento

Para Trotta, a virada do mercado começou com a publicação da Portaria Inmetro nº 140/2022, que regulamentou o uso de baterias conectadas à rede elétrica. Até então, segundo ele, o setor de armazenamento era marginal diante da euforia da geração on-grid. Isso mudou radicalmente nos últimos dois anos.

“O ano de 2024 é o que chamamos de ano semente do armazenamento. Já 2025 será o ano base do crescimento, que será exponencial até 2030”, prevê o executivo.

Ele destaca que o aumento de falhas na rede elétrica, prejuízos com a interrupção de fornecimento e a elevação da manutenção de equipamentos por oscilações na tensão são fatores decisivos para que residências e empresas considerem soluções de armazenamento como prioridade.

Tecnologias e diferenciais

A Dyness adota exclusivamente a tecnologia LiFePO4 (lítio-ferro-fosfato), considerada mais segura e durável do que outras composições químicas. As baterias contam com proteção contra sobretensão, sobrecarga e, como diferencial, um sistema anti-incêndio baseado em aerosol, que atua preventivamente em caso de risco de fogo.

O sistema de gerenciamento inteligente (BMS – Battery Management System) garante o balanceamento de carga entre as células, prolongando a vida útil dos equipamentos e assegurando maior confiabilidade.

Cadeia produtiva e maturação do mercado

Trotta explica que o mercado de baterias depende de uma cadeia complexa, que vai desde a extração de minerais críticos (como lítio, cobalto e grafite) até a reciclagem dos sistemas usados. Para ele, empresas com controle sobre boa parte dessa cadeia, ou com times robustos de P&D e supply chain, têm maior capacidade de oferecer produtos confiáveis.

Ele reforça que o crescimento do setor só será sustentável com capacitação técnica de toda a cadeia de valor: fabricantes, distribuidores, revendedores, EPCistas e instaladores. A venda consultiva e a compreensão das necessidades reais do cliente serão fatores-chave na construção de um mercado sólido.

Armazenamento como serviço e BESS de larga escala

Embora ainda não ofereça diretamente soluções de BESS as a Service no Brasil, a Dyness já opera com modelos BESS (Battery Energy Storage Systems) de grande porte e pretende ampliar essa frente, especialmente diante da possível regulamentação de aplicações “in front of the meter”, ou seja, conectadas diretamente à rede elétrica.

“Essa regulamentação será um grande marco para o setor elétrico brasileiro, ampliando muito as oportunidades para empresas de armazenamento e EPCistas”, avalia Trotta.

Desafios regulatórios e participação institucional

Apesar de ainda não integrar diretamente as discussões regulatórias no país, a Dyness acompanha de perto os debates e pretende se associar a entidades como a recém-criada Associação Brasileira do Setor de Armazenamento de Energia (ABSAE).

“O setor público deveria basear-se nas reais necessidades do mercado e não em dados enviesados por parte de alguns players. A regulamentação é necessária para modernizar a infraestrutura elétrica brasileira”, defende o executivo.

Por fim, ele ressalta que a resistência de certos segmentos à regulamentação pode atrasar o desenvolvimento do mercado. Ainda assim, vê com otimismo o papel que o armazenamento pode desempenhar tanto no nível residencial e empresarial quanto no equilíbrio do sistema elétrico nacional.

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