Do potencial solar à capacidade instalada: o caminho do Brasil inspirado pela Alemanha

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A frase “a pior região para energia solar no Brasil é melhor do que a melhor região na Alemanha” é frequentemente citada por especialistas e entusiastas da energia renovável, e reflete uma realidade técnica. De acordo com o Global Solar Atlas, o potencial de irradiação solar global horizontal (GHI) no Brasil pode atingir até 2.100 kWh/m² por ano, enquanto na Alemanha os valores máximos ficam em torno de 1.186 kWh/m² (Figura 1). Em média, isso significa que o potencial solar da Alemanha representa cerca de 56% do brasileiro.

Apesar dessa vantagem natural, é a Alemanha que se destaca em termos de capacidade instalada de geração fotovoltaica. Inclusive, o país superou 90 GW de capacidade instalada em 2024 e, atualmente, a fonte solar representa quase 35% da matriz elétrica do país. Já o Brasil, mesmo com maior potencial solar, possui cerca de 54 GW instalados entre geração centralizada e distribuída, o que representa cerca de 22% da sua matriz elétrica.

Figura 1: Comparação do potencial solar acumulado de irradiação solar global horizontal (GHI) entre a América do Sul e a Alemanha. Fonte: Atlas Solar Global.

Imagem: Atlas Solar Global

Em maio de 2025, a Alemanha atingiu um marco histórico, com 99% de seu consumo energético sendo atendido por fontes renováveis (solar e eólica). Durante o verão de 2024, o país registrou um recorde, com a energia solar representando 25% da geração elétrica, embora, no inverno, a geração solar seja reduzida em cerca de 50% em relação ao verão, refletindo a forte sazonalidade do recurso na região.

Mesmo com capacidade instalada inferior à Alemanha, o Brasil se destacou em 2024 como o quarto país que mais cresceu em geração solar, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos e Índia. Esse avanço foi impulsionado pela popularização dos sistemas fotovoltaicos residenciais, além de políticas de incentivo e leilões de energia renovável.

Em resumo, a diferença de potencial solar entre os dois países é determinada pela forma da Terra e pela inclinação do eixo de rotação do planeta. Por exemplo, nas regiões próximas à linha do Equador (onde o Brasil se encontra), os raios solares incidem de forma quase perpendicular à superfície durante todo o ano. Isso resulta em uma maior concentração de energia por metro quadrado, o que favorece a eficiência dos sistemas fotovoltaicos. À medida que se avança para os polos, o ângulo de incidência dos raios solares se torna mais oblíquo, o que distribui a energia solar por uma área maior e diminui sua intensidade sobre a superfície terrestre.

Desta maneira, as características tropicais do Brasil favorecem a geração solar, com menor sazonalidade e altos índices de irradiância solar ao longo do ano, especialmente nas regiões do Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste.

Figura 2: Acumulado anual de irradiação solar em plano horizontal. A escala de cores indica o potencial solar das regiões: tons vermelhos representam áreas com maior incidência solar, enquanto os tons azulados indicam menor potencial. Fonte: Atlas Solar Global.

Imagem: Atlas Solar Global

Já na Alemanha, dada a maior distância da linha do Equador, o potencial solar é ainda mais influenciado pela inclinação do eixo da Terra, que provoca variações sazonais acentuadas. Portanto, o recurso solar alemão tem uma sazonalidade bem demarcada.

Durante o verão, há um aumento na duração dos dias em direção aos polos, o que eleva o potencial solar nessas regiões. Além disso, fatores como a distribuição de nebulosidade e a altitude em relação ao nível do mar também impactam significativamente o aproveitamento solar no país. Regiões mais elevadas têm menor espessura atmosférica, e consequentemente apresentam maior irradiância na superfície. No sul da Alemanha, por exemplo, áreas próximas aos Alpes apresentam desempenho superior à média nacional.

Apesar dessas limitações geográficas, a Alemanha consegue maximizar sua geração solar com tecnologias como rastreadores solares (tracking) e painéis bifaciais, que melhoram o aproveitamento da luz em diferentes ângulos e condições de luminosidade.

O exemplo da Alemanha, que lidera em capacidade instalada apesar de um menor potencial solar, demonstra que investimentos, inovação tecnológica e políticas públicas eficazes são fundamentais para transformar recursos naturais em resultados concretos. Com uma das maiores irradiâncias solares do mundo, o Brasil tem condições excepcionais para se tornar um líder global na geração de energia solar.

Por Jorge Rosas, meteorologista da Tempo OK

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