Desafios regulatórios da GD e oportunidade com baterias para aumentar flexibilidade dos sistemas

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O Brasil enfrenta desafios significativos na transição energética, impulsionada pelo crescimento da geração distribuída (GD) de energia renovável, principalmente a solar fotovoltaica. A pv magazine Brasil conversou com Daniel Maia, fundador e CEO da Athon Energia, empresa especializada no desenvolvimento e gerenciamento de projetos de energia solar, cujo portfólio conta com 62 plantas com foco em geração distribuída.

De acordo com o executivo, um dos principais problemas é a intermitência da energia renovável, que cria instabilidade na rede elétrica.”Neste cenário, a geração é “empurrada” (push) para a rede, ao contrário do modelo tradicional “puxado” (pull) pelo consumo.  Essa intermitência leva ao descarte de energia, com usinas hidrelétricas realizando vertimento de água e energia solar e eólicas sendo desperdiçadas”, explica.

A solução proposta por muitos, incluindo a Athon, é a utilização de baterias para tornar as usinas fotovoltaicas despacháveis, ou seja, capazes de liberar energia conforme a demanda. “A lei 14.300 já prevê essa possibilidade, mas a regulamentação ainda é insuficiente e o investimento em baterias é alto, quase o dobro do custo da usina. A Athon tem interesse em investir no armazenamento por baterias para tornar nossos ativos despacháveis. Porém, pelo que temos visto, o governo parece inclinado a optar por usinas térmicas como solução, o que é ineficiente e caro, muito mais caro do que incentivar o uso de baterias na GD”, argumenta Maia.

Daniel Maia é o fundador e CEO da Athon Energia.

Imagem: Athon Energia

A Europa vem enfrentando problemas semelhantes de intermitência e já adota soluções como precificação dinâmica da energia, com preços que podem até ser negativos em certos horários, além da remuneração por potência ou serviços ancilares.  De acordo com o CEO da Athon, “no Brasil, o sistema de compensação atual (Net Metering) oferece créditos financeiros, mas não energéticos, o que limita sua eficácia. Uma proposta seria adaptar o Net Metering para oferecer mais créditos em horários de alta demanda e menos em horários de baixa demanda”.

Outro desafio é a necessidade de regionalizar a operação do sistema elétrico. A ideia, segundo Maia, é criar operadoras da rede de distribuição (DSOs, na sigla em inglês para “Distribution System Operators”) para otimizar o gerenciamento da geração distribuída em momentos de crise, como aconteceu na Europa. “Acreditamos que esses DSOs deveriam ser independentes das distribuidoras de energia, atuando como “franquias” da ONS (Operador Nacional do Sistema) e seguindo a mesma cartilha, para garantir isonomia entre os geradores e evitar decisões que prejudicam o equilíbrio da rede”, explica.

A Medida Provisória da Reforma do Setor Elétrico – MP 1.300/2025 – assinada na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca justiça tarifária e abertura de mercado, é considerada superficial e carente de soluções técnicas para o tamanho do desafio da transição energética.

Maia acredita que a MP seria beneficiada por um debate mais amplo e participativo com a sociedade, incluindo associações do setor para encontrar soluções eficazes. “Em relação às fontes intermitentes como a GD fotovoltaica, enquanto no resto do mundo se organiza para atualizar sua regulamentação e não jogar energia fora, o Brasil ainda não optou para encarar essa questão de frente. Neste sentido, nossa expectativa é que a sociedade se manifeste e traga sugestões para MP 1.300/2025, e isso já está acontecendo. São quase 600 emendas com sugestões de alteração ao texto. Temos esperança de que algumas delas contenham boas ideias estruturantes e permitam o desenvolvimento da GD e da segurança do sistema, minimizando os impactos da intermitência e promovendo um futuro energético mais equilibrado e eficiente”, finaliza.

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