Especial Módulos: Canadian Solar prevê estabilidade do mercado brasileiro e defende revisão urgente na política de importação

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Mesmo com a crescente demanda interna por energia solar na China, a Canadian Solar, descarta qualquer impacto imediato na capacidade de fornecimento global. De acordo com a empresa, o mercado está, na verdade, operando com um overcapacity, ou seja, com uma capacidade produtiva bem acima da demanda atual. Essa análise também se aplica ao Brasil, onde a Canadian mantém uma participação de mercado relevante e mira uma reestruturação estratégica para se aproximar dos integradores menores.

Segundo o gerente de Suporte Técnico e Produtos da Canadian Solar, Marcus Carvalho, o que influencia o cenário atual não é a demanda doméstica chinesa em si, mas sim o fim iminente dos incentivos para energia solar na China, previsto para junho. “Isso está acelerando projetos no curto prazo, criando uma corrida por instalações no país. Após essa corrida, a tendência é de estabilização do mercado e, possivelmente, uma elevação nos preços dos módulos”, explica.

Marcus Carvalho, gerente de Suporte Técnico e Produtos da Canadian Solar.

Imagem: Canadian Solar

Participação de mercado e desafios locais

A Canadian Solar deteve entre 23% e 25% do market share brasileiro em 2023, com um fornecimento de cerca de 3,8 GW. No entanto, em 2024, a empresa projetou um volume de entregas reduzido para 2 GW, reflexo direto das mudanças regulatórias no segmento de geração distribuída (GD) e da estagnação dos projetos de grande escala.

“Este ano foi basicamente movido por instalações residenciais”, destaca o senior sales manager da empresa, Carlos Ribeiro. “A baixa qualificação da mão de obra nesse segmento tem feito com que muitos optem por módulos de menor qualidade, o que abre espaço para fornecedores Tier 2 e 3, com preços mais baixos e menor desempenho técnico”.

Carlos Ribeiro, gerente de Vendas da Canadian Solar.

Imagem: Canadian Solar

Apesar disso, a Canadian garante que tem capacidade instalada para atender até metade do mercado nacional. A limitação, segundo os executivos, não está na produção, mas sim na operação e logística, considerando o atual cenário pulverizado, com projetos de menor porte espalhados pelo país.

Preços e projeções para o mercado

Os módulos Tier 1 no Brasil estão sendo comercializados, em média, entre US$ 0,095 e US$ 0,105 por watt-pico. A expectativa da Canadian é de um aumento gradual nos preços ainda em 2025, tanto pelo fim dos incentivos chineses quanto pela pressão dos fabricantes por melhores margens.

“O mercado prevê um target de US$ 0,12 FOB, mas não sabemos se o comprador brasileiro vai aceitar”, comenta Carvalho. “A Canadian foi a única fabricante com resultado positivo no último balanço, enquanto outros estão operando com prejuízo. Isso pode acelerar mudanças no mercado, especialmente se os players com menor qualidade técnica perderem fôlego”.

Tecnologia: TOPCon segue dominante, HJT em expansão

A tecnologia TOPCon ainda será a principal aposta global nos próximos anos. Estudos internos da Canadian indicam que essa tecnologia representará até 80% da produção mundial até 2027, com possível queda em 2028, quando novas opções como Perovskita e Tandem devem começar a ganhar tração.

No entanto, a empresa já está se movimentando para o futuro. “Até o fim de 2025 teremos 1,5 GW de capacidade produtiva de HJT (heterojunção) na China. Em 2026, somaremos 5 GW globalmente, com fábricas nos EUA também”, afirma Carvalho. A Canadian já produz Back Contact, mas ainda de forma limitada. “Hoje é mais uma aposta do que um produto para o mainstream”.

Módulo fotovoltaico Canadian TOPCon CS7N-TB-AG backside tilt.

Política de importação e gargalos tributários

Entre os principais entraves para novos projetos no Brasil, os executivos destacam a imprevisibilidade das regras de importação. A mudança abrupta da alíquota de importação, que saltou de 0% para 25% em menos de um ano, foi especialmente prejudicial.

“Projetos de utility scale, com financiamentos externos e aprovações de longo prazo, não conseguem se planejar nesse cenário. A política energética precisa ser mais alinhada ao plano decenal da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). As regras de importação têm que conversar com esse planejamento”, defende Ribeiro.

A empresa também critica o modelo atual de nacionalização: “Hoje o Brasil tem montadores, não fabricantes. Um módulo nacional custa três vezes mais que um importado. Sem uma indústria de base forte, é inviável competir”, completa.

Curtailment, fusões e poucas perspectivas de novos projetos

Outro problema estrutural que está travando o setor é o curtailment, a limitação de despacho de energia já contratada. Para a Canadian, esse fator compromete a previsibilidade dos retornos e inibe novos aportes em geração centralizada.

“A nossa visão é que 2025 e 2026 serão anos de poucas implementações. Veremos muitas fusões, trocas de ativos e reestruturações. A energia está barata, os juros estão altos e não há perspectiva de novos leilões. É um cenário de espera”, aponta Ribeiro.

Apesar disso, a empresa acredita que o segmento de geração distribuída em baixa tensão deve sustentar o mercado no curto prazo, ainda que sem grandes crescimentos.

Aposta global em armazenamento

Na contramão da desaceleração da geração centralizada, o mercado de baterias é visto como uma peça-chave para o futuro da Canadian Solar. A empresa prevê a instalação global de até 13 GWh em baterias em 2025, com contratos que somam US$ 3,2 bilhões.

“Bateria não é o futuro. É o presente. Com os apagões no Chile e no Equador, está claro que o armazenamento é essencial. A Canadian tem o maior background técnico nessa área entre os fabricantes de módulos”, afirma Carvalho.

No Brasil, a empresa também defende o leilão específico para baterias anunciado recentemente, mas alerta para o peso da carga tributária e a falta de uma regulamentação clara como os principais obstáculos para a expansão do setor.

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