Reflexões sobre o avanço do BIPV no mundo e nossa trajetória no Brasil

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Recentemente, tive o privilégio de participar de dois eventos internacionais que trouxeram à tona importantes discussões e insights sobre o estado atual e o futuro da arquitetura solar no mundo. Esses eventos não apenas ampliaram meu conhecimento sobre o assunto, mas também me levaram a refletir sobre o papel do Brasil nesse cenário global em constante evolução.

O primeiro foi o curso “Advanced Building-integrated PV“, realizado em 11 de abril de 2024 pela Solar Explain, onde tive a oportunidade de aprender com o renomado engenheiro civil austríaco DieterMoor. Durante cinco horas intensas, nos aprofundamos nos detalhes dos projetos BIPV, explorando exemplos de sucesso, ferramentas de simulação e soluções construtivas.

Turma do curso da Solar Explain com o engenheiro civil Dieter Moor.

O segundo evento foi o PVMI PV Market Insights, realizado na Coreia nos dias 24 e 25 de abril. Fui convidada a palestrar sobre nossa experiência com BIPV no Brasil em uma sessão que abordou diversos temas e exemplos de arquitetura solar pelo mundo.

Palestra que ministrei no evento PVMI Market Insights na Coreia.

Neste artigo, compartilho minhas principais reflexões ao acompanhar, aprender com outros especialistas e identificar o que já fizemos e o que já estamos fazendo no país.

Panorama Global

A demanda por sustentabilidade nas edificações urbanas, responsáveis por 39% das emissões de CO2 globais, está crescendo. As instalações de rooftops (módulos fotovoltaicos sobre telhados) apresentaram crescimento expressivo nos últimos anos, destacando-se em países como Alemanha, Brasil, Polônia e Itália. Em paralelo, a tecnologia fotovoltaica não apenas evolui para oferecer soluções mais estéticas e eficientes para a arquitetura, mas também vem se tornando mais acessível e, assim, o mercado de BIPV vem ganhando destaque. Atualmente valorado em US$ 19 bilhões, expectativa de que esse mercado atinja US$ 144 bilhões de dólares até 2032, indicando um crescimento robusto, contínuo e promissor.

No entanto, o caminho é desafiador em todas as partes do mundo e exige ações conjuntas entre os principais atores da construção civil.

No curso que fiz com Dieter, ele nos mostrou inúmeros projetos de sua autoria executados com maestria, tanto do ponto de vista arquitetônico quando do ponto de vista da integração do elemento fotovoltaico na edificação. Pude ver exemplos reais de fachadas ventiladas, fachadas unitizadas, coberturas feitas com módulos fotovoltaicos semitransparentes. Em comum, todas tinham o BIPV na essência do projeto arquitetônico, mimetizando a geração energética com o envelope construído. Sua aula foi completa, abrangendo detalhes construtivos, estudos de geração energética e qualidade estética em todos os projetos.

Outro profissional com grande experiência em BIPV que tive o prazer de ouvir foi o arquiteto alemão Tjerk Reijenga. Reijenga, que possui escritório na Holanda, compartilhou seus projetos de elevado grau de integração fotovoltaica no evento PVMI e fez uma importante provocação. Ele chamou a atenção para o fato de que os maiores escritórios de arquitetura do mundo ainda não estão olhando para a tecnologia fotovoltaica como aliada. Mostrou exemplos de projetos com energia solar desenvolvidos por escritórios de grande notoriedade na arquitetura que apenas aplicaram módulos sobre as coberturas.

Dieter e Reijenga fazem parte de uma minoria de profissionais capacitados a projetar sistemas fotovoltaicos verdadeiramente intrínsecos ao design arquitetônico. Esta ausência de arquitetos e engenheiros com domínio da tecnologia foi uma das principais barreiras apontadas pelos palestrantes da conferência PVMI.

Em síntese, posso destacar os seguintes desafios citados durante as apresentações:

– Falta de legislação específica para sistemas BIPV;

Desconhecimento técnico dos profissionais envolvidos nos projetos de arquitetura;

– Falta de incentivos para tornar o investimento mais vantajoso ao consumidor final;

– Custos iniciais elevados quando comparados com materiais convencionais da construção;

Pouco espaço disponível na edificação para gerar toda sua energia;

– Definição de responsabilidades e garantias nos serviços;

– Falta de experiência dos serviços de instalação.

Para fomentar o BIPV, a IEA-PVPS desenvolve importantes relatórios com a participação de pesquisadores e profissionais internacionais abordando diversos tópicos citados como barreiras: exemplos práticos de BIPVs pelo mundo, formas de aplicação na arquitetura, diretrizes para segurança, estudos de desempenho em função de sombreamentos e posicionamentos dos módulos, estudos de custos dos sistemas fotovoltaicos em comparação com materiais de revestimento convencionais, entre outros.

Arquitetura Solar no Brasil

Nestas trocas que venho tendo com arquitetos, engenheiros e pesquisadores de outras partes do mundo, percebi que estamos caminhando lado a lado com outras nações nesse desenvolvimento. Aqui também temos desafios significativos a superar e eles não são tão diferentes dos observados em outros países.

O principal desafio é desconhecimento. Assim como no restante do mundo, temos pouquíssimos escritórios de arquitetura que dominam verdadeiramente a tecnologia fotovoltaica e têm a capacidade de integrar os módulos solares de forma eficiente e esteticamente atraente em seus projetos. Aqui também temos renomados escritórios de arquitetura ainda prevendo a geração energética apenas dispondo módulos sobre lajes, em vez de incorporá-los funcionalmente à arquitetura.

No entanto, é encorajador observar que já existem numerosas tecnologias desenvolvidas especificamente para a integração de módulos solares na arquitetura de maneira eficiente e esteticamente agradável, inclusive sendo fabricadas no Brasil. Temos diversas opções em cores, formatos e potências a nossa disposição para a integração de módulos conforme desejo do projetista. Estamos também desenvolvendo estruturas aptas a vedar e suportar os módulos fotovoltaicos, garantindo estanqueidade e solucionando uma importante questão funcional.

Além disso, o número de arquitetos interessados em aprimorar seu conhecimento nessa área está crescendo, embora ainda seja consideravelmente pequeno em comparação com o total de arquitetos existentes no Brasil.

É preciso projetar de forma mais sustentável e a chave é a arquitetura solar

As mudanças climáticas estão acontecendo e temos um aquecimento global clamando por um freio do consumo de combustíveis fósseis. A oportunidade que a tecnologia oferece de integrar-se à envoltória das edificações precisa ser cada vez mais explorada.

Os módulos fotovoltaicos precisam ser vistos como aliados da construção civil, pois além da geração energética, cumprem perfeitamente funções de vedação, sombreamento e cobertura, tudo isso com uma estética muitas vezes superior à de elementos construtivos convencionais.

Não faz sentido projetar novas edificações ineficientes e que não gerem a própria energia. Fazer isso é projetar para o passado. O futuro pede edificações mais sustentáveis. O futuro pede arquitetura solar!

Serviço especializado no Brasil

Se você deseja um projeto de arquitetura solar ou uma consultoria, entre em contato (clarissa@arquitetandoenergiasolar.com.br). Podemos te auxiliar, do projeto à execução, em todas as soluções para coberturas e fachadas. Se quiser se capacitar em arquitetura solar, clique no banner abaixo.

Clarissa Zomer é arquiteta, doutora em Engenharia Civil, especialista em sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura. Atuou como pesquisadora do Laboratório Fotovoltaica UFSC por 17 anos e em 2020 fundou a Arquitetando Energia Solar para prestar consultorias, realizar projetos, e oferecer cursos e palestras sobre arquitetura solar. Foi responsável por grandes projetos BIPV, como o próprio Laboratório Fotovoltaica UFSC, por estudos de viabilidade técnica BIPV, como o Mineirão Solar e a Megawatt Solar da Eletrosul e, recentemente, como os Brises Fotovoltaicos do Instituto Germinare. Possui mais de 60 MWp de projetos de sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura e mais de 50 artigos publicados em revistas internacionais, nacionais e em congressos. Clarissa é também Diretora de BIPV – Fotovoltaica na Arquitetura e Construção da ABGD e Diretora de Projetos Arquitetônicos da Garantia Solar BIPV.

Os pontos de vista e opiniões expressos neste artigo são dos próprios autores, e não refletem necessariamente os defendidos pela pv magazine.

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