Participação de mulheres no setor solar no Brasil pode estar abaixo da média global

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A participação de mulheres no setor solar no Brasil pode estar abaixo da média global, considerando os últimos dados disponíveis. Um estudo da Irena publicado em 2022, referente a 2021, estimou essa participação em 40%. Já no Brasil, no setor de geração distribuída, segundo estudo publicado em fevereiro pela Greener, a participação de mulheres cresceu em 2022, para 24%.

Uma pesquisa realizada em 2019 pela Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (Mesol) identificou que a participação das mulheres no setor solar brasileiro vinha reduzindo desde 2016, chegando a 28% em 2019. Na média histórica até então, as mulheres representaram 32% da força de trabalho. A análise considerou informações de 1.268 empresas do setor solar brasileiro, coletadas via Rais.

Barreiras e recomendações

A pesquisa da Mesol também entrevistou 251 mulheres trabalhadoras do setor fotovoltaico no Brasil. Quase a totalidade das entrevistadas afirmou ter identificado barreiras e desafios para se inserirem (92,8%) e permanecerem (94%) no setor. 

As maiores barreiras citadas por elas são o machismo estrutural e seus desdobramentos, como falta de credibilidade na qualidade do trabalho desenvolvido por elas, principalmente em áreas técnicas. 

O estudo, que pode ser lido na íntegra aqui conclui que é necessária mais capacitação para mulheres, especialmente realizada por outras mulheres; assim como a participação de mais homens nas discussões sobre igualdade de gênero.

Mulheres aumentam participação em GD 

No setor de geração solar distribuída no Brasil, a proporção de mulheres nas empresas de geração distribuída subiu de 21% em 2021 para 24% em 2022, de acordo com o Estudo Estratégico de Geração Distribuída, da Greener.

Ainda assim, 6% das empresas que participaram da pesquisa Greener declararam não ter nenhuma colaboradora. E somente em 4,4% das empresas as mulheres são a maioria dos funcionários.  

Na maior parte das empresas que participaram da pesquisa, ou 43%, as mulheres representam até 10% dos colaboradores. Empresas nas quais as mulheres representam entre 41% e 50% dos colaboradores, são apenas 9% dos respondentes. 

Apesar de a participação de mulheres nas empresas de geração distribuída ter aumentado, houve uma queda na participação feminina em áreas técnicas, que saiu de 15% em 2020 para apenas 8% em 2022.  

Por outro lado, a participação aumentou nas áreas Comercial, de 26% para 30%, e de Marketing, de 5% para 11%. Na área Administrativa, onde têm maior participação, as mulheres representam 48% da força de trabalho das empresas de GD, contra 55% em 2021. 

A Greener entrevistou 4.938 empresas integradoras de todas as regiões brasileiras, no período de 28/11/22 a 17/01/23, das quais 3.475 respostas foram validadas.   

40% da força de trabalho do setor solar global 

No mundo, as mulheres representam 40% da força de trabalho do setor fotovoltaico, de acordo com o relatório Solar PV: Gender Perspective, da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena). 

É uma representação aquém da participação das mulheres na economia global, entre todos os setores, que fica em 45,9% da força de trabalho. Mas superior à média de 32% de participação no setor de energias renováveis em geral. No setor eólico global, as mulheres são 21% da força de trabalho e, no setor de óleo e gás, 22%. Os dados são de 2021. 

Entre as diferentes áreas dos setor solar global, a participação das mulheres é maior na Administração (58%). Nas áreas Stem, são 32%. 

Nos postos de liderança das empresas e organizações atuando em energia solar no mundo, as mulheres representam 30% da força de trabalho, próximo da média de 31% de participação em todos os setores da economia. 

Enquanto na região Ásia-Pacífico as mulheres representam 40% da força de trabalho no setor solar, na Europa e América do Norte, a participação feminina é de 27%. Na América Latina e Caribe, as mulheres ocupam 33% dos postos de trabalho e, na África, 38%. 

Entre os diferentes elos da cadeia produtiva solar, as mulheres têm participação maior na manufatura, onde ocupam 47% da força de trabalho. Na instalação, por outro lado, são apenas 12%.  

Fintech solar liderada por mulheres  

Na fintech Meu Financiamento Solar, especializada em financiamento para projetos de energia solar no Brasil, 52,6% do quadro de colaboradores é formado por mulheres (153 de 291 no total). De acordo com informações divulgadas à imprensa, nos últimos três anos a companhia, liderada Carolina Reis e Iasmym Jorge, registrou crescimento de 163% nos negócios e viabilizou a implantação da tecnologia fotovoltaica em mais de 130 mil unidades consumidoras espalhadas pelo país. 

Criada de forma independente em 2017 como uma startup que se propunha a tornar os sistemas fotovoltaicos mais acessíveis aos consumidores em geral, a fintech oferece financiamento, 100% digital, de kits solares para residências e empresas. É também uma empresa investida pelo Banco BV, que atende consumidores finais, instaladores, integradores e distribuidores de equipamentos fotovoltaicos. 

O crescimento do Meu Financiamento Solar também resultou em um aumento no quadro de colaboradores, que, ao longo de 2022, foi elevado em 167%. Os homens representam 47,4%, com 138 cargos. No caso dos quadros de liderança, a fintech possui atualmente 59,4% de presença feminina. 

Violência de gênero e desigualdade racial 

Os dados levantados pela pesquisa da Rede MESol indicam que a violência de gênero e a desigualdade racial são questões fortes e generalizadas no Brasil, representando grandes barreiras também para a participação no setor solar: 57% das profissionais do setor que responderam ao questionário já sofreram algum tipo de violência, com destaque para a violência psicológica (47,4%).

Ainda, 71,7% já foram discriminadas em seu ambiente profissional, especialmente por questões de gênero. Além disso, apesar de o Brasil ser composto, em sua maioria, 56,2%, por pessoas negras, apenas 29,5% das mulheres do setor que responderam ao questionário são negras (pretas ou pardas).  

O resultado pode ser indicativo tanto da desigualdade racial no setor quanto de lacunas na pesquisa, ao não acessar a diversidade do segmento de energia solar.

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