O crescimento acelerado da geração distribuída, especialmente da solar fotovoltaica instalada em residências, comércios e pequenas empresas, tem provocado uma transformação estrutural na operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) e ampliado os desafios para a segurança elétrica do país. O alerta foi publicado ontem, 16/12, no PAR/PEL 2025, publicação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) que reúne as análises do Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo para o ciclo 2026–2030.
De acordo com o documento, a micro e minigeração distribuída (MMGD) já supera 43 GW de capacidade instalada e pode alcançar cerca de 65 GW até 2029, passando a atender, em determinados momentos do dia, uma parcela majoritária da demanda nacional. As projeções indicam que, em instantes específicos, a geração conectada às redes de distribuição poderá suprir mais de 60% da carga do SIN, sobretudo no período diurno.
Entre os principais impactos operacionais identificados pelo ONS está o avanço do fluxo reverso de potência — situação em que a energia gerada nas redes de distribuição passa a fluir em direção à transmissão. O diagnóstico do PAR/PEL 2025 aponta que 18 estados brasileiros já apresentam subestações com possibilidade de operar nesse regime, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
Outro ponto crítico é a redução da demanda supervisionada mínima, que limita a capacidade do operador de ajustar a geração centralizada. Segundo os estudos, esse fenômeno aumenta o risco de perda de controlabilidade do sistema, especialmente em dias de baixo consumo, como domingos e feriados com elevada produção solar.
O ONS destaca ainda o crescimento das restrições de geração em usinas centralizadas, motivadas pela elevada participação da geração distribuída no atendimento à carga diurna. As análises indicam que, sem medidas adicionais, episódios de corte de geração renovável e intervenções emergenciais podem se tornar mais frequentes ao longo do horizonte de planejamento.
Esse cenário exige maior flexibilidade operativa, reforço no controle de tensão da rede básica e coordenação mais intensa do despacho de usinas síncronas, essenciais para a estabilidade do sistema elétrico brasileiro.
Para mitigar os riscos, o ONS vem desenvolvendo uma série de iniciativas em conjunto com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), distribuidoras e demais agentes do setor. Entre elas estão a atualização do Módulo 3 do PRODIST, o Plano de Gestão de Excedentes de Energia na Rede de Distribuição e o aprimoramento da modelagem da carga e da MMGD nos estudos elétricos.
O operador também reforça a necessidade de atuação mais ativa das distribuidoras como Operadoras de Sistemas de Distribuição (DSOs), em coordenação com o ONS, para garantir a integração segura dos recursos energéticos distribuídos ao SIN.
Apesar dos desafios, o relatório ressalta que a geração distribuída não deve ser vista apenas como um fator de risco. Quando equipada com funcionalidades de gerenciamento e controle adequadas, pode se tornar parte da solução, contribuindo para a flexibilidade e a resiliência do sistema elétrico em um cenário de transição energética cada vez mais descentralizado.
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