PLV 10 acelera virada do mercado para soluções com baterias e geração junto à carga, avalia GreenYellow

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A aprovação da Medida Provisória 1.304, convertida no Projeto de Lei de Conversão 10 (PLV 10) e agora encaminhada à sanção presidencial, deve marcar um ponto de inflexão para o mercado de energia descentralizada no Brasil — com impactos diretos sobre a geração distribuída (GD), a autoprodução e o uso de baterias de armazenamento. Em entrevista à pv magazine Brasil, o diretor de Estratégia Comercial da GreenYellow, Fernando Oliveira, avalia que as mudanças trazidas pela medida tendem a consolidar uma transição que já estava em curso, com a valorização cada vez maior de projetos menos dependentes da rede.

A empresa já vinha redirecionando sua estratégia nos últimos dois anos com essa expectativa. “A gente pivotou completamente para comércio e indústria, com foco em soluções zero grid e em armazenamento de energia. Essa é uma tendência global, que se reforça agora com a MP”, afirma Oliveira.

Na avaliação do executivo, a nova legislação — que, entre outros pontos, reduz benefícios tarifários para projetos de geração renovável centralizados e redefine novas regras da autoprodução — cria um ambiente mais competitivo para soluções que dispensam o uso da rede. “O mercado está sendo desenhado justamente para ter menos uso da rede. E as soluções que a gente oferece, como armazenamento e eficiência energética, são preservadas e até incentivadas pela medida”, explica.

O fim dos descontos aplicados às tarifas de uso do sistema (TUST/TUSD) para fontes renováveis e a expectativa de aumento dos encargos setoriais, que dobram o custo da ponta para grandes consumidores, tornam o armazenamento mais atrativo, avalia Oliveira. “Muda o jogo para bateria no Brasil inteiro. O cliente vai pagar mais caro pela energia na ponta, enquanto nós conseguimos reduzir o custo do produto [com o enquadramento de baterias no Reidi]. Isso cria um efeito muito favorável”, afirma.

O diretor de Estratégia Comercial da GreenYellow, Fernando Oliveira.

Hoje, cerca de 80% dos projetos da GreenYellow são zero grid, ou seja, conectados diretamente à carga, sem injeção na rede. A tendência, diz Oliveira, é de que essa participação aumente à medida que as tarifas subam e a regulação encareça o uso da infraestrutura elétrica. “Vemos um movimento claro de aumento de encargos. E, para nós, é mais do mesmo: quanto mais cara a rede, mais viáveis se tornam nossas soluções”, completa.

Baterias ganham tração e devem viver “avalanche” de projetos

A MP 1.304 também deve impulsionar a adoção de sistemas de armazenamento em baterias. Oliveira acredita que 2026 será “um dos melhores anos” para esse mercado. “Vamos viver uma avalanche de instalação de bateria. É uma solução boa para o cliente e boa para o sistema elétrico”, diz.

A empresa opera com um modelo de leasing operacional (ou BOT, da sigla em inglês para Build, Operate and Transfer), também conhecido como BESS as a service, no qual o cliente não compra o equipamento, mas o aluga, pagando apenas pelo serviço e manutenção. “É um modelo de infraestrutura. Eu construo, opero e, ao fim do contrato, transfiro o ativo”, explica.

Segundo ele, o interesse por baterias entre clientes corporativos já é notável. “Hoje, quando eu falo com um grande consumidor, a primeira coisa que ele pergunta é sobre bateria. Existe uma demanda crescente, e a MP vai transformar essa curiosidade em projetos viáveis”, comenta. Apesar de o mercado ainda estar no início da curva de adoção, Oliveira vê amadurecimento rápido: “Estamos nos early adopters, mas o benefício econômico vai falar alto. A tendência é exponencial”.

Viabilidade em todas as regiões pós MP

Tarifas elevadas, boa irradiação e demanda robusta são fatores que definem as áreas mais promissoras para novos projetos desenvolvidos pela GreenYellow. “Projetos junto à carga precisam desse tripé. O Centro-Oeste, por exemplo, tem uma economia pujante, tarifas altas e boa irradiação. É uma das regiões mais atrativas hoje”, afirma Oliveira, que concedeu a entrevista enquanto estava no Mato Grosso.

Antes da aprovação da MP, o maior potencial para baterias estava concentrado no Norte e Nordeste, avalia Oliveira. “Pós-MP, praticamente todas as distribuidoras passam a oferecer condições para que o custo com bateria seja menor do que o custo de ponta. Isso muda tudo”, destaca.

Para o executivo, o mercado brasileiro de baterias ainda é nascente, mas o cenário regulatório e econômico aponta para aceleração rápida. “Até agora, muita gente falava sobre baterias, mas poucos venderam projetos. Isso vai mudar no ano que vem. As condições estão dadas para que o armazenamento se torne peça central da transição energética no Brasil”, conclui.

Autoprodução mais adequada e GD sob incerteza

Oliveira avalia que os efeitos práticos das mudanças nas regras para a geração distribuída — como a cobrança do Encargo de Complemento de Recursos (ECR) quando o teto do orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) for ultrapassado —,  ainda são incertos. “Há pontos que não estão claros, como o cálculo do ECR e o teto da CDE. Fica difícil precificar”, observa.

No caso da autoprodução, ele considera que as mudanças corrigem distorções sem afetar o modelo da GreenYellow. “O que foi atacado foi o modelo de autoprodução por equiparação, que a gente não fazia. Havia uma assimetria, um arranjo societário que acabava despistando um pouco as regras do setor. Agora, a lei coloca a autoprodução nos moldes corretos: cliente com participação societária e demanda mínima de 3 MW”, diz.

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