Risco de apagão no Natal e Ano Novo aumenta urgência de armazenamento, alerta Volt Robotics

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O setor elétrico brasileiro enfrenta um dilema crítico: excesso de geração de energia nos períodos de baixa demanda, especialmente nos feriados como Natal e Ano Novo, que podem colocar em risco a estabilidade da rede. Segundo o diretor-geral da Volt Robotics, Donalto Filho, “o sistema pode ficar incontrolável se houver muito sol e pouca carga. Por isso, medidas estruturais e liderança forte são essenciais para reunir agentes e criar soluções de longo prazo, evitando apagar incêndio com soluções pontuais”.

O executivo pontua que a solução estrutural passa pelas baterias, que funcionam como o maestro dessa orquestra elétrica: “A bateria é o maestro, e as fontes geradoras são os instrumentos. Quem consegue fazer essa orquestra tocar de forma coordenada é capaz de trazer estabilidade, reduzir custos e aproveitar melhor toda a energia disponível”, explica.

A instalação de sistemas de armazenamento não é apenas estratégica, mas urgente. Hoje, a tributação sobre baterias chega a 40% a 60%, tornando o investimento menos atraente e retardando a expansão do setor. Uma redução progressiva de impostos, combinada com incentivos para instalação residencial, industrial e em autoprodutores, é vista como fundamental para acelerar a adoção e resolver problemas sistêmicos, como o curtailment, que já gera prejuízos bilionários.

Donato Filho é o diretor-geral da consultoria Volt Robotics.

Imagem: Volt Robotics

O potencial de investimento é expressivo. Até 2030, o mercado de baterias pode movimentar R$ 7 a 8 bilhões, valor que pode triplicar com políticas estruturadas de incentivo à produção local e importação de células. Grandes players internacionais já demonstram interesse, e empresas brasileiras como Livoltek, UCB, WEG e Moura também se posicionam para liderar o setor no país.

Com feriados em que é esperada alta geração e baixa demanda se aproximando, a urgência é clara: reduzir impostos, incentivar baterias e coordenar todos os agentes do setor para evitar apagões. O cenário é preocupante mesmo com a promessa do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira,  de que o governo realizará um leilão para baterias ainda em 2025, em dezembro.

Baterias e a Segunda Onda do setor

O setor solar está presente em quase todos os projetos da Volt Robotics, tanto para autoprodução quanto para análise de compra de energia. Donato destaca que a energia solar é altamente modularizável: “A construção é rápida, o risco é menor e comparando com outras indústrias, como agricultura ou construção civil, a solar é a mais modularizável que existe hoje no mundo. A modularização permite que os processos evoluam rapidamente, repetindo etapas com segurança e aprendizado contínuo.”

Ele acrescenta que o próximo passo do setor envolve baterias, fundamentais para resolver o curtailment, excesso de energia gerada no período da manhã. “A bateria é como uma máquina do tempo: guarda energia e permite injetá-la na rede em outro momento, como no horário de pico. Precisamos incentivar que o consumidor instale painéis e baterias, reduzindo impostos e acelerando a produção local para gerar empregos e riqueza”, defende Donato.

Donato pondera que justamente o avanço da geração distribuída no país cria essa necessidade. “O perfil dos cortes energéticos coincide com o da geração solar. A MMGD gera energia na hora do sol, contribuindo para o excesso de geração matinal. É justo que haja divisão de custos, mas não pode ser a única medida. O acesso à tecnologia de armazenamento deve ser incentivado: quem aderir, reduz desperdício; quem não aderir, arca com custos.”

Segundo ele, a primeira onda do solar no Brasil foi um sucesso, mas já atingiu seus limites. “O modelo de instalar painel e considerar a rede infinita se esgotou. A segunda onda precisa agregar valor adicional, combinando painéis e armazenamento, para equilibrar o sistema e reduzir o custo para todos os consumidores.”

Grandes consumidores, tarifa inteligente e flexibilização

Donato defende soluções que envolvam todos os agentes do sistema: grandes consumidores, transmissoras, distribuidoras e usinas. “Pega os grandes consumidores: podemos traçar uma curva de referência e oferecer energia barata se eles aumentarem consumo de manhã. Fazemos leilões, geradores vendem energia quando sobra. Funciona no atacado, trazendo grandes consumidores para colaborar com os transmissores.”

Além disso, ele propõe tarifas inteligentes. “Distribuidoras podem acelerar medição inteligente e tarifação diferenciada: preço mais baixo de manhã, mais alto no fim do dia. As pessoas podem adaptar suas rotinas, lavar roupa, passar roupa, e economizar, além de carregar veículos elétricos com incentivo tarifário. Outra oportunidade é o Vehicle to Grid (V2G) que ainda é pouco discutido, mas é uma grande oportunidade: carros podem ser carregador e injetar energia na rede em horários estratégicos”.

Donato também destaca a flexibilização das hidrelétricas e térmicas. Se houver incentivo econômico, hidrelétricas podem gerar menos de manhã e mais à tarde, aproveitando preços mais altos. Térmicas inflexíveis também podem se beneficiar de tecnologia e receita extra para serem mais flexíveis. A ideia é ajustar geração e consumo para reduzir cortes e desperdícios, e todos podem ganhar com isso”.

Benefícios sistêmicos da bateria

A bateria é apontada como instrumento central do sistema elétrico. “Ela permite carregar quando o preço está baixo e descarregar quando o preço está alto, respondendo à lei da oferta e da demanda. Ela também ajuda a reduzir picos de consumo e diminuir a demanda contratada, protegendo fábricas de desligamentos abruptos e economizando na rede”.

Segundo Donato, o benefício da bateria se aplica a todos os tipos de agentes, como geradores, autoprodutores e consumidores residenciais. “Cada modelo de negócio usa a bateria de forma diferente: usinas que vendem contratos de leilão querem volume, quem vende no mercado livre quer arbitragem de preço, e autoprodutores podem reduzir encargos ao modular consumo. A bateria é o maestro dessa orquestra elétrica, coordenando geração e consumo de forma eficiente.”

Indústria de baterias no Brasil

Donato projeta crescimento expressivo da indústria de baterias: “Atualmente temos players como Livoltek UCB, WEG e Moura. Internacionalmente, 56% do mercado é CATL, 16% BYD, 12% LG. No Brasil, podemos atrair ao menos 10 grandes players. Até 2030, estimamos 7 a 8 bilhões de reais de investimento. Com um plano estruturado, esse valor pode triplicar.”

Ele reforça que a bateria tem múltiplas aplicações: residencial, veículos elétricos, industriais, comerciais e portáteis. “É fundamental criar incentivos fiscais, acelerar instalação de sistemas de armazenamento e garantir segurança elétrica e flexibilidade para toda a rede”, pontua o executivo.

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