Período úmido precoce pode atenuar geração solar, mas fonte segue sendo estratégica para o país

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Após dois anos com atraso no início da estação chuvosa na Amazônia, que elevou os níveis de irradiância solar em todo o Brasil, as projeções meteorológicas de 2025 indicam um cenário diferente. A expectativa é de um início de período úmido mais precoce ou dentro da média histórica, que se estende de outubro a março, auxiliando na formação de nuvens e pancadas de chuva. A maior cobertura de nuvens pode atenuar os picos de radiação solar observados nos últimos anos, mas sem ocasionar irradiância abaixo dos níveis normais.

No ano passado, a irradiância solar ficou acima da média em grande parte do Sudeste e em Goiás, enquanto as anomalias negativas foram mais concentradas no Oeste, especialmente em Mato Grosso (Figura 1). Para este ano, a tendência é que essas anomalias negativas avancem em direção ao centro do país, ampliando as áreas com desvios abaixo da média. Ainda devem ocorrer regiões com irradiância acima do normal, mas os excessos devem ser mais moderados.

Figura 1: Mapas com o histórico de irradiação solar (à esquerda), média da irradiação solar em setembro de 2024 (centro) e anomalia de irradiação solar em setembro de 2024 (à direita) – Fonte: Tempo OK

Imagem: Tempo OK

As precipitações serão mais frequentes sobre a porção oeste e noroeste da Amazônia e em parte da Região Sul do Brasil. No Sudeste, espera-se maior quantidade de nuvens e pancadas de chuva de forma mais antecipada do que foi observado nos últimos anos. No Nordeste, a chance de nuvens é menor, especialmente no sertão, mas a expectativa é de que a irradiância diminua com o avanço da primavera, que começará no dia 22 de setembro, às 15h19 de Brasília.

Em 2023 e 2024, as águas mais quentes que o normal no Atlântico Tropical Norte enfraqueceram o transporte de umidade para a América do Sul, atrasando o início do período úmido na Amazônia e favorecendo dias mais ensolarados em setembro. O que gerou um melhor desempenho das placas solares.

Em 2025, embora o Atlântico Tropical Norte siga ligeiramente aquecido, a anomalia é mais fraca. Na região equatorial do oceano, águas mais frias intensificam os ventos alísios, contribuindo para o transporte de umidade para o continente, na direção da América do Sul e do norte do Brasil.

Imagens de satélite (Figura 2), mostram o início da convecção amazônica agora no mês de agosto. Com o aumento da radiação solar sobre a região amazônica e da umidade do ar, começam a se formar nuvens carregadas, responsáveis pelas primeiras pancadas de chuva. Aos poucos, a convecção aumenta e a maior umidade do ar espalha pelo Brasil, iniciando o período úmido.

Figura 2: imagem do satélite Goes do dia 20/08/2026, às 18h. As áreas em vermelho em Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Amapá indicam a convecção da Amazônia.

Apesar das variações climáticas, a energia solar segue como uma das fontes que mais crescem no Brasil. De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN) 2025, a geração solar fotovoltaica somou 70,7 TWh em 2024, um crescimento de 39,6% frente ao ano anterior. A capacidade instalada alcançou 60 GW em agosto de 2025, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Esse avanço reflete não apenas o potencial natural do país, com altos níveis de irradiância em quase todas as regiões, mas também os investimentos em inovação, a redução dos custos de equipamentos e o fortalecimento de políticas públicas voltadas à energia limpa.

Neste contexto, o armazenamento de energia passa a desempenhar um papel crucial. A Nota Técnica Conjunta nº 13/2025 da ANEEL, voltada à regulamentação dos Sistemas de Armazenamento de Energia (SAEs) e das Usinas Hidrelétricas Reversíveis (UHRs), sinaliza um novo momento para o setor. A possibilidade de armazenar a energia gerada durante o dia, por meio de baterias, permite que sistemas fotovoltaicos operem com mais autonomia, mesmo à noite ou em períodos de baixa irradiação, sendo também uma solução para o curtailment.

Essa integração entre geração e armazenamento amplia a confiabilidade do sistema elétrico, reduz a intermitência da fonte solar e permite melhor gerenciamento da oferta energética. Além disso, fortalece a segurança energética do país e reduz a dependência de térmica, que é mais cara e poluente.

Com abundância solar, baixa sazonalidade e uma matriz elétrica cada vez mais diversificada, o Brasil tem condições excepcionais para consolidar a energia solar como pilar estratégico do seu desenvolvimento energético. À medida que tecnologias de armazenamento se tornam viáveis e a modernização regulatória avança, a energia solar tende a ocupar um espaço ainda mais relevante, não apenas como fonte complementar, mas como vetor de estabilidade, competitividade e descarbonização da economia.

Por Celso Olivera, meteorologista da Tempo OK

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