Com o aumento da participação da fonte solar na matriz elétrica brasileira, tanto nas redes de transmissão quanto nas de distribuição, cresce também a necessidade de flexibilidade e gerenciamento da geração e do consumo, que podem não ser simultâneos. Esse é um dos principais argumentos para a implantação de baterias no país, desde aplicações residenciais até os BESS (sigla em inglês para Battery Energy Storage Systems) em grande escala.
A participação da fonte fotovoltaica na matriz elétrica brasileira deve chegar a 32,9% ao final de 2029, saindo de 22,2% em dezembro de 2024. Nesse período, a capacidade instalada de aumentará de 51,7 GW para 88,2 GW — um crescimento de 36,5 GW. A previsão considera tanto a geração centralizada (GC) quanto a geração distribuída (MMGD) e é parte do Plano da Operação Energética 2025-2029, apresentado em julho pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).
Ao mesmo tempo, o armazenamento de energia solar tem o potencial de atrair R$ 44 bilhões em investimentos até 2030, segundo um estudo realizado pela ABSAE. Esse volume seria distribuído igualmente entre aplicações off grid, sistemas em escala de utilidade e aplicações em comércios e indústrias (C&I).
Uma parte significativa desse potencial de investimento está represada pela falta de clareza quanto à remuneração e regras de operação dos sistemas, o que só deve vir com a regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica sobre o tema.
Mas o mercado não está parado e a demanda por componentes de sistemas BESS aumentou 89% em 2024, com grande parte dos sistemas entrando em operação em 2025, segundo identificou o Estudo Estratégico de Armazenamento de Energia da Greener. A expectativa da consultoria é que o mercado movimente R$ 22,5 bilhões em investimentos até 2030 só em aplicações junto ao consumidor — o que exclui projetos do leilão de reserva de capacidade, por exemplo.
Até o final de 2024, o país acumulava 685 MWh de capacidade instalada, dos quais 70% estão em sistemas isolados. Só em 2024, foram adicionados 269 MWh — um salto de 29% em relação ao ano anterior. A confiabilidade energética é o principal vetor desse avanço: quedas frequentes de energia, que chegaram a 190 horas em algumas regiões do país, estão levando consumidores a buscar alternativas mais seguras e duráveis.
Potencial nas fronteiras energéticas e tarifas altas
A Greener elaborou um mapa de atratividade para o segmento de alta tensão, tanto no mercado livre quanto no regulado. O Pará se destaca: a distribuidora Equatorial Pará apresenta o maior potencial de redução de consumo no horário de ponta, com um delta tarifário de R$ 1.743,56 por MWh — o maior do país.
No setor produtivo, o agronegócio desponta como um dos maiores beneficiários do BESS. O uso de baterias em conjunto com a energia solar pode substituir geradores a diesel, reduzir custos e contribuir para metas de descarbonização. Mas ainda há desafios. “O público agro é conservador. É preciso educar sobre os benefícios técnicos e econômicos do armazenamento”, ressalta o CEO da Greener, Marcio Takata.
Um exemplo emblemático está no Extremo Oeste da Bahia, líder no uso de pivôs de irrigação, com aumento de 43% nos últimos dois anos. Apesar do crescimento, a região enfrenta sérias limitações de potência elétrica. Com subestações operando no limite, a expansão da agricultura depende de alternativas como o armazenamento.
A maior parte do armazenamento no Brasil ainda está nos sistemas isolados, especialmente na Região Norte. Desde 2018, mais de 62 mil unidades consumidoras com fontes intermitentes foram cadastradas, sendo 70,7% no Pará e 10,2% no Acre. Programas de universalização como o “Mais Luz para Amazônia”, lançado em 2020, avançaram pouco — menos de 5% da meta foi cumprida. Para acelerar a inclusão energética, o governo unificou o programa com o “Luz para Todos”, com nova meta de atender 226 mil unidades consumidoras até 2028.
The Smarter E South America
BESS as a Service
Empresas como a Matrix Energia e a Brasol têm apostado no modelo de armazenamento de energia por assinatura, como um serviço, para viabilizar novos projetos para clientes comerciais e industriais. Pioneira no modelo, a Matrix tem um acordo com a Huawei para viabilizar 750 MWh de armazenamento até 2027. Em junho, a companhia anunciou um acordo com a prefeitura de São Paulo para fornecer armazenamento para garagens de ônibus elétricos que fazem o transporte público na cidade, multiplicando por até seis vezes a capacidade de recarga atual. Um módulo BESS de 4,5 MWh integrado a carregadores ultrarrápidos, pode carregar ao menos 29 ônibus. A adoção da tecnologia possibilitará superar limitações na infraestrutura de rede elétrica, viabilizando as metas da cidade de substituição do diesel no transporte.
Autonomia energética nas residências
A procura por baterias não é apenas corporativa ou agrícola. Um estudo da Descarbonize Soluções analisou a performance de sistemas BESS em lares brasileiros. Considerando perfis típicos da população e cenários de consumo (normal, intenso e modo viagem), a análise mostrou que, com a configuração correta, é possível manter eletrodomésticos essenciais funcionando mesmo durante longas interrupções.
“A autonomia energética deixou de ser um luxo. Com o avanço da tecnologia e a frequência dos apagões, tornou-se uma necessidade”, explica Antônio Lombardi Neto, diretor de tecnologia da Descarbonize. “A combinação de bateria e energia solar traz conforto, segurança e independência.”
O estudo utilizou como base uma bateria de lítio do tipo LiFePO₄, com 4,8 kWh de capacidade e 6.000 ciclos de vida útil. A análise mostrou que mesmo lares com quatro pessoas conseguem manter luz, internet, geladeira e notebooks funcionando por horas — mesmo no modo de consumo intenso.
O Brasil ainda enfrenta obstáculos — altos custos de capital, carga tributária que pode chegar a 79% sobre o sistema e lacunas regulatórias. Mas a expectativa é que, até 2030, o país se consolide como referência regional em armazenamento, alavancado por leilões, programas federais e maior consciência de risco energético.
O desafio agora é acelerar esse movimento, ampliando o conhecimento técnico, adaptando modelos de negócio e criando uma percepção de valor real para o consumidor final.
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