As energias renováveis mantêm sua liderança em custos nos mercados globais de energia, confirma o novo relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) Renewable Power Generation Costs in 2024. O relatório confirma que as energias renováveis mantiveram sua vantagem de preço sobre os combustíveis fósseis, com reduções de custo impulsionadas pela inovação tecnológica, cadeias de suprimentos competitivas e economias de escala.
Em 2024, a energia solar fotovoltaica (FV) era, em média, 41% mais barata do que as alternativas de combustíveis fósseis de menor custo, enquanto os projetos eólicos terrestres eram 53% mais baratos. A energia eólica terrestre permaneceu como a fonte mais acessível de nova eletricidade renovável, a US$ 0,034/kWh, seguida pela energia solar fotovoltaica, a US$ 0,043/kWh.
No Brasil, o custo nivelado da eletricidade (LCOE) fotovoltaica subiu de US$ 0,042/kWh para US$ 0,048/kWh entre 2022 e 2024, ficando acima da média global no ano passado, embora ainda mais barato que nos Estados Unidos e na União Europeia. Isso acontece mesmo com o país tendo o maior fator de capacidade de projetos solares entre os mercado selecionados, de 20%, contra uma média global de 17%.
Por outro lado, o Brasil tem um dos LCOE mais baixos para novos projetos eólicos, a US$ 0,030/kWh, abaixo do LCOE médio global e apenas ligeiramente acima do LCOE na China, de US$ 0,029/kWh.
BESS a US$ 192/kWh
Os avanços tecnológicos além da geração também estão melhorando a economia das energias renováveis. O custo dos sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS) caiu 93% desde 2010, atingindo US$ 192/kWh para sistemas em escala de utilidade pública em 2024. Essa redução é atribuída à ampliação da escala de fabricação, à melhoria dos materiais e à otimização das técnicas de produção.
Armazenamento em baterias, sistemas híbridos, combinando energia solar, eólica e BESS, bem como tecnologias digitais, são cada vez mais vitais para a integração de energia renovável variável. Ferramentas digitais habilitadas por inteligência artificial (IA) estão aprimorando o desempenho dos ativos e a capacidade de resposta da rede. No entanto, a infraestrutura digital, a flexibilidade e a expansão e modernização da rede continuam sendo desafios urgentes, inclusive em mercados emergentes, onde todo o potencial das energias renováveis não pode ser alcançado sem mais investimentos.
Brasil evitou US$ 28,3 bilhões em custos com fósseis
As energias renováveis não são apenas competitivas em termos de custo em relação aos combustíveis fósseis, mas também vantajosas por limitarem a dependência dos mercados internacionais de combustíveis e melhorarem a segurança energética. Considerando todas as energias renováveis atualmente em operação, os custos evitados com combustíveis fósseis chegaram US$ 467 bilhões em 2024. No Brasil, foram evitados US$ 28,3 bilhões.
“Essa conquista é resultado de anos de inovação, direcionamento de políticas e mercados em crescimento. No entanto, esse progresso não é garantido. As crescentes tensões geopolíticas, tarifas comerciais e restrições no fornecimento de materiais ameaçam desacelerar o ritmo e aumentar os custos. Para salvaguardar os ganhos da transição energética, precisamos reforçar a cooperação internacional, garantir cadeias de suprimentos abertas e resilientes e criar estruturas políticas e de investimento estáveis, especialmente no Sul Global. A transição para as energias renováveis é irreversível, mas seu ritmo e justiça dependem das escolhas que fizermos hoje”, disse o diretor-geral da Irena, Francesco La Camera.
Embora sejam esperadas reduções contínuas de custos à medida que as tecnologias amadurecem e as cadeias de suprimentos se fortalecem, os desafios de curto prazo permanecem. Mudanças geopolíticas, incluindo tarifas comerciais, gargalos de matérias-primas e a evolução da dinâmica de fabricação, particularmente na China, representam riscos que podem aumentar temporariamente os custos.
A fonte solar foi a que mais ganhou competitividade nos últimos anos, com uma queda de 90% no custo nivelado entre 2010 e 2024. Fontes como bioenergia, geotérmica e hidrelétrica, por outro lado, tiveram aumentos de custos.
Fatores estruturais de custo e condições de mercado
Mitigação do risco de financiamento é fundamental para o escalonamento das energias renováveis em mercados maduros e emergentes. Instrumentos como contratos de compra de energia (PPAs) desempenham um papel fundamental no acesso a financiamento acessível, enquanto ambientes políticos inconsistentes e processos de aquisição opacos minam a confiança dos investidores.
Em particular, os custos de integração estão surgindo como uma nova restrição à implantação de energias renováveis. Projetos eólicos e solares sofrem atrasos crescentes devido a gargalos na conexão à rede, lentidão na obtenção de licenças e custos elevados nas cadeias de suprimentos locais. Isso é grave no G20 e em mercados emergentes, onde o investimento na rede precisa acompanhar o aumento da demanda por eletricidade e a expansão das energias renováveis.
Além disso, os custos de financiamento continuam sendo um fator decisivo para determinar a viabilidade dos projetos. Em muitos países em desenvolvimento do Sul Global, altos custos de capital, influenciados pelas condições macroeconômicas e pelos riscos de investimento percebidos, inflacionam significativamente o custo nivelado da eletricidade das energias renováveis.
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