Cemig SIM planeja atingir 1 GWp em usinas de geração compartilhada em Minas Gerais até 2029

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A Cemig SIM, empresa mineira de geração distribuída de energia solar, tem a meta de atingir 1 GWp de capacidade instalada até 2029, com investimentos previstos de R$ 3,5 bilhões em Minas Gerais. Segundo Pablo Rios, CTO da Cemig SIM, a empresa já atende aproximadamente 40.000 unidades consumidoras, com uma capacidade instalada de 330 MWp em mais de 60 municípios mineiros. “No nosso core business, é a democratização da energia solar por assinatura, com foco muito integral em mini GD compartilhada”, afirma Rios.

A estratégia da Cemig SIM se baseia em um modelo híbrido, combinando usinas próprias e arrendadas. Atualmente, 75% da capacidade instalada provém de usinas arrendadas, com a empresa gerenciando um portfólio de mais de 110 usinas.

“A gente arrenda a usina para poder oferecer essa energia a clientes interessados em obter economia na conta de luz com acesso à energia renovável e sustentável”, explica Rios. Apesar do menor lucro em comparação com usinas próprias, essa estratégia “asset light” permite expansão mais rápida. Da meta de 1 GWp, 600 MWp serão de capacidade própria, enquanto os 40% restantes serão mantidos em usinas arrendadas. Assim, a empresa se posiciona como consolidadora em um mercado ainda bastante pulverizado.

Pablo Rios é o CFO da Cemig SIM.

Imagem: Divulgação Cemig SIM

Essa escolha pelo modelo de arrendamento está diretamente ligada ao controle operacional da empresa. Rios explica que, embora a operação técnica das usinas normalmente fique a cargo dos donos dos ativos, a Cemig SIM acompanha de perto a performance de geração para evitar vacância de energia. “Nossa remuneração vem da taxa de gestão. Somos responsáveis pela alocação dos créditos, captação e retenção de clientes, controle de inadimplência e churn [taxa de rotatividade ou cancelamento de clientes]. Essa parte é central para a nossa atuação”, afirma.

A Cemig SIM também atua em fusões e aquisições (M&A), focando em usinas de GDI. “Usina solar é que nem carro alemão, você tem o Fusquinha e a Mercedes V8 biturbo. Os dois são carros alemães, mas atingem velocidades muito diferentes”, compara Rios, destacando a importância da diligência técnica na avaliação de ativos. A empresa descarta, por enquanto, a aquisição de usinas GDII devido à falta de clareza regulatória.

Na prática, esse rigor se traduz em decisões firmes. “Nunca fizemos retrofit em nenhuma usina adquirida. Quando identificamos problemas construtivos ou baixa performance na geração, solicitamos que o vendedor faça as adequações necessárias. Se não forem feitas, simplesmente desistimos da negociação”, conta. A analogia usada por Rios reforça a filosofia da empresa. “É como comprar uma casa com encanamento e estrutura já revisados, você não vai precisar reformar tão cedo”. Além disso, a empresa realiza manutenção preventiva para garantir o desempenho das usinas e prolongar sua vida útil.

Desafios da GD: educação do consumidor é central

Para o executivo, a geração compartilhada enfrenta muitos desafios, e a maioria deles converge em um só ponto: é um excelente produto, ainda pouco conhecido pelos consumidores. Apesar de a geração distribuída representar cerca de 17% a 18% da capacidade instalada na matriz energética brasileira, sua penetração real ainda é muito baixa. “Existe uma demanda muito maior do que a oferta porque as pessoas não conhecem. Quando explicamos, elas até desconfiam: ‘Eu não preciso investir, nem fazer obra, e ainda vou pagar menos?’”, conta. Segundo ele, o setor ainda está educando o consumidor para esse novo papel de deixar de ser apenas um usuário passivo do sistema e se tornar protagonista na escolha do fornecedor de energia.

Rios acredita que, com a abertura do mercado e a evolução da percepção do consumidor, o cliente passará a assumir o protagonismo no sistema, escolhendo de forma mais ativa seu provedor de energia. “Estamos num momento de transição, e o Brasil está vivendo agora o que outros mercados mais maduros já enfrentaram. Vai levar tempo, mas o amadurecimento vem com o tempo e com o trabalho de todo o setor”, completa.

Critérios para expansão regional

A Cemig SIM estuda expansão para outros estados fora de Minas Gerais, mas de forma faseada e cautelosa. O processo leva em conta três pilares principais: o potencial de demanda (número de clientes), a disponibilidade de ativos (usinas) e a atratividade das tarifas das distribuidoras locais. Embora ainda não revelem estados específicos, Pablo indica que a empresa está atenta a oportunidades no Sudeste e no Centro-Oeste, especialmente em regiões impulsionadas pelo agronegócio. “Minas é nosso nascedouro, então faz sentido a expansão começar pelas regiões em volta. Temos olhado para essas duas regiões com bastante atenção”, afirma. A estratégia fora de Minas será baseada em modelos asset light, com arrendamento de ativos em vez de investimentos diretos.

Independência em relação à Cemig Distribuição

Sobre a recorrente alegação de que a Cemig SIM se beneficia de estar no mesmo grupo da Cemig Distribuição, especialmente em situações de pareceres de acesso negados por inversão de fluxo, Pablo é direto: “Trabalhamos de forma totalmente independente”. Ele esclarece que a Cemig SIM atua exclusivamente com mini GD, na modalidade de energia por assinatura. “Nunca atuamos com micro GD, nem temos interesse nisso. Quem quer instalar painel solar na própria casa não é nosso público-alvo”, reforça. Mesmo que um consumidor desista da microgeração por exigências da distribuidora, ele ainda pode escolher entre várias empresas do mercado de energia por assinatura, e a Cemig SIM é apenas uma delas, diz o executivo.

Curtailment, redes defasadas e o papel das baterias

Sobre os desafios do setor com o aumento da intermitência das fontes renováveis, Pablo vê a situação como um “bom problema”. O Brasil tem hoje cerca de 40% da capacidade instalada em fontes intermitentes, como solar e eólica, o que exige um novo modelo de operação do sistema elétrico. Ele acredita que o modelo de DSOs (operadores regionais de distribuição) pode ajudar a equalizar a oferta e a demanda, evitando sobrecarga e quedas de tensão.

Segundo Pablo, esse modelo já é utilizado em mercados desenvolvidos como Europa e Estados Unidos, com agentes responsáveis por integrar fontes renováveis, baterias e redes inteligentes (smart grids), otimizando o balanço energético. “O desafio é fazer o despacho dessas fontes minuto a minuto. A solar gera durante o dia, mas o pico de demanda é à noite. Precisamos de flexibilidade, e isso passa pela adoção de baterias”, avalia.

Expansão com foco em GDI: “GDII não fecha a conta”

A Cemig SIM aposta exclusivamente em usinas dentro do regime de GDI, pois considera a GDII inviável no atual cenário. Além das incertezas regulatórias quanto à remuneração futura, a empresa acredita que ainda há muitas oportunidades de aquisição e consolidação dentro do mercado de GD1, que continua bastante pulverizado. “A gente nem perde tempo olhando para GDII. O mercado de mini GD ainda vai se consolidar e há muitas opções interessantes à disposição”, afirma.

Crescimento gradual e robusto

Desde que Rios assumiu a gestão, há dois anos, a Cemig SIM saiu de uma operação de 90 MWp para 330 MWp. A meta é chegar a 1 GWp até 2029, com um plano de crescimento sólido. “É sempre bom dar um passo de cada vez. Temos muito trabalho para fazer até lá, mas acreditamos que o mercado vai se equilibrar naturalmente.” Para ele, a energia é como comida: todo mundo precisa, e a demanda só tende a crescer, impulsionada pela eletrificação e pela busca por sustentabilidade.

O executivo encerra com uma mensagem de otimismo em relação à convivência entre os diferentes modelos de fornecimento de energia: “Não faz sentido essa ideia de que o Mercado Livre vai matar a GD, que a GD vai matar a distribuidora, e que no fim todo mundo vai morrer. O que vai acontecer é a coexistência de modelos. O consumidor estará no centro da decisão e vai escolher a solução que melhor se adapta ao seu perfil.”

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