Discussão sobre Operadores do Sistema de Distribuição avança e abre oportunidades para geração distribuída

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Diante do crescimento dos Recursos Energéticos Distribuídos (REDs) na rede, o Operador Nacional do Sistema (ONS) vem estudando a futura implementação de um novo modelo de operação, considerando a evolução do papel das distribuidoras como operadoras da rede de distribuição (DSOs, na sigla em inglês para “Distribution System Operators“). Além de sistemas de micro e minigeração, também são considerados recursos energéticos distribuídos usinas do tipo III, como as de autoprodução conectadas na rede básica, que não são despachadas pelo ONS e mecanismos de resposta da demanda.

Em parceria com as consultorias PSR e DAIMON, o Projeto Integração ONS-DSO mapeou as ações técnicas e regulatórias necessárias para aumentar a integração desses recursos na operação do sistema nacional.  “Nosso objetivo é ajudar a construir uma proposta estratégica, viável do ponto de vista técnico-regulatório e considerando os próximos passos no curto, médio e longo prazo. Esse foi um primeiro passo para um processo de reformulação da lógica atual de coordenação do sistema” disse o diretor de TI, Relacionamento com Agentes e Assuntos Regulatórios, Maurício de Souza.

Em evento realizado no Rio de Janeiro, foi sugerida a criação de um sandbox regulatório para simular essa interface entre os DSOs e o ONS.

O projeto identificou três modelos principais em geral utilizados para gerenciar a interação entre Operadores de Sistemas de Transmissão (OTSs, como o ONS), e Operadores de Sistemas de Distribuição.

Em um primeiro modelo, o ONS teria acesso a ativos individuais dentro da rede do ODS, incluindo cada MMGD e usina tipo III, e os incorporando ao planejamento da operação do sistema. Num segundo modelo, o ONS não interage com a rede do ODS em um nível detalhado, observando apenas a fronteira, com o ODS mantendo o controle total dos ativos distribuídos. Por fim, há os modelos híbridos, comuns na Europa, que combinam aspectos dos dois primeiros modelos, exigindo um mecanismo de interface para comunicação entre estruturas e mecanismos preexistentes tanto no OTS quanto no ODS.

“Havia muita clareza, nas nossas discussões com o ONS, de que tinha que ser o modelo 3 [híbrido]. O ONS não poderia entrar no nível de detalhe dos ativos dentro da distribuidora, então a gente precisaria desenhar uma solução que fizesse sentido, usando um pouco dessas experiências”, disse o diretor de Relações Internacionais da PSR, Gabriel Cunha.

Ao mencionar os exemplos internacionais, o diretor da consultoria destacou que mesmo nos países que já têm essa interface entre operadores de rede de transmissão e de distribuição, as experiências são com projetos piloto, que dialogam com iniciativas que o Brasil já vem estudando.

“Na prática, os REDs em geral tem algum acesso ao mercado spot. Seria participar do Dessem, da formação de preço, de alguma forma”, diz Cunha.  “Claro que há algumas ressalvas, normalmente os [contratos] legados são mais difíceis de você tratar dessa forma. Muitas vezes, quem participa do mercado spot está mais voltado para a resposta da demanda, baterias, aqueles recursos que a gente sabe que são mais flexíveis mesmo.”

Novos serviços em conjunto com BESS e inversor formador de rede

Em evento virtual com jornalistas na última semana, o vice-presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Felipe Café, comentou sobre o estudo. “Esse operador do sistema de distribuição vai fazer o mesmo que a ONS faz com os recursos de geração centralizada: administrar e falar ‘você pode me ajudar nesse sentido e eu vou te remunerar dessa forma’. É só uma questão de a gente incorporar e entender como a relação com a ONS e os DSOs vai funcionar”, disse. “Do ponto de vista técnico e tecnológico, a disponibilização do grid forming, a disponibilização de baterias a custos específicos e com tecnologias variadas, tudo isso combinado numa rede muito bem orquestrada e muito bem monitorada, vai permitir uma melhor observação e controle da geração distribuída na ótica da ONS e tecnologicamente estamos prontos”.

O vice-presidente da ABGD fez uma referência aos inversores de formação de rede em conjunto com as baterias para melhorar a estabilidade da rede e maximizar a capacidade do sistema de integração das renováveis.
“O inversor de hoje é uma fonte de corrente, ou seja, ele gera energia e segue a característica da rede. Já o inversor formador de rede, cria uma rede mais equilibrada. No caso de uma perturbação do setor elétrico na rede de transmissão, ele vai ajudar com que a energia solar não contribua com as falhas. Ao invés de apenas desligar, ele contribui para que o problema não se torne um apagão”, comenta. “É uma próxima etapa dos serviços que o prosumidor e as usinas e as empresas que geram a própria energia [podem prestar ao sistema], além dos valores inatos da geração distribuída, o valor que é contribuir para controle de frequência, dos níveis de tensão”, avalia Café.

Ele destaca que uma sinalização de tarifas por valor horário também faz parte dessa próxima etapa da interação entre a geração própria de energia e o sistema elétrico.

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