Ser mãe e profissional na área da energia solar é um desafio diário, mas também uma força transformadora. Em um setor predominantemente masculino, as mulheres que conciliam maternidade e carreira revelam habilidades valiosas como resiliência, empatia, organização e visão de longo prazo — competências essenciais para um setor em transição.
A maternidade ensina a priorizar, liderar com sensibilidade e buscar soluções criativas sob pressão. Porém, também escancara barreiras estruturais ainda presentes no ambiente profissional, como a ausência de políticas de flexibilidade, a desigualdade de oportunidades e o preconceito velado que associa a maternidade à menor produtividade.
Para dar visibilidade a essas vivências, a Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (Rede MESol) reuniu os depoimentos de três voluntárias que atuam no setor e são mães. Ela compartilharam, com sensibilidade e coragem, os desafios e aprendizados de equilibrar a criação dos filhos com a construção de uma carreira na energia solar.
Marcela Queiroz, mãe do Martin, engenheira eletricista e diretora comercial de uma empresa de distribuição de equipamentos de energia solar.
“Ser mãe, em um mercado como o de energia solar, é viver um caminho de superações externas e internas… Todos os dias. É lidar com dúvidas sobre a sua capacidade e competência, o tempo todo!
Sempre tive medo de não ser suficiente. E, por muito tempo, respondi a esse medo me posicionando como a profissional que resolve tudo. Aquela que sempre tem tempo para mais uma demanda, mais um projeto, mais uma entrega. Era uma maneira de me provar, de conquistar espaço e de mostrar que eu podia estar ali.
Mas a maternidade mudou tudo! E ainda bem! Quando descobri a gravidez, tive um medo quase irracional, mesmo tendo uma estabilidade que poucas pessoas podem contar. Agora imagina quem não tem isso? Quantas e quantas mulheres vivem essa mudança sem qualquer apoio?
Hoje, minha atuação vai além dos números e das estratégias de negócio ou comerciais. Eu trabalho para abrir espaço para outras mulheres. Para que mães se sintam acolhidas, compreendidas, respeitadas e acima de tudo, validadas. Ser mãe dentro do setor de energia solar pode ser a alavanca necessária para inovação, inclusão e transformação que são tão necessárias num setor que tem tanto a crescer.”
Marília Brilhante, mãe do Dominic e da Giovanna, engenheira de energias e diretora executiva de Energo Soluções em Energia.
“Ser mãe no setor de Energia Solar é um exercício diário de equilíbrio e coragem. Em 2021, em plena pandemia da Covid-19, nasceu meu filho Dominic — um marco que coincidiu com um momento decisivo da minha carreira. Já atuava há anos com energia limpa e a maternidade chegou como um divisor de águas: me mostrou que era possível crescer profissionalmente sem abrir mão da minha presença como mãe.
Minha formação como engenheira e minha dedicação contínua à educação sempre foram pilares da minha trajetória. Ser mãe me motivou a buscar ainda mais excelência, não só por mim, mas por ele. Hoje, também sou mãe da Giovanna, minha enteada, e essa nova configuração familiar ampliou meu senso de responsabilidade e empatia.
No setor de energia solar, ainda marcado por desafios de equidade de gênero, ser mãe me tornou uma profissional mais estratégica, sensível e resiliente. Acredito que precisamos naturalizar a presença de mães em posições de liderança, valorizar suas jornadas e reconhecer que o cuidado e a competência podem caminhar juntos na construção de um futuro mais sustentável.”
Saunaray Barra, mãe da Manuella, engenheira eletricista, responsável técnica pela área de engenharia e energia do Senai/FIEMG.
“Minha trajetória profissional começou cedo, aos 16 anos, quando fui aprovada em um concurso da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais para o cargo de Eletricista de Rede Aérea de Distribuição. Vinda de uma família de classe média alta do interior de Minas,
a escolha por uma profissão predominantemente masculina parecia, no mínimo, inusitada. Mas para mim, foi um desafio inspirador. Apaixonei-me pela área de energia e, aos 21 anos, já era engenheira eletricista formada, abandonando o antigo plano A: a carreira em Medicina.
Mudei-me para Belo Horizonte com o objetivo de cursar o mestrado e iniciei minha jornada na carreira acadêmica. Porém, uma oportunidade no setor industrial mudou novamente meus rumos. No auge da minha ascensão profissional, aos 34 anos, enfrentei uma reviravolta: descobri a gravidez, passei por uma separação e quase desisti da carreira.
Quando deixei minha filha no berçário aos seis meses, levei junto a carteira de trabalho, decidida a parar. Mas, graças ao apoio do meu líder e à minha paixão pela profissão, continuei.
Hoje, com 30 anos de carreira, sou Responsável Técnica pela área de Engenharia e Energia em uma empresa que atende toda a Indústria Mineira. Minha filha, agora com 12 anos, entende e compartilha do meu amor pela profissão. Sou profundamente grata por cada etapa dessa jornada.”
Acreditamos que ser mãe não é um obstáculo, mas um diferencial e por isso precisamos de políticas de apoio às mães para que todas as mulheres que decidam por este caminho não sofram as mesmas adversidades enfrentadas nestes relatos e outras que aqui não foram mencionadas. Precisamos “normalizar” a maternidade em todos os lugares e não continuar com ela sendo o maior motivo de desistência do nosso setor, apoiar essa agenda é iluminar o caminho para uma energia verdadeiramente limpa, justa e representativa — como legado para os filhos que inspiram e motivam nossas jornadas.
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