O diretor regional da desenvolvedora e fabricante chinesa DAH Solar, Felipe Santos, comentou os principais movimentos da empresa no mercado brasileiro e latino-americano, além de analisar o cenário atual da cadeia fotovoltaica, as tendências tecnológicas e os impactos das mudanças regulatórias no país, em entrevista exclusiva à pv magazine Brasil para o especial sobre módulos fotovoltaicos.
Para o executivo, a forte demanda interna por energia solar na China não está, por enquanto, comprometendo a capacidade de fornecimento dos fabricantes para o mercado internacional, mas já pressiona os preços. “Atualmente não está havendo grande impacto em termos de capacidade, pois a indústria tem mais capacidade do que demanda. Contudo, essa demanda crescente tem pressionado os preços para cima”, afirmou.
Essa alta nos preços tem origem no controle de cotas de produção imposto pelo governo chinês, somado à maior atratividade de projetos no mercado doméstico, agora liberalizado. “Houve uma alteração regulatória na China em que a tarifa de energia passou a ser controlada pelo mercado. Isso aumentou a atratividade dos projetos por lá e elevou a demanda local”, explicou Santos.

Imagem: DAH Solar
Presença consolidada e foco em geração distribuída
Presente no Brasil desde 2017, a DAH Solar já conquistou uma posição relevante no mercado de geração distribuída (GD). Segundo o executivo, a empresa ocupa hoje a quinta ou sexta colocação em capacidade instalada acumulada nesse segmento. Em 2023, a empresa embarcou cerca de 1,3 GW em módulos para o Brasil, posicionando-se entre a sexta e a sétima colocação no ranking de importação.
“O mercado brasileiro é o principal mercado da DAH fora da China. Aproximadamente 30% de tudo o que a gente produz é exportado para o Brasil”, destacou.
A previsão da empresa é que os preços dos módulos Tier 1 no Brasil, atualmente entre US$ 0,09 e US$ 0,10 por watt-pico, continuem subindo de forma gradual. “Eles já vêm subindo desde o início do ano e a tendência é continuar. Não de forma abrupta, como já vimos no passado, mas gradualmente”, aponta.
O cenário se mantém pressionado pelo controle da capacidade produtiva e pela falta de expansão nas linhas de produção, sobretudo diante da transição tecnológica. “As linhas mais antigas vão se tornando obsoletas e novas capacidades estão sendo bastante controladas. Acreditamos que esse cenário será equilibrado no médio prazo.”
TOPCon segue dominante, mas HJT ganha espaço por distorção tributária
Apesar da atenção do setor para tecnologias emergentes como HJT e Back Contact, a DAH Solar aposta na continuidade da tecnologia TOPCon como dominante em 2025. “Todas as grandes empresas da indústria mainstream estão apostando fortemente na tecnologia TOPCon”, informou o diretor da empresa.
No entanto, a tecnologia HJT tem ganhado espaço no mercado brasileiro devido a uma distorção causada por incentivos fiscais. “Neste momento, a HJT tem sido a mais demandada por conta da diferença na alíquota do imposto de importação. Não é o melhor produto para aplicações em GD, mas o benefício fiscal tornou o produto mais competitivo.”
A DAH Solar estuda a modernização de suas linhas para fabricar módulos HJT, mas sem previsão de investir na fabricação de células dessa tecnologia. “Ainda não está claro se essa será a próxima tecnologia mainstream.”

Imagem: DAH Solar
Entre as soluções tecnológicas já disponíveis no Brasil, Felipe destaca os módulos com tecnologia zero busbar como a principal aposta da DAH no momento. “Eles oferecem maior eficiência e melhor equilíbrio de custo, pois não utilizam os barramentos tradicionais, o que representa uma vantagem competitiva para o mercado de GD.”
Regulação e tributos preocupam o setor
A elevação da alíquota de importação de módulos fotovoltaicos é um ponto de preocupação para a empresa. Segundo o diretor da DAH Solar, o aumento abrupto no fim de 2023 impactou negativamente a viabilidade de muitos projetos.
“Essa medida foi um retrocesso para o setor. Muitos projetos perderam a viabilidade econômica e a tendência é que o cenário piore, já que os preços dos módulos estão subindo e há essa carga tributária adicional”, critica. A empresa defende que o imposto retorne aos patamares anteriores, entre 9% e 10%, e que o incentivo à indústria nacional se concentre em medidas estruturais, como a desoneração de insumos e estímulo à produção local.
Expansão da filial brasileira é prioridade
Apesar das incertezas no cenário regulatório, a DAH mantém seus planos de crescimento no país. “Estamos ampliando nossa filial brasileira, com uma nova sede, equipe estruturada e um laboratório para suporte técnico, pós-venda e atendimento ao cliente”, revelou Santos. A nova estrutura deve, inclusive, fortalecer o atendimento a outros mercados da América Latina.
No momento, a DAH Solar não está envolvida em novos projetos de grande porte no Brasil, focando sua atuação em mercados como Chile e México. “Dado o cenário atual do segmento de geração centralizada no Brasil, estamos direcionando os grandes projetos para outros países da região”, explicou.
Ainda assim, a empresa segue atenta a oportunidades no Brasil, especialmente no segmento de geração distribuída, onde mantém presença sólida por meio de distribuidores.
Armazenamento de energia: a próxima fronteira
A aposta da DAH para os próximos anos está na integração de soluções com armazenamento. A empresa deve lançar na Intersolar South America um sistema completo, que inclui módulo, microinversor e bateria.
“Acreditamos que essa é a próxima onda de amadurecimento do mercado solar no Brasil. É uma excelente oportunidade para os instaladores revisitarem seus clientes com novas soluções. Quem não se adaptar, vai sair do mercado”, concluiu Felipe Santos.
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