Inverno mais quente pode compensar índices menores de irradiação

Share

O inverno, que começa no dia 20 de junho, provavelmente será ensolarado e mais quente do que a média histórica na maior parte do Brasil. De forma geral, as temperaturas poderão ficar até 2°C acima da média. Porém, no interior das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, em grande parte do Centro-Oeste e em áreas da região Norte, não se descartam desvios ainda mais significativos.

Embora o inverno geralmente apresente poucas chuvas, a estação tende a ser mais seca do que o normal, especialmente na região centro-sul do país. O El Niño experimenta seus últimos dias no Oceano Pacífico, que deverá ficar neutro na maior parte do inverno, reduzindo sua influência nas condições climáticas globais. Nesse contexto, o Oceano Atlântico deverá protagonizar a dinâmica do clima na estação, contribuindo para a manutenção de frentes frias mais concentradas no extremo sul da região Sul. As frentes que conseguirem chegar até o Sudeste deverão atuar de forma mais significativa na faixa litorânea, entre São Paulo e Espírito Santo, sem impacto significativo no interior do país.

Nessa estação, o Sol está mais próximo do Trópico de Câncer, no Hemisfério Norte. A irradiação solar é a mais baixa do ano, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Mas o tempo seco e o céu limpo devem favorecer a geração de energia solar, principalmente em Minas Gerais e em São Paulo, que detêm a maior capacidade instalada do país (de 8 GW e 4,5 GW, respectivamente, somando-se geração distribuída e centralizada), compensando parcialmente os índices menores de irradiação solar desta época do ano.

A exceção é o extremo sul do país, próximo à fronteira com o Uruguai, que pode registrar um ligeiro aumento no padrão de chuvas, devido à dificuldade de avanço das frentes frias, considerando-se as condições mais aquecidas das áreas setentrionais. O centro-norte do Rio Grande do Sul, entretanto, terá menos chuva e pouca nebulosidade, com boas condições para a energia fotovoltaica. O estado, que ainda se recupera dos impactos dos eventos extremos registrados em maio, tem potência instalada de aproximadamente 2,8 GW e ocupa a terceira posição no ranking nacional de capacidade de geração distribuída de energia solar, embora os projetos de geração centralizada ainda sejam poucos.

O mês de maio deste ano foi o mais chuvoso dos últimos 80 anos no Rio Grande do Sul, e apresentou excesso de nebulosidade, mesmo em dias de tempo firme. A persistência de dias nublados levou a uma anomalia negativa de irradiação de aproximadamente 0,5 kWh/m²/dia, cerca de 22% abaixo da média, de acordo com o histórico mensal de irradiação 2002-2022 da Tempo OK. O padrão de chuvas na região parece estar mudando: na última década, o Sul apresentou um aumento de cerca de 30% no acumulado médio anual de precipitação, segundo estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Entre 2011 e 2020, o índice subiu de 1.500 mm para 1.660 mm, indicando maior risco de eventos extremos devido à intensificação das chuvas.

Neste inverno, porém, a tendência é que as frentes frias passem com menor frequência pelo Rio Grande do Sul, algo que favorece o tempo firme. Com a redução de nebulosidade a irradiação solar deve ficar acima do esperado para o período.

Na primavera, o Sol começa a se mover novamente em direção ao Trópico de Capricórnio. A irradiação solar aumenta gradualmente, até chegar a seu ápice no verão. Os dias passam a ficar mais longos e as noites mais curtas. O período de agosto a novembro é o mais favorável à geração de energia solar no Brasil, já que a luz do Sol é abundante e as chuvas ainda não são tão intensas quanto em dezembro, janeiro e fevereiro.

Expectativa de La Niña e período úmido

A Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA) atualizou a probabilidade de ocorrência do La Niña no decorrer dos próximos meses. De acordo com o último relatório, o fenômeno pode se desenvolver entre junho, julho e agosto, com 49% de chance. A probabilidade aumenta entre o trimestre julho, agosto e setembro, com 69% de chance. Caso se efetive, ele pode prolongar o período seco, resultando em atraso na chegada das chuvas.

Apesar de ainda ser bastante incerto com relação à intensidade e à evolução do fenômeno, existe uma grande chance de que ocorra La Niña no início da primavera. Seus efeitos típicos aumentam o potencial de chuvas no Norte do Brasil e favorecem um padrão de tempo mais seco no Sul, assim como temperaturas amenas no Sudeste. Porém, no caso de um La Niña fraco ao longo do período úmido (outubro a março), as chuvas poderão ser menos intensas e pouco organizadas no centro-norte do país, além de haver maior dependência das condições do Atlântico Tropical, que é o principal fornecedor de umidade para as chuvas nesta época do ano. Em contrapartida, o extremo sul do país poderá apresentar um padrão menos seco – ou seja, continuar registrando maiores índices de precipitação e nebulosidade.

Concomitantemente, as temperaturas poderão ser mais elevadas no interior das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte, devido à menor cobertura de nuvens densas e persistentes em uma época do ano em que a incidência de radiação solar na superfície é maior. Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e no interior do Nordeste, a tendência de nuvens localizadas, pouco densas e passageiras poderá contribuir para uma maior quantidade de irradiação solar, o que favorece a geração fotovoltaica neste período.

Caetano Mancini possui mais de 15 anos de experiência em análise de dados ambientais. É líder em serviços meteorológicos para Infraestrutura na Tempo OK e também responde pela área de comunicação da empresa. Tem passagens pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Alagoas, pelo Centro de Operações Rio (COR), no Rio de Janeiro, e pelo CPTEC/INPE, sempre atuando como meteorologista. Mancini é formado em Meteorologia (UFAL) e Engenharia de Produção (UVA), com mestrado em Meteorologia pela UFRJ. Também é especialista de Marketing Digital (ESPM), com atuação voltada à divulgação da Ciência do Clima.

Os pontos de vista e opiniões expressos neste artigo são dos próprios autores, e não refletem necessariamente os defendidos pela pv magazine.

Este conteúdo é protegido por direitos autorais e não pode ser reutilizado. Se você deseja cooperar conosco e gostaria de reutilizar parte de nosso conteúdo, por favor entre em contato com: editors@pv-magazine.com.

Conteúdo popular

Estudantes paranaenses vencem olimpíada com projeto de limpeza de rios urbanos com energia solar
17 setembro 2025 Quatro alunas da 2ª série do Ensino Médio desenvolveram um protótipo para reduzir a poluição hídrica por meio da limpeza de rios urbanos utilizando ec...